O Estado de S. Paulo
A possibilidade de que o economista Javier
Milei seja eleito presidente da Argentina ainda neste domingo é mais do que uma
hipótese remota. Bastará para isso que tenha 45% dos votos ou 40% com vantagem
de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. Caso essas diferenças não
aconteçam, o segundo turno ocorrerá dia 19 de novembro.
Se confirmada a eleição de Milei, no primeiro ou no segundo turno, como apontam as pesquisas, será difícil evitar fortes convulsões no mercado financeiro local. Inflação próxima dos 150% ao ano, desabastecimento, dólar no patamar dos mil pesos e empobrecimento crescente compõem o quadro atual que, então, poderá piorar.
Embora Milei tenha afirmado e reafirmado que
daria urgência a seus projetos de dolarização da economia e de fechamento do
banco central, parece improvável que isso ocorra imediatamente. Antes disso,
será preciso arrancar de um Congresso potencialmente hostil as leis que mudem o
regime. E, ainda, assegurar pelo menos US$ 40 bilhões extras, para garantir
numerário destinado à circulação, quantia difícil de obter, uma vez que nem o FMI
nem o Banco Mundial parecem dispostos a fornecer, num ambiente de esgotamento
das reservas, de dívida crescente em moeda estrangeira (porque o peso seria
eliminado) e de deterioração fiscal.
É verdade que os argentinos têm armazenados
em casa ou em bancos estrangeiros algo em torno de US$ 250 bilhões. Mas não dá
para contar com que parte desses recursos seja sacada de debaixo dos colchões,
sem que antes os planos do novo governo comprovem sua viabilidade.
Milei foi até agora incapaz de apresentar um
plano B para seus projetos estapafúrdios. Caso
seu governo se mostre incapaz de executar
imediatamente o cavalo de pau a que se propõe, cabe imaginar complicadas linhas
de ação alternativas sem, no entanto, dá-las como certas.
Uma delas seria um pacote de complexa
composição que tratasse de unificar o câmbio hoje subdividido, liberasse os
preços e impusesse, com apoio do FMI, uma drástica redução de despesas que
assegurasse um superávit fiscal e a derrubada da inflação. O custo imediato
desse ajuste seria recessão, desemprego e complicações políticas.
Outra opção poderia ser um ataque direto à
inflação inercial, nos moldes da Unidade Real de Valor (URV) que precedeu o
Plano Real, em 1994, providência que não dispensaria uma austera política de
contenção de despesas e seus custos políticos.
Fora disso, a política econômica continuaria
calcada no mesmo populismo dos governos anteriores ou em quase isso. Mas esse
tipo de escolha não só contrariaria a plataforma em que se apoia, mas, também,
deixaria a economia entregue ao mesmo estado falimentar em que está prostrada
hoje.
Enfim, o projeto Milei não garante conserto.
Qualquer que seja ele, não será barato. Mas tampouco o prometem as opções dos
outros dois candidatos no topo das preferências de intenção de voto.
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