domingo, 7 de janeiro de 2024

Hélio Schwartsman - O preço do tempo

Folha de S. Paulo

Livro conta a história dos juros e alerta para perigo de taxas muito baixas

Lula está em boa companhia quando impreca contra os juros. Ele faz coro a Platão, Aristóteles, Agostinho, Aquino, Dante, Lutero, Shakespeare e, é claro, Marx e Keynes. Cobrar para emprestar dinheiro é prática milenar. Mesopotâmicos já o faziam antes mesmo de aprender a pôr rodas em carroças, como ensina Edward Chancellor em "The Price of Time".

A antiguidade da prática não impediu que várias culturas desenvolvessem ojeriza visceral aos juros, descritos ora como imoralidade, ora como empecilho ao desenvolvimento e frequentemente como ambos. Não é difícil ver os problemas que altas taxas de juros causam numa economia. Até o PT os enxerga. Chancellor, porém, além de contar uma história razoavelmente detalhada dos juros, também mostra que taxas muito baixas por períodos prolongados geram malefícios ainda piores.

Juros são, como diz o título da obra, o preço do tempo, a diferença entre o presente e o futuro. Se a taxa é muito baixa, o futuro invade o presente. Firmas vistas como promissoras, mesmo que não tenham ainda gerado um dólar de lucro, recebem avaliações bilionárias. Até projetos absurdos, como reavivar o mar Morto, encontram interessados. Surgem assim bolhas que inevitavelmente explodirão: a companhia do Mississippi, de John Law, as tulipas, 1929, os subprimes. A lista é longa.

E bolhas não são o único problema. Segundo o autor, taxas muito baixas também levam à má alocação do capital, o que reduz a eficiência da economia, à zumbificação de empresas, ao superendividamento, ao aumento da desigualdade e até à erosão da democracia. É claro que economistas filiados a outras escolas têm outras interpretações.

Nos capítulos iniciais, Chancellor é bem descritivo. À medida, porém, que o livro avança, vai assumindo um tom mais militante. O penúltimo capítulo é um ataque à China, e o último, uma ode neoliberal a Hayek. Isso não torna a obra menos interessante.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se eu tenho um Tríplex (coitado de mim) e vendo para Lula; e Lula me paga pelo Tríplex da mesma forma que Bolsonaro usa para pagar pelos imóveis que compra, que é me entregar o dinheiro vivo dentro de caixas de papelão.

Eu fico com as caixas de dinheiro;
Lula fica com o meu Tríplex.

Eu exconjuro os juros, não levo o dinheiro no Banco para aplicar e amontoo em um canto de meu pequeno loft o dinheiro todo que Lula colocou em caixas de papelão e mandou um petista me entregar em pagamento pelo Tríplex.

Nada mudou com o tempo, nem o Triplex, nem o monte de dinheiro.
■O dinheiro é o mesmo e o monte não aumentou nem diminuiu de altura ou de volume.
■O Tríplex continua o mesmo, está no mesmo lugar e do mesmo jeito.

=》Lula, cinco anos depois, me pede para desfazer o negócio:: ele me devolve o Tríplex e eu devolvo o dinheiro.
■Eu levo o dinheiro para devolver a Lula:: o mesmo dinheiro que ele me entregou, sem uma nota a mais nem a menos.

Lula reclama e diz que eu tenho que devolver o dinheiro corrigido, porque se o dinheiro estivesse no Banco teria rendido juros.
■Eu digo para Lula que não apliquei o dinheiro no Banco para ser coerente com ele, que não gosta de juros, mas digo também que aceito pegar um dinheiro que eu já tinha antes e dar a Lula como atualização monetária.
=>Lula não concorda:: me diz que uma aplicação no Banco dava mais que apenas a correção monetária, e que em governos que criam dificuldades para o Banco Central os juros são mais altos ainda.

Eu perco a paciência com Lula e grito dizendo que o dinheiro todo que ele me pagou estava ali e que se ele não saísse do Tríplex eu ia entrar na justiça com uma ordem de despejo e ele não poderia fazer nada, porque o dinheiro ele ia dizer que não era dele e a escritura do Tríplex foi ele mesmo que me pediu para deixar em meu nome e não transferir para o nome dele, como ele já havia feito com o sítio e com o apartamento do ABC.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.