quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Míriam Leitão - Alckmin e a nova política industrial

O Globo

Vice-presidente afirma que novo plano para indústria não é repetição do passado, como dizem os críticos, e que há muita desinformação

O vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu a nova política industrial, garantindo que a ideia do “conteúdo nacional” não é para proteger empresa ineficiente, que o BNDES entrará de sócio apenas em startups e com investidores privados, que o governo “não vai pôr dinheiro em navios”, e que a política será horizontal, para melhorar a competitividade da economia como um todo e não para “a empresa A, B ou C”. Contudo, ele admitiu que não gosta dos movimentos da Petrobras de recomprar empresas privatizadas. “Não gosto, porque você cria insegurança jurídica”. Falou também de política em entrevista que me concedeu, e que foi ao ar ontem à noite na GloboNews, e pode ser vista no Globoplay, e o texto na íntegra no blog.

Diante da pergunta se o presidente Lula não estaria governando apenas para o PT, apesar de ter sido eleito falando em frente política, Geraldo Alckmin foi firme.

— Eu tenho a convicção de que o presidente Lula salvou a democracia, quando eles tentaram dar um golpe de estado. Quem defende a Constituição, defende eleição, defende o povo, é democrata. O inverso disso é golpista. Se perdendo a eleição eles tentaram um golpe, imagina se tivessem ganho. E isso é a pior coisa também para a economia. As ditaduras suprimem a liberdade em nome do pão, não dão o pão, nem devolvem a liberdade que tomaram.

Na defesa da Nova Indústria Brasil, divulgada recentemente e que levantou dúvidas de ser uma repetição no passado, o também ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, rebateu as críticas.

— Há muita desinformação, não tem R$ 300 bilhões de subsídio, tem R$ 300 bilhões de financiamento. Não há mais TJLP. Acabou. O que o BNDES fez de maneira inteligente, para reduzir os juros, é financiar em dólar para empresas que são exportadoras e recebem em dólar. Só pode ser feito isso com empresa que tem hedge. O único caso que tem TR é em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Quanto os Estados Unidos estão pondo para subsidiar a sua indústria? Trilhão.

Alckmin disse que, depois de encolher por muitos anos, a indústria teve uma ligeira alta em 2023 e deve crescer este ano. E se mostrou entusiasmado com os investimentos do setor automobilístico.

— Vamos ter investimento recorde na indústria automotiva. Já foram confirmados R$ 55 bilhões de investimentos e ainda falta a Toyota. Poderemos chegar perto dos R$ 100 bilhões de investimento em várias rotas tecnológicas desde o carro elétrico puro, plug in, híbrido, montadoras chinesas, montadoras que já estavam no Brasil. Isso é prova de confiança no Brasil. A indústria parou de cair, ela cresceu 0,2% e esse ano pode passar de 1%.

Apesar de dizer que não haverá subsídio, nem repetição de velhas políticas, ele alertou para o protecionismo dos países depois da pandemia.

—No mundo pós-Covid, todo mundo está protegendo seu emprego, está protegendo suas empresas. Alguns de maneira escandalosa. A ideia de conteúdo nacional é muito excepcional e não é para proteger a empresa ineficiente. É para ajudar as empresas a terem competitividade internacional.

Segundo ele, a pergunta dos investidores sempre foi “onde eu fabrico bem e barato” e agora mudou para “onde eu fabrico bem, barato e consigo compensar as emissões de gases de efeito estufa”. Ele diz que essa nova atitude aumenta as oportunidades do Brasil.

Perguntei como o governo pensa em fazer para conquistar eleitores mais à direita, lembrando que quem defende o golpismo levou muita gente para a rua. Ele respondeu que é com a economia, mas não só.

—Na política, você conquista. A questão econômica é central. O risco Brasil era 254 baixou para 130. A inflação estava em 6% e baixou para 4,5%, dentro do teto da meta. A bolsa subiu. O dólar baixou de R$ 5,40 para R$ 4,90. O desemprego caiu. É uma combinação de três coisas. Eficiência econômica, rede de proteção social e liberdade individual.

O vice-presidente disse que, na eleição municipal o que será preponderante será a questão local e não a polarização nacional. “É local. O povo separa muito bem”.

Alckmin explica o afastamento do eleitorado evangélico como consequência ainda das fake news.

— Diziam, ‘olha o PT vai fechar as igrejas’. Nenhuma igreja foi fechada. ‘Vai aprovar o aborto’. Aprovou nada. Tudo fake news. O MEC tinha acabado, era só homeschooling, que é uma proposta racista inventada nos Estados Unidos.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito bom.