Anunciada por Jungmann, queda estava decidida há duas semanas
Raquel Dodge pede ao Supremo que presidente seja incluído em investigação a respeito do suposto recebimento de propina da Odebrecht em troca de vantagens na Secretaria de Aviação Civil
A demissão do diretor da PF, Fernando Segovia, determinada pelo ministro Jungmann (Segurança Pública), já estava decidida pelo governo há duas semanas, diante da repercussão da entrevista em que o delegado sugeriu o arquivamento de inquérito sobre Temer. Em 111 dias, Segovia se envolveu em polêmicas e provocou rebelião na PF. O substituto será Rogério Galloro, atual secretário nacional de Justiça. A procuradora Raquel Dodge pediu ao Supremo que Temer seja investigado em inquérito que apura pagamento de propina pela Odebrecht em troca de benefícios na Secretaria de Aviação Civil.
Passagem relâmpago
Temer demite diretor-geral da PF após três meses de gestão marcada por fortes críticas
Jailton de Carvalho e Catarina Alencastro | O Globo
-BRASÍLIA- No primeiro ato depois de tomar posse, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungman, demitiu o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia e, no mesmo instante, nomeou o atual secretário Nacional de Justiça, Rogério Galloro, para comandar a instituição. Segovia reagiu com perplexidade à notícia da demissão. Pouco antes da divulgação da informação, o agora ex-diretor tinha participado de uma reunião de quase duas horas com Jungmann, Galloro e outros dirigentes de setores a serem transferidos da pasta da Justiça para o novo ministério.
A troca fez parte de um pacote acertado pelo Palácio do Planalto a partir da definição sobre a criação da nova pasta. Desde que o governo começou a gestar o decreto de intervenção no Rio, na semana retrasada, já era dada como inevitável na equipe mais próxima de Michel Temer a saída do diretor-geral, alvo de inúmeras críticas. O fato determinante foi a repercussão, principalmente jurídica, das declarações dadas por ele sugerindo um arquivamento da investigação contra o presidente. Faltava resolver o melhor momento para demiti-lo, de modo a não chamar ainda mais atenção para o episódio.
Uma espécie de cronograma foi montado pelo Planalto: primeiro Temer anunciaria a intervenção, cuja reação positiva era esperada da opinião pública; depois seria noticiada a criação do novo Ministério da Segurança Pública, dando sequência à pauta positiva do governo chamando para si o enfrentamento do problema que não é resolvido pelos estados; em seguida, seria informado o nome do novo ministro. Por fim, seria a hora de vir a público a demissão de Segovia. Assim, a saída do delegado seria entendida como um movimento natural: todo chefe que assume quer montar sua própria equipe.
— É natural que um ministro queira ter uma nova equipe. Todo o desgaste sofrido por Segovia fica para trás, torna-se irrelevante agora — conta um auxiliar palaciano, fazendo eco à explicação reverberada ao longo de toda a tarde pelo Planalto.
DESGASTE DENTRO DA PRÓPRIA CORPORAÇÃO
Para o governo, Segovia, que chegou ao cargo com o apoio de caciques do PMDB, como o expresidente José Sarney, perdeu as condições de permanecer à frente da Polícia Federal também por ter perdido o respaldo dentro da coorporação. Na mesma entrevista à agência Reuters, na véspera do feriado do carnaval, em que indicou o arquivamento do inquérito que investiga Temer pela edição de um decreto sobre portos, Segovia sugeriu que o delegado do caso, Cleyber Malta Lopes, poderia ser punido. Temer não teria gostado do teor das 50 perguntas que o delegado fez a ele por escrito no curso do inquérito, e Segovia sugeriu a abertura de procedimento interno caso o presidente formalizasse a reclamação.
A avaliação foi de que Segovia provocou um incêndio dentro da instituição. Inflamou os delegados responsáveis pela investigação e, como se não bastasse, irritou ministros do STF, como o relator, Luís Roberto Barroso, que interpelou o então diretor-geral a se explicar. Depois do forte desgaste, em vez de se recolher, Segovia teria se lançado num forte ofensiva em busca de apoio político para permanecer no cargo. Até governadores teriam intercedido em favor do ex-diretor. A movimentação surtiu efeito contrário ao esperado.
Num acerto com o Temer e o ministro da Justiça, Torquato Jardim, Jungmann optou, então, pela demissão sumária. Com Segovia fora de cena e a ascenção de Galloro, espera-se demonstrar que o governo não tem receio e nem vai interferir em qualquer investigação da Polícia Federal. Galloro, que foi diretor executivo durante a gestão do ex-diretor-geral Leandro Daiello, era o preferido do ministro da Justiça.
Na reunião com Jungmann e outros dirigentes, depois da posse do ministro, Segovia fez um balanço da situação da PF e não imaginou que sua demissão estivesse selada. Ao longo da apresentação, destacou a necessidade de que sejam abertas novos concursos. A defasagem de policiais seria de ao menos 4 mil homens. Também falou sobre a necessidade de integração da PF entre com a Polícia Rodoviária Federal. Quando retornou para a sede da PF, já estava demitido.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse a demissão de Segovia não foi motivada por críticas ao seu trabalho e que não houve “participação da classe política” na troca de diretores.
— Segovia não está sendo substituído por críticas. Nós entendemos que ele desenvolve um bom trabalho. Todavia, neste momento, quando o ministro Jungmann assume função de tanta responsabilidade, é natural que ele queira e deva montar a sua equipe em conformidade com as suas preferências. Não há nenhuma participação da classe política nessa troca. Não houve (pressão política) na nomeação e não há na substituição — declarou Marun. (Colaboraram Karla Gamba e Débora Bergamasco)
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