O Estado de S. Paulo
Cortar gastos de um lado e criar um buraco de
outro é tão inteligente quanto enxugar gelo. É uma postura que o governo Lula 3
parece perseguir na economia e na política. A decepção manifestada por agentes
econômicos (que não têm CPF nem CNPJ nem escritório na Faria Lima, como pensa
Lula) é sobretudo política. Tem a ver com uma das mais velhas frases sobre
agentes políticos e uma das mais repetidas: não aprenderam nem esqueceram nada.
É o que se dizia dos senhores do “ancien
regime” na França do começo do século 19.
Não tinham entendido os erros do passado nem as contingências do presente. Lula 3 é a expressão perfeita do “ancien regime” na política brasileira.
No trato das contas públicas repete o que já
não deu certo, que é pisar no acelerador da expansão dos gastos e buscar a
compensação via aumento de arrecadação. Quando a realidade vai se impondo – via
desconfiança dos agentes econômicos, ameaça de inflação e juros insuportáveis –
o apelo populista é simplesmente irresistível.
Lula 3 tem uma enorme dificuldade em entender
que a armadilha fiscal na qual se encontra foi criada por ele mesmo. E por
razões políticas exclusivamente. Na prática, garantiu que as despesas vão subir
sempre acima das receitas. Fez uma aposta (política) no tempo que não trouxe
até aqui os dividendos esperados: a expansão dos gastos não se traduziu na
expansão da popularidade.
As circunstâncias são muito diferentes de 20
anos atrás, outra lição que não foi assimilada. Dois fatores merecem menção
destacada. Começa pelo alto grau de resistência social ao que Lula e as
políticas petistas significam, que o velho cacoete de Lula o faz interpretar
como perseguição de rico contra pobre.
E segue pela notável alteração da relação de
força entre os Poderes, que o obrigou a tentar no Judiciário obter as alavancas
políticas para compensar a falta de votos no Legislativo. Num Congresso com o
perfil atual – e sua noção de poder – é muita cegueira política imaginar que
possa colar no Legislativo a frase “vamos atacar o andar de cima”.
O pacote de Lula para tratar das contas
públicas consegue decepcionar os agentes econômicos, ou seja, permanece o
estado de pouca confiança na capacidade do governo de equilibrar as contas
públicas sem aumentar substancialmente o peso dos impostos. Para seguir adiante
com isso, ampliou consideravelmente os obstáculos no Congresso, que já não
controla.
Promessas eleitorais como a ampliação da
faixa de isenção do IR ou a valorização do salário mínimo chocaram-se com a
realidade de um País à beira da exaustão em termos de carga tributária e
delicada situação nas questões fiscais. Em outras palavras, os fatos se impõem
aos desejos. Lula preferiu ficar com os desejos.
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