Valor Econômico
FHC alertou para chance de vitória de
Bolsonaro em dezembro de 2017
Em novembro de 2017, durante jantar com
empresários em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso levantou
hipótese que deixou a maioria dos convivas boquiaberta. “Olha, o deputado
[Jair] Bolsonaro está chegando e, na minha opinião, pode surpreender e vencer a
eleição presidencial do ano que vem”, profetizou FHC.
Naquele momento, para a maioria absoluta dos observadores da cena política nacional, Bolsonaro não figurava nem como azarão para a disputa de 2018. Como um deputado federal desconhecido fora do Rio de Janeiro e de Brasília, cujo discurso, ao longo de sete mandatos (quase três décadas), sempre foi uma espécie de samba de uma nota só - a defesa intransigente dos salários e vantagens da corporação militar e dos funcionários públicos em geral - poderia aspirar ao cargo de presidente da República?
Fernando Henrique explicou aos empresários
o contexto de seu prognóstico. Desde a eleição de 1994, vencida por ele, FHC,
PSDB e PT se alternaram no poder. “Pai” do Plano Real, o programa econômico
que, finalmente, deu cabo da hiperinflação no Brasil, após quase uma década de
fracassos nas tentativas de estabilizar os preços, o ex-ministro da Fazenda do
governo Itamar Franco (1992-1994) venceu no primeiro turno a eleição
presidencial realizada três meses após o lançamento da nova moeda.
Em 1998, novamente, FHC saiu vitorioso do
pleito no primeiro turno - desde a adoção do instituto da eleição em dois
turnos, ele foi o único a ser eleito na primeira rodada de votação. Em 2002,
depois de chegar em segundo lugar em três eleições, Luiz Inácio Lula da Silva
conseguiu superar preconceitos que havia contra ele tanto entre os mais ricos
quanto na população de baixa renda.
Lula surpreendeu o PT e os seus
tradicionais desafetos na política e na sociedade ao deixar de lado, no
primeiro mandato (2003-2006) o receituário econômico que professou desde a fundação
do PT, no início da década de 1980. O petista manteve o arcabouço de política
econômica herdado da gestão anterior, aperfeiçoou aspectos relevantes do tripé
que combinava geração de superávits primários (conceito que exclui a despesa
com juros da dívida pública) com o regime de metas para a inflação, adotado em
meados de 1999, e o sistema de câmbio flutuante.
Lula respeitou contratos, antecipou a
quitação da dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e desistiu
solenemente da ideia defendida por seu partido, desde sempre, de auditar e
renegociar os haveres da União com o mercado. Neste tema, foi mais
“conservador” do que FHC, afinal, contraiu os gastos de forma brutal para
elevar o superávit primário e, assim, reduzir de forma significativa o tamanho
da dívida pública.
Não há receita mais liberal do que a
abraçada por Lula para se cumprir o principal objetivo de toda política
econômica, que é reduzir o custo de financiamento do Estado, medida que, ao fim
e ao cabo, libera a poupança privada para o que realmente interessa, ou seja, o
financiamento da atividade econômica - libera também a poupança pública para
realizar o seu nobre de papel de oferecer serviços de saúde e educação gratuita
e de qualidade para crianças e adolescentes deste país rico, de maioria
populacional pobre.
Os 16 anos de FHC e Lula deram ao Brasil a
ideia de que a alternância de poder é algo civilizado e salutar numa
democracia. No fundo, a polarização existente ia da centro-esquerda à
centro-direita porque, para governar, tanto o PSDB de FHC quanto o PT de Lula
foram obrigados a fazer alianças inimagináveis no passado dos dois partidos,
ambos forjados na recusa de seus principais líderes em ter aliados metidos em
corrupção.
É impossível governar com frentes
partidárias, que, no caso do segundo mandato de Lula (2007-2010), reuniu 14
legendas, às quais são oferecidos cargos públicos num sem-número de órgãos e
empresas do Estado, sem que ocorram dezenas, centenas de malfeitorias
descobertas e reveladas pelas autoridades competentes da polícia, do Ministério
Público e da Justiça, como se fossem “espetáculos da corrupção”, na acepção do
brilhante advogado Walfrido Warde pelas autoridades competentes. A bandeira
anticorrupção que PSDB e PT hastearam por um bom par de anos foi destruída por
ventos implacáveis durante o exercício do poder. Logo, viu-se que os desvios
não eram um cacoete apenas dos aliados profanados...
Registre-se que a roubalheira na Petrobras começou
dentro da estatal, por obra e engenho de funcionários. Estes foram atraídos
pelo incentivo, intrínseco e inescapável a uma empresa sem dono, de se tornarem
milionários num passe mágica. Deflagrada em 2014, Operação Lava-Jato botou na
cadeia políticos petistas e tucanos envolvidos no megaescândalo de desvio de
recursos da estatal. O mecanismo de corrupção era vasto e envolveu outros
partidos, além do PT e do PSDB (que, curiosamente, fazia oposição ao governo
petista; ah, o Brasil, vá entender...).
Para complicar o mau juízo que amplos
setores da sociedade começaram a fazer dos dois partidos, que, apesar da
polarização, atuavam de forma convergente no trilho da social-democracia, a
neopetista Dilma Rousseff - ela viveu mais tempo sob o brizolismo que sob o
petismo -, eleita pela super popularidade de Lula em 2010 (bateu em incríveis
85%), tratou de mudar o eixo da política econômica e, aí, deu tudo errado.
A combinação de corrupção com recessão
longa e profunda, destruidora de empregos e promotora de concentração de renda,
deu um nó na cabeça dos eleitores que ajudaram a eleger o presidente tucano e
os dois petistas ao longo de 21 anos, uma geração inteira.
Jair Bolsonaro foi o político que melhor percebeu a força do antipetismo que se disseminou pelo país feito rastilho de pólvora. De maneira fria e racional, começou a viajar por todo o país em 2015, quando Dilma, reeleita, começou a dar sinais de que incendiaria às próprias vestes. O resto é história, mas o epílogo a vista não alcança neste momento.
2 comentários:
No meio do caminho tinha um genocida... Tinha um genocida no meio do caminho! Eis uma breve história de Jair Bolsonaro antes de se tornar o que ele é hoje! O genocida dormiu por 7 mandatos consecutivos no baixo clero, enquanto produzia suas rachadinhas familiares e enriquecia com elas! Enquanto dormitava, ensinou suas sujeiras aos 3 bolsonarinhos que ele introduziu na política e eles aprenderam rapidamente a enriquecer com dinheiro público. Com a pandemia, tendo que escolher entre combater a doença com a Ciência e a medicina da OMS ou seguir os perigosos passos de Trump nos EUA e alguns pseudocientistas no Brasil, optou por se tornar GENOCIDA, com a cumplicidade servil do futuro deputado general Eduardo Pazuello.
Entre a lições aos bolsonarinhos e a pandemia teve uma eleição - esqueceu?
Postar um comentário