terça-feira, 3 de junho de 2025

Xi, Trump e Musk, quem dá mais? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Sem ‘especialista em internet’, avançam as conversas com a China sobre Defesa e Segurança

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, matou no peito e livrou o presidente Lula de uma de suas muitas dores de cabeça, ao negar no Congresso que o governo esteja “importando” um especialista em internet da China, como o próprio Lula havia anunciado. A questão, porém, vai além. Há intensas discussões entre os ministérios e negociações entre o Brasil e a China para a adaptação nacional de sistemas chineses de defesa externa e de segurança interna.

Além da gravidade e da urgência do combate ao crime organizado, às milícias e à violência que atormenta o País e as famílias brasileiras, há também a questão política e econômica: o Brasil não pode ficar refém de antenas e satélites exclusivamente da Starlink, de Elon Musk, na Amazônia.

As duas palavras-chave para sair da dependência dos Estados Unidos e dividir os sistemas com tecnologia e equipamentos da China são “autonomia” e “diversificação”, especialmente quando o governo Donald Trump vai se revelando, dia a dia, um perigo não só para o comércio internacional, mas para o equilíbrio geopolítico e países como o Brasil.

O chefe da Casa Civil, Rui Costa, já foi à China em março, voltou em maio na comitiva de Lula e tem tido reuniões com os ministérios da Defesa, da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores, além dos comandos das Forças Armadas, em especial o do Exército, responsável pelo Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), que dispõe, por exemplo, de sensores, câmeras, viaturas, radares e estações meteorológicas contra ameaças transfronteiriças.

Num jantar com seus ministros, em Pequim, Lula deixou claro que uma das prioridades era ampliar a coleta de informações e as conversas para aperfeiçoamento e abrangência de defesa e de segurança. A China é uma potência nessas áreas, com o foco na estatal Norinco (China North Industries Corporation). O Brasil tem interesse nos produtos, e a China, em participação na Avibras Aeroespacial, maior fabricante brasileira de defesa.

Não é simples. Além da crise fiscal e dos cortes crônicos de verbas, há a barreira das liberdades individuais. Assim como não há “especialista” chinês em regulação das redes, mas, sim, em censura, o país executa um monitoramento implacável de cidadãos e empresas, via espionagem, biometria facial e sensores de calor (inclusive humano), com um cruzamento de dados hipersofisticado, como George Orwell já imaginava com o seu 1984.

É fundamental ampliar a autonomia da defesa e a tecnologia contra a criminalidade, mas mantendo o Brasil equidistante entre EUA e China. Eis o X da questão. •

 

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