O Estado de S. Paulo
Não é com vigília ou uma nova toga no STF que
Bolsonaro e Lula vão converter o eleitorado
Quando o presidente Lula indica Jorge Messias para o Supremo e o senador Flávio Bolsonaro convoca uma “vigília de oração” em apoio ao pai, a um ano das eleições, eles escancaram o quanto os líderes políticos e candidatos estão cada vez mais “terrivelmente evangélicos”, numa competição que tem pouco a ver com religião e muito com votos.
Como se sabe, Messias ganhou as bênçãos de Lula por ter apoio do PT e do Planalto e lealdade inquestionável ao atual presidente. Mas não foi à toa que Lula, sem dizer isso, deixou clara a escolha de Messias numa roda de orações com pastores no Planalto, onde o único convidado foi justamente ele.
Lula, porém, chegou atrasado nessa disputa
que mete Deus no meio da política. Foi-se o tempo da aliança da Igreja Católica
com a esquerda e Jair Bolsonaro vislumbrou bem antes o valor eleitoral dos
evangélicos. Ao decidir disputar a Presidência em 2018, sua primeira
providência foi se batizar evangélico.
O batismo foi no Rio Jordão, a viagem a
Israel foi a terceira de Bolsonaro ao exterior e quem o batizou foi o Pastor
Everaldo, tempos depois preso por corrupção. A encenação colou e os votos se
multiplicaram.
Foi uma aposta visionária e tem o reforço de
Michelle Bolsonaro, uma devota fiel. Os evangélicos foram decisivos para a
vitória de Bolsonaro em 2018, saltaram para 27% da população em 2022 e são
maciçamente bolsonaristas.
Já os católicos continuam majoritários, mas
recuaram de 65% para 57% da população e há uma diferença. Evangélicos são
assíduos nos cultos e pregações por internet, rádio e TV e formam um sólido
bloco bolsonarista. Já os católicos são mais difusos, anunciam-se como
católicos, mas não praticam, e cada um vota de um jeito.
Em meados de 2025, só 30% dos evangélicos
aprovavam o governo Lula, ante 66% que desaprovavam – 13 pontos a mais que os
católicos, divididos praticamente ao meio. Logo, além capturar os evangélicos,
Lula não pode perder os católicos.
Assim como a “vigília de oração” de Flávio
foi um fiasco de público, não revigorou o bolsonarismo e, ainda por cima,
ajudou a empurrar Jair Bolsonaro para a prisão preventiva, Messias para o STF
pode ter sido um tiro n’água, ou no pé de Lula.
É improvável que os evangélicos estejam dando
bola, e que vingue uma dupla do petista Messias com o bolsonarista André
Mendonça. Para piorar, Lula não tinha a Câmara e agora perdeu o Senado. Não é
com vigílias que Bolsonaro vai recuperar força política, nem é com um ministro
a mais no STF que Lula vai converter os votos evangélicos em lulistas. Aliás,
para onde vai o eleitorado evangélico? Para a esquerda é que não.

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