O Estado de S. Paulo
O governo Lula já identificou o problema. A
culpa é da comunicação. Sempre é. Se a cousa não vai bem, ou não tão bem quanto
forçaria a propaganda, a responsabilidade tomba sobre o mensageiro. Padrão.
Será o máximo concedido à autocrítica. Indisposto – o que comunica mal – a
avaliar o que haveria para comunicar. Indisposto – o que comunica mal – a
avaliar se haveria tanta coisa (boa) assim para comunicar.
Não é a primeira vez que este governo atribui seus reveses – suas dificuldades – à comunicação. Terá talvez algo a ver com promessas-adiamentos de final de ano. Vai melhorar no que vem. Junto com a nova dieta. Junto com um pacote de corte de gastos que corte gastos. Junto com o BC socialmente sensível de Galípolo.
Especula-se também sobre reforma ministerial.
Para ter, por exemplo, mais União Brasil na Esplanada. De repente Elmar
Nascimento ministro. Planta-se que foi superada a resistência à possibilidade
de o deputado ganhar ministério. É uma forma de comunicação. Reforma
ministerial para contemplar partido – confederação de patrimonialismos – que
não é partido, que já está no governo e que não lhe dá base de apoio confiável.
Comunica-se.
O governo está próximo de completar dois
anos. Difícil lhe identificar o projeto – o norte. Quer se comunicar melhor,
porém.
“Começar inclusive fazendo uma licitação para
que a gente tenha a questão da digitalização levada muito a sério” – disse o
presidente. A licitação a respeito que se pôs na rua, de quase R$ 200 milhões,
foi barrada em julho, pelo TCU, apontadas o que seriam ocorrências “de extrema
gravidade” relativamente ao sigilo do certame.
Nova licitação virá. Lula se compromete:
“Alguma coisa precisa ser mudada para que as pessoas tenham acesso àquilo que
estamos fazendo”.
O problema nunca é o objeto da comunicação.
Jamais a qualidade daquilo “que estamos fazendo”. É o comunicador. O PT – o
presidente à frente – insatisfeito não apenas com o trabalho de Paulo Pimenta.
Também com o que seria a “timidez” dos porta-vozes do governo – os outros
ministros, especialmente os do partido. Defenderiam pouco, com pouca vontade,
as realizações de Dilma 3.
Seria o caso de se examinar por quê.
Porta-voz tímido é porta-voz sem convicção. Não necessariamente desinformado.
Porta-voz tímido não é exatamente um tímido. Está mais para realista. Porta-voz
tímido porta-voz não é. Seria o caso de se examinar as realizações.
O jornalista Fábio Zambeli definiu a parada:
“Quando a coisa vai mal, a culpa é da comunicação. É o mordomo da política”.
A comunicação é o mordomo da política. O
mordomo é ruim de serviço mesmo. A questão é sobre se poderia ser diferente.
Não existe comunicação ruim de governo bom.
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