quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

'Quem for o candidato do mercado vai perder', diz FHC

Ex-presidente afirma no Fórum Estadão que o País não é composto 'só de mercado'

Daniel Weterman e Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que um candidato que defenda apenas bandeiras do mercado vai perder as eleições para presidente da República. "O País não é composto de mercado só. Quem for o candidato de mercado vai perder (as eleições)", disse FHC durante o primeiro evento da série 'A Reconstrução do Brasil' do Fórum Estadão realizado nesta terça-feira, 27, em São Paulo.

"É preciso candidato que mostre que a vida será melhor e mais segura. É preciso ter discurso, mas não é só discurso que convence", afirmou o ex-presidente. "O povo não sentiu melhorias do governo Temer."

FHC defendeu a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), à Presidência. Segundo ele, o pré-candidato tucano ao Planalto pode reunir condições para se tornar um líder estadista, mas que ele terá de encontrar "a mensagem" para passar ao eleitor. "A incerteza é tanta que um pouco de certeza pode ser positivo’, diz FHC sobre Alckmin. "O Brasil precisa de reconstruir a confiança, quer segurança, emprego e renda. O País precisa de coisas simples."

O ex-presidente negou que tenha "lançado" outros candidatos à Presidência, em referência ao apresentador e empresário Luciano Huck. "Parece que lancei quatro candidatos nas últimas semanas, mas não lancei", disse. "O Luciano é meu amigo, mas não lancei." Depois de muita especulação, apresentador desistiu de disputar as eleições para presidente.

Não vejo um candidato novo, diz ex-presidente
Após Huck anunciar que não pretende concorrer ao Planalto, FHC declarou que não vê mais nenhum nome que represente o "novo" na política e tenha condições de ser eleito neste ano. "Eu francamente não vejo idealmente um candidato (nesse campo)", disse o ex-presidente. Ele afirmou que um candidato novo teria dificuldade em estruturar uma aliança de partidos e tempo de propaganda suficientes para ganhar o pleito. "O novo, sem nada disso, é só uma ideia, não é uma compreensão política."

Para ele, a sociedade está "tateando" alguém novo na eleição, mas é preciso "jogar com as cartas que estão aí". Ele negou, mais uma vez, qualquer intenção em concorrer novamente à Presidência da República. "Eu tenho 86 anos, eu tenho e quero fazer outras coisas."

Governos que não são fortes apelam aos militares
Ao ser questionado sobre escolha de um general da reserva do Exército para ocupar o cargo de ministro da Defesa, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou que na América Latina há casos de governos que utilizaram os militares para se fortalecer.

"Governos, sobretudo quando não são fortes, apelam para os militares", citando como exemplo o final do governo do ex-presidente chileno Salvador Allende. A declaração de FHC foi dada durante o primeiro evento da série 'A Reconstrução do Brasil' do Fórum Estadão realizado nesta terça-feira, 27, em São Paulo. "No passado, colocar um civil na Defesa era símbolo de qual poder prevalece."

Nessa segunda-feira, 26, o governo anunciou o general Joaquim Silva e Luna para comandar o ministério da Defesa, ocupando a vaga de Raul Jungmann, deslocado para ocupar o cargo no recém-criado Ministério da Segurança Pública. Desde 1909, quando foi criada, é a primeira vez que um militar assume a pasta da Defesa. A mudança e a criação de um novo ministério foram decisões tomadas pelo governo após a intervenção federal na segurança no Rio de Janeiro.

"Em várias ocasiões (no meu governo) houve pressão para fazer intervenção na segurança nos Estados. Não fiz intervenção porque elas paralisam as reformas constitucionais", disse FHC, que defendeu uma mudança na maneira de os governos enfrentaram o problema das drogas no País. "A questão da segurança está ligada à corrupção. Questão do tráfico de armas é tão grande quanto a da droga. Tem de enfrentar a questão da droga de maneira diferente, não apenas repressiva."

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