sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Merval Pereira - A lista fatal

- O Globo

Enquanto não sair a lista oficial dos acusados de envolvimento no petrolão, que deve ser apresentada pelo procurador -geral da República, Rodrigo Janot, nos primeiros dias de fevereiro ao Supremo Tribunal Federal, o Congresso viverá sob tensão, e todos os partidos políticos estarão sujeitos a vazamentos de informações que, por serem parciais, servem para blindar os parlamentares eventualmente citados.

São taxados por todos os lados de "vazamentos seletivos", e podem ser acusados de servirem a interesses políticos. A última bomba atinge em cheio a oposição, com a citação do senador eleito e ex-governador de Minas Antonio Anastasia como tendo recebido R$ 1 milhão para sua campanha de 2010 das mãos do policial conhecido como "Careca" . A denúncia contra Anastasia, sucessor do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, e seu homem de confiança — seria o ministro forte numa eventual Presidência tucana caso Aécio tivesse vencido em outubro —, atinge diretamente o presidente do PSDB, que reagiu imediatamente , afirmando que a intenção seria constranger a oposição , que não se intimidará. Anastasia se defende com sua reputação, nunca atacada nem nas mais agressivas campanhas eleitorais, e com a lógica, pois não faz parte do esquema governista que controlou o petrolão.

O PSDB já tinha na lista dos envolvidos no escândalo das empreiteiras seu ex -presidente Sérgio Guerra, acusado de ter recebido R$ 10 milhões da Queiroz Galvão para in viabilizar a CPI da Petrobras. Acusação que precisa ser investigada mas é no mínimo estranha, pois a oposição era minoritária na CPI e não tinha como in viabilizá-la se não fosse in ter esse do PT . Quando as denúncias surgidas atingem membros do PT ou de partidos aliados ao governo, a reação é sempre a mesma: são vazamentos seletivos para envolver o governo, como se fosse preciso, depois dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, mesmo antes de terem aderido à delação premiada.

A questão não está mais em torno do esquema montado pelo PT para financiar seus aliados num projeto de poder que pretende se eternizar , ou pelo menos que seja infinito enquanto dure, parodiando o poeta. O que se discute nos bastidores do Congresso é quais foram os apanhados na rede imensa do Ministério Público, que nomes sairão da lista para a acusação do procurador-geral da República. Mas, quando os vazamentos seletivos atingem alguém da oposição , como Anastasia, ou o talvez ex-futuro presidente da Câmara Eduardo Cunha, nesses casos os aliados governistas, no Congresso e na imprensa chapa-branca, tratam-nos como verdades inegáveis.

Aí é a vez de o PSDB e Cunha alegarem que há in ter esses políticos. Quando atingem, então, um aliado importante, como o senador Renan Calheiros, que concorre à reeleição no Senado com o pressuposto de apoiar a presidente Dilma, os mesmos tentam esquecer que as citações a Calheiros existem, com talvez mais base do que as que atingem outros. Outro ex-presidente, desta vez da Câmara, o deputado não reeleito Henrique Eduardo Alves, apareceu em uma dessas listas e perdeu automaticamente seu lugar no Ministério de Dilma. Pode voltar a ele caso não apareça na lista oficial, provocando mudanças ministeriais logo nos primeiros meses de governo, o que será apenas mais uma das muitas esquisitices deste segundo mandato de Dilma.

Para os que estiverem na lista, há ainda uma esperança, embora o sofrimento possa durar bastante tempo. O procurador-geral da República pode pedir a absolvição por falta de prova para alguns dos indicados. Aconteceu assim no mensalão. Dois dos 40 denunciados foram previamente absolvidos pelo Ministério Público: Antônio Lamas, ligado ao PP (e irmão de Jacinto Lamas); e Luiz Gushiken (ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República), absolvição depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. Um terceiro, Silvio Pereira, ex-secretário do PT, fez acordo de 750 horas de trabalho comunitário e não foi julgado. O fato é que tanto a Câmara quanto o Senado correm o sério risco de eleger presidentes que, dias depois, aparecerão na lista oficial dos envolvidos no petrolão, e aí talvez seja tarde demais para que desistam de enxovalhar mais ainda o Congresso.

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