O Globo
Tive a oportunidade de presenciar coisas
horríveis na minha vida, mas nem todas elas somadas superam o número de
canalhices cometidas no Brasil durante a campanha eleitoral de 2022
Em 1962, ano em que completei 11 anos,
estreou nos cinemas o filme “Os cafajestes”, do diretor luso-brasileiro Ruy
Guerra.
O filme, com Jece Valadão e Daniel Filho,
era estrelado por Norma Bengell, que protagonizou o primeiro nu frontal do
cinema brasileiro. Essa cena se transformou no assunto da mídia em geral e em
obsessão tanto minha quanto dos meus amiguinhos de escola, que só conhecíamos o
filme de ouvir falar, já que era proibido para menores de 18 anos.
Aprendi naquele ano a palavra “cafajeste”,
que, segundo meu pai, era sinônimo de sujeito mal-educado, que no seu dia a dia
cometia cafajestadas. Muitos anos passaram, tive a oportunidade de presenciar
coisas horríveis na minha vida, mas nem todas elas somadas superam o número de
canalhices cometidas no Brasil durante a campanha eleitoral de 2022.
Só essas dariam para fazer uma espécie de The Guinness Book of Records da Cafajestice, mas resolvi lembrar mais algumas para compor um livro imaginário da vagabundagem universal.
No Guinness Book of Records da Cafajestice
Mundial, no capítulo futebol entraria certamente o jogador do Botafogo Heleno
de Freitas, que, pelas atitudes dentro e fora do campo, foi apelidado de “o
cafajeste da bola”.
No capítulo cafajestada com a companheira,
destaca-se o armador grego Aristóteles Onassis, que, segundo algumas
biografias, torturou psicologicamente a soprano Maria Callas durante nove anos,
até se separar dela de um dia para o outro, para se casar com a ex-primeira-dama
dos EUA Jacqueline Kennedy.
Também com mulheres, e não só com mulheres,
aparece como ícone da cafajestice mundial o brasileiro Carlos Imperial, que
convidava seus amigos para comer um churrasco em sua casa e depois abater umas
lebres. Imperial chamava de lebres as meninas de 18 ou 19 anos de idade.
Produtor, apresentador, ator, compositor e
jornalista, Imperial registrava em seu nome canções de domínio público, como
“Meu limão, meu limoeiro”, “Cai, cai, balão” e “Ciranda, cirandinha”, e plantava
calúnias contra seus desafetos em suas colunas na Revista do Rádio e no Jornal
Última Hora. Imperial foi um cafajeste real e ficcional. Exagerava no seu
personagem de “rei da pilantragem” para ganhar visibilidade pública e tirar
proveito financeiro.
Na categoria cafajestes só na ficção,
tivemos no Brasil alguns imortalizados pelas novelas, como Carlão, de “Pecado
capital”, protagonizado por Francisco Cuoco; Felipe Barreto, de “O dono do
mundo”, vivido pelo Antonio Fagundes; e Cesar, de “Mulheres apaixonadas”, feito
pelo José Mayer.
Na produção de ficção mundial, tivemos o
cafajeste de Hollywood Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por mais de
80 mulheres e de estupro por algumas delas.
Tivemos cafajestes dignos de um Guinness da
Cafajestice até em atividades exercidas por pessoas de alta sensibilidade, como
as artes plásticas. Entre os pintores cafajestes, destaca-se Lucian Freud, que
fazia coisas que nem seu avô Sigmund explicaria.
Voltando às cafajestadas nacionais e particularmente as cometidas durante as eleições de 2022, entre as muitas que ocorreram, três se destacaram.
A cafajestada da senadora Damares Alves
mentindo descaradamente sobre sexo com crianças nas fronteiras brasileiras,
numa das falas mais abjetas já ditas por uma mulher em todos os tempos.
A cafajestada da deputada Carla Zambelli,
correndo nas ruas de São Paulo com um revólver atrás de um homem e
argumentando, depois, tratar-se de um homem negro.
E a cafajestada do ex-presidente do PTB
Roberto Jefferson, ofendendo em vídeo a ministra Cármen Lúcia, depois atirando
e jogando granadas contra policiais.
A Copa do Mundo está apenas começando e
ainda não sabemos se o politizado craque Richarlison e seus companheiros
conseguirão conquistar o tão sonhado hexa.
Mas, de uma coisa, a gente não precisa ter dúvida: só com as atuações de Roberto Jefferson durante as eleições, o Brasil já tem garantida a conquista do Campeonato Mundial de Cafajestice e Cafajestada de 2022.
3 comentários:
A cafajestada de "pintar clima com menores" do bolsonaro pedófilo ocorreu neste período?
Se positivo, põe como destaque destacado.
Tem ainda a cafajestada da fraquejada que resultou numa filha.
Pois é,a calúnia sobre Mário Gomes quem plantou foi Carlos Imperial,resgatada anos depois por Daniel Filho.
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