Desgastado e apenas três meses após ter assumido o cargo, delegado será substituído por Rogério Galloro
Depois de ter se envolvido em polêmicas nos pouco mais de três meses em que permaneceu no cargo, o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, foi demitido ontem pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. O pedido para tirá-lo da função teria sido feito anteontem por Jungmann ao presidente Michel Temer. Segovia deve exercer a função de adido da PF nos EUA.
O fator de desgaste do agora ex-diretor da PF foi uma entrevista, concedida durante o carnaval, em que indicou a tendência pelo arquivamento de inquérito contra Temer relacionado ao Decreto dos Portos. Antes, ele já havia declarado que uma só mala não era prova suficiente de crime de corrupção – sobre a ação que flagrou o ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures com R$ 500 mil. Segovia será substituído pelo delegado Rogério Galloro, que já foi o “número 2” da corporação.
Rogério Galloro deve trocar a cúpula da corporação o. Inteligência e investigação e combate ao crime organizado estariam na mira.
Jungmann tira Segovia da chefia da Polícia Federal
Tânia Monteiro Carla Araújo Fabio Serapião | O Estado de S. Paulo.
BRASÍLIA - Empossado ontem como ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em seu primeiro ato na nova pasta, demitiu o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia. O delegado será substituído por Rogério Galloro, que já ocupou o cargo de diretor executivo, uma espécie de número dois da corporação, na gestão de Leandro Daiello, antecessor de Segovia no cargo.
A mudança ocorre na esteira da criação do ministério, que ficará responsável pela PF. Segundo apurou o Estado, Jungmann fez o pedido anteontem à noite ao presidente Michel Temer, que concordou. Ao assumir o cargo, o novo ministro ganhou liberdade para montar sua equipe. De acordo com um interlocutor, Temer quis saber qual seria o destino de Segovia, que deverá exercer a função de adido da PF nos Estados Unidos.
A decisão pela troca não tem relação com um episódio específico, mas levou em conta o desgaste de Segovia no cargo. Sua nomeação, em novembro passado, foi cercada de desconfiança e atribuída à indicação de emedebistas investigados.
Nos pouco mais de três meses que ficou no comando da PF, acumulou episódios polêmicos (mais informações nesta página). Logo na posse, disse que só uma mala de dinheiro não era suficiente para provar crime de corrupção no caso envolvendo a mala com R$ 500 mil recebida pelo ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures.
Um dia antes da demissão, PGR pede “ordem judicial” para que Segovia não comente inquéritos, sob pena de afastamento do cargo. ao chamado Decreto dos Portos. As declarações resultaram em uma forte reação de associações de delegados, um pedido de esclarecimento do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, além de uma petição da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que ele se abstivesse de “qualquer ato de ingerência” sobre investigação em curso, sob pena de afastamento do cargo.
Ontem, em outro episódio que demonstrou seu enfraquecimento no cargo, Segovia voltou atrás em um pedido para que delegados fornecessem o número do inquérito ao solicitar reforço para operações. Internamente, a norma é vista como praxe. Mas a crise de confiança envolvendo Segovia já era grande e a versão de que isso seria mais uma forma de intervir nas investigações ganhou força, resultando no recuo.
Cerimônia. Antes de ser demitido, Segovia prestigiou a posse de Jungmann, no Palácio do Planalto. Na terceira fileira, foi um dos puxadores de palmas após o discurso do novo ministro. Abordado por jornalistas, Segovia afirmou que não poderia falar sobre investigações porque a Justiça havia proibido suas manifestações. Após a cerimônia, ainda se reuniu com Jungmann. Pouco tempo depois, foi informado sobre sua demissão.
Ex-braço direito de Daiello no comando da PF, Galloro era o favorito para chefiar a corporação em novembro passado, quando foi preterido por Segovia. Seu nome era defendido pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, que, segundo relatos, comemorou a troca. Questionado pelo Estado, no entanto, Torquato negou ter influenciado na substituição. “Não há vencidos nem vencedores.”
Internamente, a nomeação de Galloro é considerada uma retomada do estilo de gestão de Daiello, que comandou a PF por quase sete anos. Galloro ingressou na corporação em 1995. Tem mais de 22 anos de carreira e foi adido da PF nos Estados Unidos. Também foi superintendente regional em Goiás. Para assumir o posto, deixa o cargo de secretário nacional de Justiça.
Colaboraram Naira Trindade e Vera Rosa
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