Folha de S. Paulo
Livro defende que é possível modelar a
história e assim antecipar crises e evitar o colapso
E se a história fosse uma "ciência dura", capaz de fazer previsões tão precisas quanto as que os astrônomos fazem para os próximos eclipses? A maioria dos historiadores profissionais descarta essa possibilidade. Comportamentos humanos já são de certa forma infensos a modelagens matemáticas. Quando falamos de uma disciplina como a história, que, além de lidar com questões humanas, está sujeita a forças tão variadas como as da economia, cultura, tecnologia, geografia e ao próprio acaso, a pretensão de encontrar uma fórmula objetiva para calcular o futuro soa absurda.
Apesar dessa e de outras objeções, existem
especialistas em ciência da complexidade que acham que é possível
identificar em grandes massas de dados alguns vetores mais relevantes. Um
desses especialistas é Peter Turchin, e o livro no qual sintetiza suas ideias é
"End Times".
Para Turchin, sociedades vivem ciclos de
integração e desintegração que duram de 100 a 200 anos. Os EUA e boa parte do
Ocidente estariam numa fase desintegrativa. As duas principais forças
envolvidas seriam a pauperização das classes mais baixas e a superprodução de
elites (gente que se prepara para assumir posições mais elevadas, mas não as
encontra). Quando os dois fenômenos atuam sinergicamente, o resultado é uma
rebelião contra as elites que pode desestruturar a sociedade e acabar até
em guerra civil. Mas Turchin não é tão fatalista. Ele mostra
através de exemplos históricos que, se as elites forem suficientemente
inteligentes para, através de reformas, desarmar as bombas, conseguem evitar o
colapso e adentrar uma nova fase integrativa.
É claro que, com ciclos tão amplos e
condicionados a tantas variáveis, já não estamos falando de previsões precisas,
mas de tendências gerais. O modelo já não seria o da astronomia,
mas o da epidemiologia, em que a previsão é feita na esperança de que os
agentes atuem e consigam frustrá-la.
2 comentários:
Muito bom!
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