Mesmo com suspeições em torno da nova pasta, devido ao governo Temer, ela pode servir para a tão reivindicada integração no combate ao crime
Apoio comunitário a policiais é opção para crise na segurança. Cercado de suspeições por se originar do governo Michel Temer e seu grupo no MDB, o Ministério Extraordinário da Segurança Pública está criado, entregue a Raul Jungmann, que saiu da Defesa tendo acumulado quilometragem no relacionamento com militares, essenciais no combate ao crime no estágio a que chegou no país. Espera-se que faça o que é imprescindível ser feito.
Há, neste ato, o aspecto positivo de ser o primeiro passo efetivo da União para, enfim, formalizar sua participação, junto com os demais entes federativos, no enfrentamento constante da séria crise de segurança pública que atinge o país, e há tempos. Desde a redemocratização, institucionalizada pela Constituição de 1988, nenhum presidente da República quis assumir o ônus de levar para o terceiro andar do Planalto o problema da segurança pública, embora fosse necessário.
No primeiro governo Lula, um então poderoso ministro esvaziou pertinente programa feito para integrar União, estados e municípios no combate ao crime, com o argumento meramente político-eleitoral de que era um erro permitir que cadáveres fossem depositados na porta do gabinete presidencial.
E continuou como sempre foi fundamentado no conceito constitucional — na varejista Carta brasileira, há de tudo — de que segurança pública é com os estados. E a externa, com a União, uma visão esquemática a que o crime organizado já não obedece faz tempo: está em todos os estados e também no exterior.
Fatos acontecidos nos últimos dias e meses ilustram bem os desafios que o novo ministério — robustecido pelas polícias Federal e Rodoviária e pela Força Nacional — tem de enfrentar.
São sugestivas as evidências de que há uma guerra interna no PCC, organização surgida em presídios de São Paulo, com execuções feitas no Ceará, até com o uso de helicóptero, e na portaria de hotel de luxo em São Paulo, no estilo cinematográfico de filmes sobre máfias. Outro fuzilamento, no trânsito paulistano, no sábado de carnaval, feito por sicários, pode também ter sido parte deste acerto de contas entre bandidos.
Mais uma demonstração da longa mão do crime, que se nacionalizou há tempos. Longa o suficiente para também atuar fora do país, como evidenciou um assassinato de brasileiro no Paraguai, numa emboscada tecnicamente bem planejada, uma escaramuça entre o PCC e o carioca Comando Vermelho.
Não há mesmo como esperar que polícias dos estados tenham êxito contra quadrilhas organizadas e que atuam com esta amplitude. Com todas as dúvidas e críticas ao novo ministério, resta aproveitar para ser feita a óbvia e necessária integração entre as forças de segurança de toda a Federação, como prometeu Jungmann ao tomar posse ontem. A criminalidade avançou bastante à frente do Estado.
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