O GLOBO
Em entrevista ao podcast
"Dois+Um", emedebista também afirmou que eleitores estavam esperando
o 'mínimo de propostas' do petista, por isso o segundo turno
Horas depois de declarar apoio ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno, a senadora Simone
Tebet (MDB-MS), terceira colocada na disputa, afirmou,
no podcast "Dois+Um", do GLOBO, que o petista não entendeu que o
eleitor estava esperando dele o "mínimo de propostas" para
"temas básicos" como fome, miséria, desemprego, pauta econômica e
social e segurança pública, e por isso "decidiu levar a eleição para o
segundo turno". Tebet também foi bem direta sobre a decisão: "Não
estou pensando em 2026, nem em cargos."
Na entrevista à CBN, a emedebista disse que
a equipe da campanha de Lula presente no almoço de hoje na casa da ex-prefeita
Marta Suplicy reconheceu que é preciso dar um sinal mais claro em relação à
pauta econômica e se "posicionar mais ao centro". A senadora disse
ainda que não deseja cargos ou ministérios e que sua entrada na campanha
depende do quanto Lula está disposto a incorporar o projeto de país que ela
afirma sonhar.
Por quais razões a senhora tomou a decisão de apoiar Lula?
Pelo meu histórico, pela minha vida
pública. Primeiro que não cabe a neutralidade num momento tão importante da
História do Brasil. E, segundo, que não há escolha: reconheço (em Lula) um
democrata que serve à Constituição Federal e respeita a Constituição. E não
encontro no atual presidente da República alguém que eu entenda que vá cumprir
a Constituição e defender os valores democráticos. Não há opção a não ser ter
coragem. Não cabe voto branco neste momento. Não vale voto nulo. O que vale é
escolhermos de acordo com a nossa consciência. Minha consciência de brasileira
e a minha razão de democrata me trazem a apoiar e declarar meu voto ao atual
candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Como a senhora vê os apoios
que foram quase incondicionais a Bolsonaro?
Os apoios que são dados são do jogo do
campo democrático e da política. Só, lamentavelmente, quero dizer que eu não
acredito que um lobo se transforme em cordeiro da noite para o dia. Eu conheci
o presidente como senadora nesses três anos e meio. Eu vi o que foi feito e o
que deixou de ser feito na CPI (da Covid). Lamentavelmente, quantos perderam as
vidas porque ele não acreditou na pandemia, negou vacina no braço do povo
brasileiro e atrasou a compra dessas vacinas em 45 dias? Só por isso já me
impediria (de declarar voto em Bolsonaro) e acho que impede os grandes homens
públicos do Brasil a aceitarem, de novo, apostar as suas fichas em nome de um
candidato que flerta com o autoritarismo, não respeita as instituições
democráticas e virou as costas para o povo brasileiro no momento em que o povo
brasileiro mais precisava. Por saber de tantos retrocessos, saber que o que
está em jogo são os avanços que a democracia tem condições de garantir ao povo
brasileiro no futuro, que fiz a minha opção. É uma opção pela democracia, pela
Constituição e por políticas públicas. Acredito que estou do lado certo da
história e isso me basta.
O apoio da senhora consiste
numa declaração de voto ou num compromisso de participação ativa na campanha?
O meu voto já está dado. Eu fiz um
manifesto ao povo brasileiro dizendo que incondicionalmente, sem qualquer
condição, o meu voto é pela democracia e pela Constituição. Eu não fiz um voto
de adesão, eu fiz um voto de projetos para o país. Apresentei ao ex-presidente
Lula, atual candidato, cinco propostas. Agora vão ser analisadas pela equipe
econômica e do programa de governo. O meu voto o ex-presidente Lula já tem. Se
vamos entrar na campanha, depende do quanto ele está disposto a incorporar um
projeto de país que eu sonho. A bola está com a equipe de campanha do atual
candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
A senhora coloca a
necessidade de uma âncora fiscal. Encontrou acolhida na proposta?
É preciso uma ancoragem fiscal. Qual vai
ser? Não me interessa. Não me preocupa se vai ser teto de gastos, se vai ser a
meta de superávit. O meu projeto é de país. Não estou aqui para impor nada, nem
a minha vontade, até porque serei uma crítica construtiva do futuro governo se
o presidente Lula ganhar as eleições. Quis deixar o mais amplo possível.
A senhora, uma vez acolhido
esse conjunto de propostas, consideraria a hipótese de compor num eventual
ministério do governo Lula?
A minha adesão é por projeto de país e eu
quero estar no Brasil, servindo ao Brasil, nos próximos quatro anos onde quer
que eu seja necessária. Eu não quero cargos, eu não quero ministério, quero ter
liberdade para que depois, com uma ampla reflexão, as pessoas que me ajudaram
possam dizer: "Simone, o melhor caminho é aqui." Eu não sei qual é o papel,
mas sei que tenho um papel hoje importante. Quero servir ao Brasil, não preciso
de cargos, graças a Deus eu tenho profissão, então posso me dar ao luxo de
andar o Brasil sem precisar de ministério ou cargo para precisar fazer aquilo
que precisa ser feito. Há um Brasil a ser reconstruído e há um povo a ser
novamente reunificado. Quero poder só fazer parte desse processo.
No almoço que a senhora e
esses outros líderes tiveram na casa da ex-ministra e ex-senadora Marta
Suplicy, ela ergueu um brinde e depois disse ao ex-presidente Lula: "Você
agora não é mais o candidato do PT, da coligação. Você é candidato do Brasil”.
A senhora entendeu isso como um recado pela necessidade de ampliar o palanque,
as propostas, trazer mais clareza no que se pretende fazer? Isso é necessário?
Ele (Lula) não entendeu que o eleitor
estava esperando dele o mínimo de propostas. O que fazer no futuro para temas
básicos, como fome, miséria, desemprego, pauta econômica, educação, saúde,
segurança pública. Faltaram pequenos pontos a serem colocados. Quando o
ex-presidente Lula não apresentou, a população falou: preciso de mais tempo,
então vou levar essa eleição para o segundo turno. Foi aí que nós desidratamos,
eu e Ciro. Foi aí que houve uma movimentação do eleitor até acho que a favor do
atual presidente e o jogo não acabou no primeiro tempo, ele foi para o segundo
tempo, e agora é uma nova eleição. Então, sim, acho que é isso. Vi da equipe
que estava ali (no almoço) um reconhecimento de que agora eles precisam
apresentar propostas, eles estão prontos para apresentar, e esperou que estejam
prontos para receber as nossas sugestões também.
Na conversa, houve algum
aceno, alguma projeção de apresentação de um plano econômico, voltado para a
classe média que está massacrada no Brasil?
Houve, sim, uma sinalização de que eles
precisam sinalizar em relação à pauta econômica e à pauta de políticas públicas
alguma coisa mais objetiva. A sensação que tive quando saí ali é que há, sim, o
entendimento de que é preciso se posicionar mais ao centro e que o mundo mudou,
a economia mudou, e é preciso evoluir em relação a esse sentido. Não cheguei a
pregar uma economia liberal, como eu defendo, é óbvio, mas falei da importância
da livre iniciativa, de se valorizar o agronegócio, ao mesmo tempo o meio
ambiente, ou seja, um desenvolvimento sustentável.
A senhora pensa numa
candidatura a presidente novamente, em 2026?
Eu aprendi na minha vida pública que a
gente não vai para as eleições apenas para vencer, embora essa seja a
prioridade absoluta. Mas para apresentar projetos, disseminar ideias, iluminar
caminhos, para plantar a boa semente para uma colheita coletiva, foi o que
coloquei no meu manifesto que eu mesma redigi nas 48 horas que tive sem dormir
pela primeira vez desde que começou a campanha. A minha campanha foi muito
tranquila, mas as últimas 48 horas foram muito difíceis, porque eu sabia e sei
o que estava e está em jogo, e eu estou preparada para essa perda do capital
político, se ela vier, porque é a minha verdade, a minha certeza. A democracia
é algo muito maior do que cada um de nós que está em jogo. Diante de tudo isso,
eu estou pronta para defender o Brasil, eu não estou pensando em 2026, nem em
cargos. Acho que temos um longo caminho antes, eu quero servir ao Brasil. Há um
Brasil para ser reconstruído, eu não sei onde eu me encaixo nisso, vocês me
ajudem a me fazer útil dentro desse processo..
Dá para fazer um governo Lula
com orçamento secreto e essa bancada ideológica que foi eleita? Como desarmar
essas duas bombas-relógios?
Conheço bem o Congresso. Dá exatamente,
pois dentro dessas bancadas fisiológicas nós temos os partidos de Centro que
estão prontos, para numa análise crítica, num apoiamento crítico, avançar e dar
os votos necessários para as reformas estruturantes e bons projetos do próximo
presidente da República. O Congresso tem essa consciência, a responsabilidade,
porque nós estamos no fundo do poço. Precisou ir para o fundo do poço para a
gente agora tentar emergir com projeto que gere emprego e renda, garanta a
dignidade, tire o Brasil do mapa da fome e miséria.
Senadora, sem falsa
equivalência, no começo da campanha a senhora fez críticas duras ao candidato
Lula, muitas vezes centradas em corrupção, que houve naquele período. Isso foi
tratado na conversa? É um compromisso?
Sim. E, colocando na balança, corrupção por
corrupção, a hora que abrirem a caixa preta do orçamento secreto, ela vai se
mostrar infinitamente maior do que o petrolão, o que não isenta. Corrupção é
corrupção. Quem rouba um, rouba 1 milhão. As duas coisas têm que ser
rechaçadas. E eu coloquei (como compromisso) o ministério competente e ético.
Eu deixei muito claro essa questão.
Acho que falta ao PT um
mea-culpa de reconhecer que no seu governo houve corrupção?
Nesse ponto eu fui dura. E vou repetir,
triste Brasil que tem que escolher entre dois grandes escândalos: escândalo do
mensalão e do petrolão do passado, (ou) o escândalo do “vacinaço”, da tentativa
de superfaturar vacinas, do “ônibuzaço” no Ministério da Educação, e do
orçamento secreto desse governo. Dizer que esse governo não tem indícios de
corrupção? Por favor, é desconhecer o dia a dia da política brasileira e não
ter capacidade de fazer a leitura certa através dos grandes veículos de
comunicação. Mas isso a história dirá.
A senhora acha que os 51
milhões de votos dados a Bolsonaro mostram que o país normalizou o que
aconteceu na pandemia?
Os retrocessos são tamanhos que o que mais me assusta como cidadã, como brasileira e como cristã, é o quanto o brasileiro conseguiu dos últimos três anos e meio normalizar os absurdos. Como a gente chegou ao ponto de normalizar tragédias, retrocessos. Ver uma criança na rua pedindo um prato de comida e virar o rosto, ver um negro ser espancado e achar que isso é natural. Normalizar as grosserias. Como nós podemos ir às nossas igrejas, fazer a leitura do evangelho e não conseguir pregar o evangelho na rua, nos nossos lares, nos nossos ambientes de trabalho?
O presidente fez muitas
críticas à CPI da Covid, em que a senhora foi protagonista. Eu queria que a
senhora fizesse um balanço dos efeitos da CPI, considerando que ela não
prosperou em termos de denúncias formais, em grande parte devido ao
procurador-geral da República. Qual o balanço que se faz agora?
Não com meu voto na recondução. Eu votei na
primeira vez, dei um voto de confiança. E, na segunda vez, eu fui até
indelicada e sequer o recebi no meu gabinete, porque já tinha visto nele traços
de alguém tendencioso que estava ali para servir o presidente e não para servir
como órgão de fiscalização e controle ao povo brasileiro.
A CPI cumpriu duas grandes missões: ajudou
a colocar vacina no braço do povo brasileiro, portanto, salvar vidas; e,
depois, como um grande inquérito concluiu que há denúncias gravíssimas de
tentativa de corrupção. Isso a história vai contar e vai ficar claro a partir
de primeiro de janeiro do ano que vem se o povo brasileiro escolher como
presidente Lula, porque a partir daí nós teremos um outro procurador-geral da
República, e as coisas se tornarão públicas.
Senadora, os apoios me
parecem ter dois tipos: os apoios como o da senhora e o do PDT, que condicionam
esse apoio a alguma assumpção de compromissos; e os apoios recebidos pelo
Bolsonaro mais incondicionais, apoios que tem uma máquina pública por trás. Por
que de Bolsonaro não se cobra esses compromissos? E o que essas máquinas podem
fazer de diferença?
Sinceramente, acho que não vai fazer
diferença nenhuma. O eleitor agora vai colocar a mão na consciência e decidir
de acordo com o que ele acha que é mais importante para sua vida e para o
Brasil. Ele está atento.O povo brasileiro sabe votar. Vota naquele menos pior
dentro das circunstâncias. E ele não é tutelado. O voto é dele. É claro que um
apoio meu pode fazer um eleitor meu refletir. Mas ninguém é dono do voto do
eleitor.
E as pessoas estão colocando na balança: o porquê alguém está dando apoio e colocando propostas, e o outro está apoiando simplesmente por apoiar. O que está por trás? Está por trás discussão de cargos, de ministérios, de manutenção de benesses, de orçamento secreto? O eleitor está atento.
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