quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Vera Magalhães: Que tiro foi esse?

- O Estado de S.Paulo

Pela primeira vez desde a decretação da intervenção federal no Rio de Janeiro, há dez dias, um auxiliar de Michel Temer que participou das negociações reconheceu ontem que uma das variáveis levadas em conta na decisão, e na subsequente criação do Ministério da Segurança Pública, foi o medo do crescimento do apelo do “discurso reacionário e antidemocrático” na população do Rio.

Em resumo: o governo Michel Temer se pautou, entre outros fatores, pela necessidade de conter o apelo da candidatura de Jair Bolsonaro, calcada sobretudo na ideia de ordem, ao decidir pela intervenção e concentrá-la apenas na área da segurança – tornada uma prioridade da gestão.

A avaliação no Planalto é de que, num primeiro momento, a tática surtiu efeito. A prova seria a forma “desorganizada” com que o deputado e pré-candidato à Presidência reagiu à intervenção – sem apoiá-la de maneira clara em suas falas, mas votando favoravelmente na Câmara.

Aliados de Temer admitem, no entanto, que é cedo para que o governo possa comemorar como bem-sucedida a transformação da segurança em bandeira do presidente. Consideram que os passos dados até aqui são coerentes e mostram a disposição de lidar com o problema, mas serão necessários ao menos dois meses para que isso resulte em dados concretos.

Até lá, a ordem em Brasília é receber, mas represar, pedidos de ações em outros Estados. O instituto da intervenção é inédito e, como tal, não deve ser banalizado, afirma um auxiliar direto de Temer, que admite que isso poderia fazer o tiro sair pela culatra.

TROCA NA PF
Saída de Segovia foi forma de Jungmann vencer resistência

Raul Jungmann comunicou na segunda-feira a Temer que trocaria o diretor-geral da Polícia Federal. A saída de Fernando Segovia, contestado pela elite da PF, era condição necessária para o ministro vencer resistências à mudança da instituição para o o guarda-chuva da nova pasta.

FORA DO JOGO
Aliados de ministro descartam postulação à Presidência

A ascensão de Jungmann nas últimas semanas levou a especulações sobre sua entrada no páreo dos presidenciáveis. Aliados do ministro descartam a ideia de forma peremptória e dizem que nem haveria tempo hábil até 7 de abril para que ele colhesse frutos desse “empoderamento”.

SÃO PAULO
Doria vê embate DEM x PSD e resistência a deixar Prefeitura

Dirigentes do DEM refutam afirmações do QG de João Doria Jr. de que o apoio à eventual candidatura do prefeito ao governo de São Paulo está selado. As conversas emperraram pelo fato de o tucano ter fechado antes com o PSD de Gilberto Kassab e garantido até a vice ao ministro. A mesma disputa entre os dois partidos pela “janelinha” da aliança deve se repetir no plano nacional. Vacinado, Kassab tem dito que a dobradinha em São Paulo compensaria o fato de que sua ex-legenda deve ficar com a vice na chapa presidencial.

Além do embate entre os dois partidos pela primazia numa eventual aliança, o prefeito ainda enfrenta a resistência de grande parcela do eleitorado à sua possível renúncia ao mandato. A mesma pesquisa que lhe dá liderança em todos os cenários, feita pelo Instituto Paraná, mostra que 42% dos entrevistados acham que o Estado perde mais do que ganha com a renúncia, contra 39% que avaliam que a saída é benéfica.

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