quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Bernardo Mello Franco: O delegado que morreu pela boca

- O Globo

No primeiro dia, ele já disse a que veio. Minutos depois de assumir o comando da Polícia Federal, Fernando Segovia saiu em defesa do chefe. Ele sugeriu que as investigações contra Michel Temer não teriam reunido provas suficientes para denunciá-lo.

“Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa de que a gente necessitaria”, disse. O delegado se referia a um flagrante de corrupção explícita: a entrega de R$ 500 mil a Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente.

Segovia ascendeu na polícia com a ajuda da política. Sua nomeação teve as digitais de José Sarney, Eliseu Padilha e Augusto Nardes. Em comum, todos enrolados em delações da Lava-Jato.

Os padrinhos não tiveram motivo para se arrepender. Sob nova direção, a PF reduziu o ritmo de operações contra aliados do governo. A temporada de sustos ficou para trás. Figurões em apuros, como Aécio Neves, sumiram discretamente do noticiário de escândalos.

Em dezembro, Segovia passou a agir de forma mais ostensiva. Trocou o chefe da delegacia de Santos, que apura a ligação do presidente com suspeitas de favorecimento no decreto dos portos. Foi recompensado com convites para frequentar o Planalto.

No início deste mês, o diretor da PF exagerou na dose. Em entrevista à Reuters, ele disse que não havia indício de crime no inquérito dos portos. Ainda ameaçou retaliar o delegado do caso, que fez perguntas incômodas ao presidente.

As declarações deram início a um motim na polícia. O ministro Luís Roberto Barroso intimou Segovia a se explicar no Supremo. A procuradora Raquel Dodge deu o último tiro na segunda-feira, sugerindo seu afastamento do cargo.

Ontem, o delegado puxou aplausos para o novo ministro da Segurança Pública, que passou a comandar a PF. Não adiantou nada, porque Raul Jungmann já havia acertado a sua substituição. Segovia se esforçou para estancar a sangria, mas acabou morrendo pela boca.

O ex-ministro Jaques Wagner agora diz que seus relógios de grife seriam “réplicas” fabricadas na China. Para se defender das suspeitas de corrupção, decidiu prestigiar a pirataria.

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