• Policial morre após ser baleada por homem com fuzil no dia seguinte à chacina no ‘Charlie Hebdo’; carros-bomba explodem na periferia
Andrei Netto - O Estado de S. Paulo
PARIS - Um segundo ataque terrorista na manhã de ontem em Montrouge, na periferia de Paris, aumentou a tensão na França, onde na quarta-feira dois extremistas islâmicos atacaram a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, deixando 12 mortos e 4 feridos graves. Durante o dia, locais ligados ao islamismo foram atacados e à noite carros-bomba foram detonados na periferia da capital.
O atentado ao jornal provocou uma caçada sem precedentes na história do país, mobilizando polícias civil e militar, serviços secretos e forças armadas na busca, que na noite de ontem se concentravam na região de Picardie, onde os suspeitos, os irmãos Kouachi, estariam cercados por unidades de elite.
O novo atentado ocorreu às 8h10 de ontem, 5h10 em Brasília, quando um homem, armado com um fuzil AK-47 e vestindo um colete à prova de balas, abriu fogo contra dois policiais que trabalhavam em um acidente de trânsito em Montrouge, na divisa com Paris. Clarissa Jean-Philippe, de 25 anos, agente da polícia municipal de trânsito em serviço havia poucas semanas, morreu. O outro agente foi ferido.
O suspeito fugiu em um automóvel roubado, abandonado a poucos quilômetros. Duas pessoas foram detidas, suspeitas de terem colaborado com a ação, mas o autor continuava desaparecido ontem à noite. No local, uma unidade de elite da polícia realizou diante das câmeras uma operação antibomba, vasculhando veículos e a região durante mais de uma hora.
Na noite de ontem, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, reconheceu a tensão em Paris. “O país atravessa momento de excepcional gravidade”, admitiu. Ele afirmou não haver pistas de vínculo entre o ataque de Montrouge e o efetuado contra a redação de Charlie Hebdo.
De acordo com o Ministério do Interior, há indícios para concluir que Said Kouachi, de 34 anos, foi um dos autores do atentado contra o Charlie Hebdo. Investigações complementares realizadas em batidas policiais a apartamentos de parentes e amigos dele na periferia de Paris e em Reims, no nordeste do país, além do rastreamento de ligações telefônicas e de trocas de e-mail na internet teriam confirmado as suspeitas. Além de Said, seu irmão, Chérif Kouachi, de 32 anos, seria o outro autor dos disparos. Ambos estavam na lista de proibidos de voar nos EUA, segundo um funcionário do governo americano disse à agência AP.
Uma vez identificados, os Kouachi se tornaram o centro de uma caçada nas regiões de Aisne e Picardie, a cerca de 80 quilômetros ao norte de Paris. A busca se concentrava até a noite de ontem os vilarejos de Villers-Cotterêts, Longpont e Corcy, onde os irmãos estariam escondidos depois de terem sido vistos em um posto de combustíveis que assaltaram horas antes. Segundo testemunhas, havia até lança-foguetes entre as armas no Renault Clio que os terroristas conduziam.A área vasculhada tem 20 quilômetros quadrados e inclui, além de centros urbanos, uma zona florestal.
Conforme Bernard Cazeneuve, 88 mil homens fazem a segurança da França no momento, dos quais 9,6 mil apenas na região de Ile-de-France, em que está Paris. O efetivo não impediu, entretanto, que um novo atentado acontecesse na noite de ontem na cidade de Villejuif, na periferia de Paris.
Segundo informações da imprensa francesa, dois veículos foram detonados por volta de 20h40 na Avenida Paul-Vaillant-Couturier e na Rua Jean-Baptiste-Baudin, ambas a cerca de 10 quilômetros ao sul da capital. O Ministério do Interior não havia se manifestado até ontem à noite sobre se havia vítimas, mas de acordo com o jornal Le Monde não havia mortos ou feridos.
Em meio ao caos em Paris, ministros do Interior da Europa e dos EUA convocaram uma reunião de emergência para discutir o combate ao terrorismo no Ocidente. A grande preocupação é com o retorno dos ocidentais que partiram para combater ao lado do movimento terrorista Estado Islâmico. O secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, participará do encontro.
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