Senadora, candidata do MDB à presidência da República, ficou em terceiro lugar no primeiro turno
Por O GLOBO
Simone Tebet, que ficou em terceiro lugar
no primeiro turno das eleições presidenciais, declarou voto em Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) no segundo turno. Lula terminou o primeiro turno em primeiro
lugar, com 48,4% dos votos. O presidente Jair Bolsonaro (PL) está atrás dele,
com 43,2%.
Ao anunciar seu apoio ao petista, Tebet
afirmou que lançou sua candidatura à Presidência em meio a um clima de ódio,
destacou seus mais de 4,9 milhões de votos na terceira colocação ao Planalto e
disse "não estar autorizada a abandonar as ruas e as praças enquanto a
decisão soberana, do eleitor, lhe autorizar".
Leia a íntegra do discurso no qual Simone Tebet manifesta seu apoio a Lula:
"Apresentei minha candidatura à
Presidência da República diante de um país dividido pelo discurso do ódio, da
polarização ideológica e de uma disputa pelo poder que não apresentava soluções
concretas para os problemas reais do povo brasileiro. Minha intenção foi
construir uma alternativa a essa situação de confronto, que não reflete a alma
e o caráter da nossa gente.
As urnas falaram. O povo brasileiro fez sua
voz ser ouvida. Cumpriu-se o rito da Constituição, que hoje completa 34 anos.
Venceu a democracia. Tive 4.915.423 votos, pelo que agradeço, do mais fundo do
coração, por cada um deles.
Aprendi, ao longo de minha vida política,
que não se luta apenas para vencer, mas para defender projetos, disseminar
ideias, iluminar caminhos, plantar boas sementes para uma colheita coletiva.
O eleitor optou por dois turnos.
Em face de tudo o que testemunhamos no
Brasil dos últimos tempos e do clima de polarização e de conflito que marcou o
primeiro turno, não estou autorizada a abandonar as ruas e praças, enquanto a
decisão soberana do eleitor não se concretizar.
A verdade sempre me foi companheira, não
será agora que irei abandoná-la. Critiquei os dois candidatos que disputarão o
segundo turno e continuo a reiterar as minhas críticas. Mas, pelo meu amor ao
Brasil, à democracia e à Constituição, pela coragem que nunca me abandonou,
peço desculpas aos amigos e companheiros que imploraram pela neutralidade neste
segundo turno, preocupados que estão com a eventual perda de algum capital
político, para dizer que o que está em jogo é muito maior que cada um de nós.
Votarei com minha razão de democrata e com minha consciência de brasileira. E a
minha consciência me diz que, neste momento tão grave da nossa história,
omitir-me seria trair minha trajetória de vida pública, desde quando, aos 14
anos, pedi autorização à minha mãe para ir às ruas lutar pelas Diretas Já.
Seria desonrar a história de vida pública de meu pai e de homens históricos do
meu partido e da minha coligação. Não anularei meu voto, não votarei em branco.
Não cabe a omissão da neutralidade.
Há um Brasil a ser, imediatamente,
reconstruído. Há um povo a ser, novamente, reunido. Reunido na diversidade,
antes (e sempre) a nossa maior riqueza, agora esmigalhada por todos os tipos de
discriminação.
Neste ponto, um desabafo: de que vale irmos
às nossas igrejas, proclamar a nossa fé, se não somos capazes de pregar o
evangelho e respeitar o nosso próximo nos nossos lares, no nosso trabalho, nas
ruas de nossa pátria?
Nos últimos quatro anos, o Brasil foi
abandonado na fogueira do ódio e das desavenças. A negação atrasou a vacina. A
arma ocupou o lugar do livro. A iniquidade fez curvar a esperança. A mentira
feriu a verdade. O ouvido conciliador deu lugar à voz esbravejada. O conceito
de humanidade foi substituído pelo de desamor. O Brasil voltou ao mapa da fome.
O orçamento, antes público, necessário para servir ao povo, tornou-se secreto e
privado.
Por tudo isso, ainda que mantenha as
críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos
últimos dias de campanha, quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil,
o que é legítimo, mas sem apresentar suas propostas para os reais problemas do
Brasil, depositarei nele o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a
Democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente.
Meu apoio não é por adesão. Meu apoio é por
um Brasil que sonho ser de todos, inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria,
com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável. Um Brasil
com reformas estruturantes, que respeite a livre iniciativa, o agronegócio e o
meio ambiente, com comida mais barata, emprego e renda.
Meu apoio é por projetos que defendo e
ideias que espero ver acolhidas. Dentre tantas que julgo importantes, destaco
cinco, tendo sempre a responsabilidade fiscal (âncora fiscal) como meio para
alcançar o social:
Educação: ajudar municípios a zerar filas
na educação infantil para crianças de três a cinco anos e implantar, em
parceria com os estados, o ensino médio técnico, com período integral e conectividade,
garantindo uma poupança de R$ 5 mil ao jovem que concluir o ensino médio, como
incentivo para que os nossos jovens voltem à escola;
Saúde: zerar as filas de cirurgias,
consultas e exames não realizados no período da pandemia, com repasse de
recursos ao SUS;
Resolver o problema do endividamento das
famílias, em especial das que ganham até três salários mínimos mensais;
Sancionar lei que iguale salários entre
homens e mulheres que desempenham, com currículo equivalente, as mesmas
funções. Esse projeto já foi aprovado no Senado Federal e encontra-se parado na
Câmara dos Deputados;
Um ministério plural, com homens, mulheres
e negros, todos tendo como requisitos a competência, a ética e a vontade de
servir ao povo brasileiro.
Até o dia 30 de outubro, estarei nas ruas,
vigilante; meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social;
minhas preces, por uma campanha de paz."
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