Valor Econômico
Para antecipar o resultado das urnas será
útil observar se a economia e os programas do governo podem ajudar a aprovação
de Lula, e quais temas geram mais preocupação entre os eleitores
Quem será o candidato de oposição à Presidência em 2026 parece ser a pergunta que está consumindo a atenção tanto de Brasília quanto do mercado financeiro. Lideranças dos partidos de centro — e de boa parte da direita — estão em campanha aberta para que o ex-presidente Jair Bolsonaro apoie uma candidatura de Tarcísio de Freitas. Bolsonaro segue dividido entre apoiar alguém de sua própria família e o governador de São Paulo, que só disputará o Planalto com a bênção do ex-presidente. A prisão antecipada de Bolsonaro e sua saúde e seu estado emocional potencialmente mais precários tornam cada vez mais difícil antecipar qual será sua decisão.
Para muitos, o aval de Bolsonaro será
decisivo. Tarcísio, ungido como candidato da oposição, uniria o bolsonarismo e
partidos do centrão, e teria boas chances de vitória. O outro cenário seria uma
direita fragmentada, aumentando as chances de reeleição do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
A escolha do candidato da oposição terá
consequências, mas não será decisiva para o resultado das urnas. Fatores
econômicos que podem afetar a aprovação de Lula em 2026, além dos temas que vão
nortear a decisão do eleitor, serão bem mais relevantes para determinar quem
será o próximo ocupante do Planalto.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que há
uma correlação muito forte entre a aprovação de um governante e suas chances de
reeleição. De acordo com um banco de dados de mais de 500 eleições, coletado
pela IPSOS Public Affairs, governantes com aprovação acima de 40% são reeleitos
na maior parte das vezes. O índice de vitória chega a 78% com uma aprovação de
45%, e a 90% com aprovação de 50%. Um estudo da Eurasia Group, analisando as
eleições dos últimos seis anos em todo o mundo, mostrou que, embora a média de
aprovação dos governantes tenha caído, a relação entre aprovação e vitória nas
urnas se manteve.
Considerando a média de todas as pesquisas, a
aprovação de Lula está em 48% — indicando uma alta chance de reeleição. Fatores
econômicos explicam esse índice. Em Brasília, se aponta que a recuperação da
aprovação de Lula (que passou de uma média de 41% em maio para 48% hoje) foi
fruto das tarifas do governo Trump. Mas a alta está mais ligada a quatro meses
de queda nos preços dos alimentos e à ampliação da tarifa social de energia,
que aliviou a conta de luz de 60 milhões de brasileiros de menor renda.
Temas como o custo de vida e a renda
disponível serão decisivos para as próximas eleições. Se a reforma do Imposto
de Renda e a inflação baixa conseguirem levar a aprovação do presidente para a
casa dos 50%, ele deve se tornar favorito, independentemente de quem seja o
candidato da direita. Mas se a desaceleração da economia e a queda na renda
derrubarem sua aprovação, crescerão as chances de qualquer candidato de
oposição.
Os temas com os quais os eleitores mais se
preocupam também serão decisivos para o resultado das eleições. Em geral,
candidatos com credibilidade na principal preocupação vencem. E, nesse quesito,
a oposição está em vantagem. Pesquisas já registravam que as principais
preocupações dos eleitores são segurança pública e corrupção — ambos temas nos
quais o presidente Lula tem menor credibilidade perante a opinião pública. A
crise no Rio de Janeiro intensificou ainda mais a preocupação com a segurança,
o que contribuiu para uma pequena queda nos índices de aprovação e nas
intenções de voto de Lula.
Eventos que possam exacerbar essas
preocupações serão chave para a disputa de 2026 — como ações policiais contra o
crime organizado ou investigações de corrupção (veja o escândalo do Banco
Master) — e ajudarão qualquer candidato de oposição. Mas se esses
acontecimentos perderem relevância, o terreno fica mais favorável para Lula.
Ponderando todos esses fatores, nota-se um
foco desproporcional na escolha do candidato da oposição. Para antecipar o
resultado das urnas, é mais útil observar se a economia e os programas do
governo podem ajudar a aprovação de Lula em 2026, e quais temas geram mais
preocupação entre os eleitores.
Se a aprovação do presidente recuar e a
próxima eleição tiver foco na segurança, qualquer candidato da direita que
chegue ao segundo turno tende a vencer. Caso contrário, Lula estará em
vantagem. Olhando os índices de aprovação do presidente, com um cenário mais
benigno para inflação e preços de alimentos — junto com a reforma da renda que
entrará em vigor — Lula parece ter um ligeiro favorito para 2026. Mas a
operação no Rio de Janeiro também deixou claro que ele entra com importantes vulnerabilidades
que podem ser explorados não só pelo Tarcísio de Freitas, mas qualquer
governador ou candidato de oposição que chegue no segundo turno contra o
presidente.

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