sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Parlamentares petistas ligados ao MST contestam declaração de Kátia

• Deputados elogiam Patrus e coletam dados sobre latifúndios no país

Evandro Éboli – O Globo

BRASÍLIA - Deputados do PT ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reagiram à afirmação da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, de que não há mais latifúndios no país. E evidenciaram ainda mais as divergências entre as defesas feitas pela ministra e bandeiras petistas tradicionais, Antigos sem-terra e hoje assentados pela reforma agrária, os deputados Valmir Assunção (BA) e Marcon (RS) foram dos quadros do MST. Assunção anunciou que buscará no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a relação dos latifúndios improdutivos para entregá-la a Kátia.

- É ignorância política a ministra dizer que não há mais latifúndio. E a Constituição é clara e diz que terra improdutiva deve ir para reforma agrária, cumprir sua função social, como reforçou o Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Agrário) - disse Assunção.

Procurada, a ministra não respondeu às ligações do GLOBO. Os parlamentares do PT ligados aos movimentos sociais apoiam com entusiasmo a indicação de Patrus para o ministério e apostam que ele fará oposição às ideias de Kátia.

- O Patrus é um dos maiores nomes da esquerda brasileira e também advogado. O discurso dele agradou muito a nós. Ele citou cinco vezes a necessidade de a terra cumprir sua função social - disse Assunção, ex-acampado, que foi assentado em 1987 no assentamento Riacho das Ostras, em Prado (BA), e já foi da direção do MST.

Vivendo no assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS), o deputado Marcon tem 20 hectares de terra, onde planta arroz orgânico e outros produtos.

- São muitos os latifúndios no Brasil afora. E que não cumprem função social. Essa declaração da ministra não tem cabimento - disse Marcon.

Também ligado ao MST e filho de agricultor familiar, o deputado Padre João (PT-MG) afirmou que os dados mostram com clareza que existe latifúndio no Brasil.

- É preciso otimizar a terra, sem falar da precariedade em que vive o trabalhador rural. No campo, avançamos na tecnologia, mas o índice de produtividade ainda está caduco. Tem que se exigir melhor produtividade por hectare.

O Palácio do Planalto minimizou o embate que Patrus e Kátia travaram ao tomarem posse. Para um interlocutor da presidente Dilma Rousseff, o governo escalou representantes dos dois lados do campo (agricultura familiar e agronegócio), e, por isso, o debate entre eles será permanente. As divergências entre os dois eram "previsíveis e esperadas".

- As duas dimensões do campo estão representadas dentro do governo, e isso é muito bom. Eles vão divergir em alguns pontos e concordar em outros. Essa divergência inicial está totalmente dentro do previsível e do esperado - disse o auxiliar.

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