Correio Brasiliense
Funcionário da Abin revela que a agência
fez invasões de hacker a sistemas do Congresso, da Presidência e de autoridades
do Paraguai envolvidas nas negociações de Itaipu
Segundo volume da coleção Plenos Pecados,
da Editora Objetiva, Xadrez, Truco e Outras Guerras, do escritor José
Roberto Torero, é inspirado na Guerra do Paraguai (1865-1870), o maior conflito
armado em que o Brasil esteve envolvido no continente. Os demais livros, sem
spoiler, são Mal Secreto, de Zuenir Ventura (Inveja); O Clube dos
Anjos, de Luís Fernando Verissimo (Gula); A Casa dos Budas Ditosos, de
João Ubaldo Ribeiro (Luxúria); Canoas e Marolas, de João Gilberto Noll
(Preguiça); Terapia, de Ariel Dorfman (Avareza); e Voo da Rainha, de
Tomás Eloy Martínez (Soberba).
O livro de Torero é uma sátira meio macabra envolvendo pessoas em conflitos durante a Guerra do Paraguai. Seu pecado capital é a ira. O livro narra de forma ficcional a implacável perseguição ao Mariscal (marechal) Francisco Solano López, o ditador do Paraguai, de mando do príncipe francês Gastão de Orléans, o Conde d'Eu, capitão de cavalaria na Guerra Hispano-Marroquina e comandante-chefe do exército imperial na Guerra do Paraguai, casado com a Princesa Isabel, a herdeira do trono brasileiro. O trauma dessa guerra até hoje alimenta ressentimentos dos paraguaios. Morreram 90% dos homens acima de 20 anos do Paraguai.
Nesta terça-feira, o governo do Paraguai
convocou o embaixador do Brasil no país, José Antônio Marcondes, para cobrar
explicações sobre o suposto monitoramento da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) a sistemas do governo paraguaio. Em depoimento à Polícia Federal, um
funcionário da Abin informou que a atual gestão da agência teria mantido
operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai e de autoridades
envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
A denúncia é mais uma dor de cabeça para o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois o governo está em fase de
negociações com o Paraguai sobre o Anexo C do acordo de construção da usina de
Itaipu, que define as condições de comercialização da energia gerada. O
chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez, afirmou que as autoridades do país
classificam o tema como "delicado" e disseram que o Brasil precisa
explicar qual foi o resultado da interferência. O ministro de Indústria e
Comércio, Javier Giménez García de Zúñiga, que negocia o acordo, afirmou que os
debates sobre o tema estão suspensos até que a questão seja esclarecida.
A Polícia Federal investiga o vazamento de
informações no âmbito do inquérito sobre a chamada "Abin paralela",
que teria utilizado ferramentas e serviços da agência para a prática de ações
ilícitas. No depoimento, o funcionário da Abin afirmou que a atual gestão da
agência manteve operações de invasão hacker a sistemas governamentais do país
vizinho, inclusive do Congresso, da Presidência da República e de autoridades
envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
A ação foi iniciada ainda no governo Jair
Bolsonaro, mas continuou durante o governo Lula, com autorização expressa do
atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Teria como objetivo obter dados
sigilosos sobre valores em negociação no Anexo C do Tratado de Itaipu. Uma
tremenda trapalhada.
O massacre
Solano López morreu na Batalha de Cerro
Corá ou Aquidabanigui, a última da guerra, a 454km ao nordeste de Assunção. Os
paraguaios tinham sido derrotados na Batalha de Campo Grande (16 de agosto de
1869), pelas tropas imperiais. O exército paraguaio estava, desde então,
reduzido a uns 400 ou 500 combatentes, sobretudo velhos, adolescentes e
crianças, famintos, esfarrapados e mal armados.
Em 26 de fevereiro de 1870, o general
brasileiro José Antônio Correia da Câmara, no comando de mais de 2 mil homens
bem armados e bem alimentados, seguiu em direção ao acampamento paraguaio de
Cerro Corá. Na manhã de 1º de março, uma terça-feira, as forças imperiais
atacaram em duas frentes. Em 15 minutos, a linha de resistência sucumbiu. Juan
Francisco, o Panchito, filho de Solano López, de 15 anos, lutou de sabre na
mão, até ser fulminado por tiro.
O presidente paraguaio fugiu a cavalo,
acompanhado de três oficiais. A versão oficial conta que López acabou cercado
por dois soldados e resistiu, empunhando seu espadim de cerimônia, sendo
revidado com um golpe na cabeça. O cabo José Francisco Lacerda, de 22 anos,
conhecido como Chico Diabo, transpassou López com a lança, de baixo para cima,
atingindo a virilha direita e alcançando as entranhas. O que aconteceu depois
tem várias versões, todas tendo o general Correia da Câmara no comando.
López morreu em combate ou foi executado?
A hipótese de execução é corroborada pela profanação do seu cadáver, que teve
sua orelha esquerda cortada, os dentes quebrados a coronhadas de fuzis, um dedo
arrancado e um pedaço do couro cabeludo escalpelado, tudo seguido de um
massacre da população civil. Somente em 4 de março, o Conde d'Eu foi informado
da morte de Solano López; estava longe dos combates, a bordo de um navio.
A espada do López foi enviada por Correia
da Câmara ao imperador D. Pedro II. O general presenteou o visconde de Rio
Branco com a condecoração que López portava e ficou com o relógio do Mariscal,
que a seguir doaria a um museu. Chico Diabo, o matador de López, tomou para si
a faca de prata e ouro, com as iniciais FL (Francisco López).
O canhão "El Cristiano" (o cristão, em português), com 12 toneladas, que está exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, foi feito com o metal dos sinos das igrejas de Assunção, onde ajudou a conter o avanço das tropas brasileiras por dois anos. Até hoje o Paraguai espera sua prometida devolução.
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