domingo, 28 de janeiro de 2024

Elio Gaspari - Mercadante quer o quarto polo naval

O Globo

Não deu outra, 24 horas depois do anúncio do programa Nova Indústria, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, anunciou que a Viúva poderá botar pelo menos R$ 2 bilhões num projeto de recriação da indústria naval. Assim, a geração de Lula será a única que financiou quatro polos navais. Os três anteriores foram a pique.

Mercadante diz que “nós precisamos fazer navios, já fizemos.” Tem toda razão. No século XVII, na Ilha do Governador, construiu-se o galeão Padre Eterno, que pode ter sido o maior barco do mundo. Na mesma fala o doutor informou: “Tivemos uma indústria pujante de construção naval nos anos 70.” Pujante ela era, mas quebrou. Os polos navais quebram porque quando se lança um novo programa não se revisita a causa da ruína dos anteriores.

O primeiro polo naval da segunda metade do século XX foi criado por Juscelino Kubitschek. Afundou, mas uma parte da conta foi para os estaleiros. O segundo polo, “pujante”, surgiu no governo Costa e Silva e cresceu com Ernesto Geisel. Danou-se, mas a conta fez um percurso interessante.

Os bancos que financiavam o plano recebiam papéis avalizados pela Viúva. Era um negócio tão bom que um burocrata deu um chá de cadeira de 40 minutos no banqueiro Leopold Rothschild. A primeira denúncia de que alguns desses contratos eram extorsivos vinha de 1971.

Do outro lado do balcão, os bancos emprestaram a estaleiros que iam mal das pernas. Como os papéis eram garantidos pela Viúva, um só banco brasileiro emprestou 100 milhões de dólares a empresas que iam mal. Em 1984 o polo quebrou, e a Viúva não honrou seus avais. Um armador carioca matou-se.

Depois do naufrágio, o mico dos chamados “papéis podres” foi reciclado, virou moeda real e serviu para arrematar empresas estatais de boa qualidade. Assim, o banqueiro que investiu num mau negócio dos estaleiros protegidos pela Viúva, assenhoreou-se de boas empresas da própria senhora.

O terceiro polo, de Lula 01, nasceu em 2003 e tinha dois braços. Um construiria navios e o outro daria plataformas marítimas para a Petrobras. A primeira denúncia de malfeitoria partiu em 2004 e veio de José Eduardo Dutra, presidente da Petrobras. Tratava-se de uma disputa na qual estavam de um lado a estatal e a Odebrecht. Do outro, as empreiteiras Camargo e Andrade Gutierrez.

Os estaleiros nacionais tiveram dias de esplendor, chegaram a empregar milhares de pessoas. Criou-se uma empresa para construir dezenas de plataformas oceânicas para a Petrobras e ela se chamou Sete Brasil. Armadores estrangeiros entraram no negócio e chegou-se à gracinha de dar agrément ao presidente de um estaleiro de Cingapura para a função de embaixador de seu país no Brasil.

Na Petrobras, as licitações foram cartelizadas e as encomendas foram superfaturadas. Essa história da Lava-Jato mostrou e acabou em mais de uma dúzia de confissões e cadeias. Uma delas foi a de Antonio Palocci, o ex-ministro da Fazenda de Lula. Ele contou à Polícia Federal que propinas de fornecedores eram canalizadas para o Partido dos Trabalhadores. A colaboração de Palocci foi divulgada às vésperas da eleição presidencial de 2018 pelo juiz Sergio Moro. Moro viria a ser ministro do presidente Jair Bolsonaro. Suas revelações, algumas das quais eram irresponsáveis, não foram investigadas direito.

O primeiro navio do polo de Lula 01 adernou quando entrou no mar. As roubalheiras resultaram na desmoralização do projeto, no colapso de três grandes estaleiros. Um deles devia R$ 4 bilhões. Cerca de 82 mil trabalhadores perderam seus empregos.

Passou o tempo, o Supremo Tribunal Federal julgou Sergio Moro um juiz suspeito e, nos anos seguintes, decidiu invalidar sentenças, confissões e multas. Assim como no desastre do polo naval da ditadura, a responsabilidade ficou difusa, mas o prejuízo ficou concentrado na Bolsa da Viúva.

Mercadante tem razão quando diz que o Brasil sabe fazer navios, o que o andar de cima do Brasil não faz é responsabilizar burocratas delirantes e larápios contumazes que corroem as iniciativas dos governos.

O Brasil já soube fazer navios

Uma das lendas de uma História mal contada é a de que Portugal proibia a existência de indústrias no Brasil. Até hoje não se explicou como um estaleiro da Ilha do Governador, no Rio, construiu em 1665 o galeão Padre Eterno.

Segundo uma edição do jornal Mercúrio Portuguez da época, era “o mais famoso baixel de guerra que os mares jamais viram”. A embarcação tinha 53 metros e deslocava duas mil toneladas. Seu mastro, feito com um só tronco, tinha 2,97m de circunferência. Era tripulado por cerca de três mil homens e tinha bocas para 144 canhões.

Pode ter sido o maior navio do mundo, levou seis anos para ser construído e era produto de uma indústria naval robusta, que dispunha de mão de obra qualificada.

O polo naval existia, era produto da clarividência do governador Salvador de Sá (1602-1688). Para financiá-lo, ele cobrou um “auxílio” dos comerciantes.

O Padre Eterno naufragou anos depois na rota das Índias, e Salvador de Sá ficou injustamente esquecido.

Ajuda aérea

Enquanto o governo discute um programa de socorro às empresas aéreas, a Gol entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Sua dívida é estimada em R$ 20 bilhões.

Nos Estados Unidos, a Pan American, pioneira da aviação comercial, virou pó e a vida seguiu. No Brasil, quando a Varig se acabou, surgiu a Gol e a vida seguiu.

As emendas vetadas devem ser mostradas

Lula vetou R$ 5,6 bilhões de despesas patrocinadas por emendas parlamentares que haviam sido incluídas no Orçamento. No mesmo dia, disse que “tenho o maior prazer em juntar lideranças, conversar com lideranças e explicar por que que foi vetado.”

Juntando “lideranças partidárias”, irá a lugar nenhum. As emendas vetadas precisam da luz do Sol e alguém poderá fazer a caridade de exibi-las.

O Ministério da Fazenda, por exemplo, expôs uma tabela listando a relação entre o PIB e as despesas com as máquinas do Judiciário e do Ministério Público. Os doutores custam R$ 160 bilhões, ou 1,6% do PIB e o Brasil é campeão mundial.

Até aí, poderia até ser motivo de orgulho. O problema mostra seu rosto quando se vê quem acompanha Pindorama na lista dos dez primeiros colocados: Costa Rica, El Salvador, Kosovo, Bulgária, Guatemala, Letônia, Eslovênia, Croácia e Romênia.

O Reino Unido ficou em 11º, a Alemanha em 16º. Os penduricalhos têm seu preço.

Segurança pública

O ministro Ricardo Lewandowski promete fazer da segurança pública uma prioridade da sua gestão.

Poderia começar perguntando por que está encalhada no Senado uma proposta de emenda constitucional de 2015 que mexe com as estruturas das polícias civis e militares.

Ela foi apresentada pelo então senador Tasso Jereissati. Como governador do Ceará, ele dominou um motim da PM em 1997.


4 comentários:

Mais um amador disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
marcos disse...

As suas nem isso.

MAM

Mais um amador disse...

Melhor refazer :

Mas tudo isso, segundo alguns comentaristas daqui, são apenas as opiniões do colunista.

Acho que melhorou.

ADEMAR AMANCIO disse...

Sei.