sábado, 1 de junho de 2019

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso*

Pode mudar de nome, pode fazer coligação, mas no princípio não pode mudar. Tem que ser democrático e tem que ter lado, esse lado é do povo brasileiro.


*Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República em gravação, na Convenção do PSDB

Merval Pereira: Conflitos republicanos

- O Globo

Se houver um evangélico com competência, que seja indicado para o Supremo, mas não por sua religião

O presidente Jair Bolsonaro provocou mais uma polêmica ao insinuar que estaria na hora de nomear um ministro evangélico para o Supremo Tribunal Federal (STF). Mais uma vez ele confunde seu pensamento pessoal com as decisões de Estado.

Precisa se acostumar com o fato de que a opinião dele tem que refletir os anseios da sociedade e o interesse do Estado, e não há interesse em ter um evangélico no STF – nem evangélico, nem católico, nem de qualquer outra religião.

Se houver um evangélico com competência, que seja indicado, mas não por sua religião.

Já houve um ministro militante católico, Carlos Alberto Direito, nomeado por Lula. Que não foi nomeado por ser católico, mas por ser um brilhante jurista.

Lula também nomeou o primeiro ministro negro, Joaquim Barbosa, que tinha todas as qualidades acadêmicas para estar no Supremo e, com razão rejeitava a permanente insinuação do ex-presidente de que o nomeara por ser negro.

Barbosa transformou-se, depois de se aposentar, numa figura central nos embates políticos, por suas posições e seu comportamento como relator do mensalão. E só não foi candidato à presidência em 2018 porque não quis, convidado que foi por vários partidos.

Bolsonaro se referiu à possibilidade de indicar um evangélico para criticar a decisão do Supremo de transformar a homofobia em crime inafiançavel, como o racismo. O julgamento foi suspenso, mas existe uma maioria fixada, pois seis ministros já votaram a favor da criminalização. Bolsonaro reclamou: “Estão legislando”.

O ex-presidente do Supremo Ayres Brito, discorda. Diz que, a rigor, o Supremo não está legislando. Ele lembra que há decisões que, por autorização constitucional, têm efeitos que se aplicam a todos.

Ayres Brito explica, nesse caso: o inciso 41 do artigo 5 da Constituição define: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. O que fez o legislador diante desse comando?, pergunta Ayres Brito. “Nada, ficou silente durante 30 anos, desobedecendo ao comando constitucional”.

Para esses casos, lembra o ministro do STF aposentado, a Constituição tem a figura da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) por omissão. Quando houver omissão legislativa, falta da norma regulamentadora, as partes podem entrar no Supremo com uma ADI.

O STF, constatando a omissão, preenche a lacuna, explica Ayres Brito. “Não fazendo uma lei, mas exarando uma decisão que vale enquanto o legislador não cumprir com o seu dever”.

Míriam Leitão: Risco ambiental atinge a economia

- O Globo

Ingerência de ministro no Fundo Amazônia pode levar à quebra de contrato. Entre os noruegueses, há pessimismo e perplexidade

Investidores de um país europeu procuraram uma autoridade brasileira da área econômica. A primeira pergunta não foi sobre a questão fiscal, mas sim sobre o meio ambiente. Queriam saber que garantias o Brasil daria de respeito às leis ambientais. Disseram que olham com extremo cuidado esse assunto, tanto que nunca investiram na Vale porque não sentiam confiança na governança da empresa nessa área e hoje sabem que acertaram. Contaram que os investidores de seus países querem saber exatamente que tipo de prática suas aplicações estão estimulando.

A reunião que houve na segunda-feira, 27, entre o ministro Ricardo Salles e os embaixadores da Noruega e da Alemanha foi constrangedora. Eles pediram dados concretos que justificassem as suspeitas levantadas pelo ministro sobre a direção do Fundo Amazônia, e ele respondeu com críticas genéricas. Eles não têm ingerência no dinheiro, mas a estrutura de governança foi amarrada no contrato.

O ministro, ao desmontar o conselho, pode ter quebrado esse contrato. Há neste momento, segundo uma fonte que acompanha as conversas, perplexidade e pessimismo entre os noruegueses. Se os financiadores recuarem, os governos estaduais sentirão falta desse dinheiro instantaneamente. Há secretarias de meio ambiente, como as do Pará e do Acre, cuja maioria dos projetos é financiada pelo Fundo Amazônia.

Por diversas formas esse comportamento desastrado na área ambiental pode afetar a economia. O presidente Jair Bolsonaro pode dizer que não enganou ninguém e que seu projeto na campanha era inclusive o de acabar com o ministério setorial. Porém, o governo não está entendendo que suas decisões ambientais afetarão a economia. O ministro Ricardo Salles detesta o meio ambiente, nunca tinha ido à Amazônia e é adepto fervoroso do centralismo estatal. Seus atos invertem o lema da campanha de Bolsonaro e impõem mais Brasília e menos Brasil nos conselhos ambientais.

Ruth de Aquino: Abrir guarda-chuva dentro de casa dá azar, Weintraub

- O Globo

Por que Weintraub será demitido mais cedo ou mais tarde? Aí vão cinco motivos.

1) Porque não sabe conjugar o verbo haver. Ele disse que "haviam emendas parlamentares". E não é ministro da Agricultura ou de qualquer outra pasta. Precisa dominar o Português. É ministro da Educação.

2) Porque está ameaçando e ofendendo estudantes e professores. Se fosse ministro dos Transportes, não poderia peitar ou insultar caminhoneiros, por exemplo. É ministro da Educação.

3) Porque está achando que pode fazer piada sem graça como Bolsonaro. Não, ele não tem a caneta Bic do Poder. Quem tem a primazia das piadas toscas é o patrão dele. Weintraub não pode ser deselegante e criar problemas numa pasta essencial e crucial. É ministro da Educação.

4) Porque está fazendo com que o Brasil sinta saudade do colombiano. É ministro da Educação e seu vídeo ridículo e suas ameaças estão correndo o mundo e desmoralizando a pasta.

5) Porque não dá bola para superstição e o Brasil tende a acreditar em superstições. Ninguém disse a ele que abrir guarda-chuva dentro de casa dá azar.

O ministro da Educação achou que estava "singing in the rain" mas vai mesmo é dançar.

Marcus Pestana: O Código Florestal, a produção e a sustentabilidade

- O Tempo (MG)

Insegurança jurídica é um dos grandes empecilhos no Brasil

A semana foi movimentada em Brasília. Não só foi aprovada a Medida Provisória (MP) 870, que reestrutura a máquina administrativa do governo federal, como também outras MPs foram apreciadas na data-limite em que venciam suas vigências.

Para o setor ambiental, no entanto, o resultado não foi bom. Não só caducou a MP 877, que estabelecia o novo Marco Regulatório para o Setor de Saneamento, como se estabeleceu enorme polêmica acerca da MP 867, que previa inicialmente apenas a prorrogação de prazos para a efetiva implantação do Código Florestal, votado em 2012.

A discussão sobre a convivência entre crescimento econômico e preservação ambiental não é nova. Antes da década de 70, a preocupação não era central. Apenas em 1972 foi realizada a 1ª Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, em Estocolmo. Em 1992, promovemos no Brasil a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. O Brasil assumia protagonismo no tema em escala global.

Em 2012, num dos momentos mais marcantes de minha passagem pela Câmara, tivemos uma rica experiência de exercício da democracia, com um intenso debate entre ambientalistas e setor produtivo, e conseguimos aprovar o Código Florestal. O relator da matéria, o então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), conseguiu produzir uma síntese equilibrada entre o estímulo à produção rural e a proteção ao meio ambiente.

Miguel Reale Júnior*: Mais Messias do que Jair

- O Estado de S.Paulo

Estamos diante de novo surto sebastianista, com uma mistura de religião e política

Com impetuosidade, dom Sebastião levou tropas portuguesas sob seu comando a lutar contra os marroquinos, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, na qual grande parte da elite de Portugal morreu e o rei desapareceu. Com o vazio em sua sucessão ao trono português, impôs-se o domínio espanhol. Logo surgiu o imaginário de que dom Sebastião estava vivo, “encoberto”, e apareceria para salvar a nação, livrando-a do despotismo castelhano.

O Brasil viveu ao longo do tempo fenômenos similares circunscritos, mas referenciados, ao mito de dom Sebastião. Como dizem Edna da Silva Polese e Sérgio Fernandes de Lima, o sebastianismo atravessou fronteiras temporais e espaciais com o surgimento, em momentos de infelicidade e de perdas, da crença no aparecimento de um salvador, um restaurador da ordem e da justiça (Revista Letras v. 16, n.º 19;https://periodicos.utfpr.edu.br/rl e http://daofilho.blogspot.com/p/o-sebastianismo-no-romance-pedra-bonita.html).

José Lins do Rego e Ariano Suassuna bem contam nos romances Pedra Bonita e A Pedra do Reino o episódio ocorrido em Pernambuco em 1838, na Serra Formosa, ao lado de formação rochosa. João Antônio dos Santos e depois seu sucessor, João Ferreira, alardeavam que dom Sebastião, incrustado na pedra, voltaria para trazer a bem-aventurança. Para tanto a pedra deveria ser banhada de sangue, promovendo-se grande massacre.

Igualmente no início da República Antônio Conselheiro, beato que se instalara em Canudos, na Bahia, proclamava a volta de dom Sebastião. Este retornaria dos mortos para restaurar a monarquia no Brasil e transformar males em bem, o sofrimento em alegria, o injusto no justo, numa visão imaginária delirante, bem retratada por Euclides da Cunha ao lembrar trova de Canudos: “Garantidos pela lei Aquelles malvados estão, Nós temos a lei de Deus, Elles tem a lei de cão”.

O mito do sebastianismo ilude a vinda de figura heroica que se sacrifica, com risco da própria vida, para promover uma nova era, um modo purificador de realizar as coisas com justiça em rumo ao paraíso.

João Domingos: A reação do Congresso

- O Estado de S.Paulo

De forma involuntária, Bolsonaro pode ter feito um bem para a política

O presidente Jair Bolsonaro pode ter feito um bem muito grande ao Congressoquando optou por montar um Ministério livre das amarras das negociações partidárias que marcaram o presidencialismo de coalizão nas últimas décadas. Tal decisão, que parece ter nascido de um pagamento de promessa de Bolsonaro, segundo a qual não lotearia seu governo, e de uma ação politicamente egoísta, no estilo “eu ganhei a eleição, o governo é meu e não vou dividi-lo”, mexeu com os brios partidários.

Também fez o Congresso reagir a uma situação à qual estava acostumado e já havia se rendido, a de ser uma espécie de apêndice do Poder Executivo, carimbador de medidas provisórias editadas pelo presidente da República, alienado de suas próprias tarefas e, por consequência, preguiçoso. Em muitas situações, mas muitas mesmo, deputados e senadores preferiram negociar com o Palácio do Planalto uma medida provisória, que se transforma em lei assim que é editada, a apresentar um projeto de lei, esperar sua longa e cansativa tramitação, batalhar por ele no plenário e ainda correr o risco de sofrer uma derrota. Com a MP, basta fazer uma emenda contentando um determinado setor que a situação está resolvida. De forma rápida e prática.

Do governo de Fernando Henrique Cardoso (1998/2002) para cá, deputados e senadores transformaram-se numa espécie de despachantes de luxo de governadores, prefeitos, corporações e empresas em ministérios entregues aos partidos, portanto feudos próprios onde mandaram e desmandaram.

Marco Antonio Villa: Bolsonaro e a democracia

- IstoÉ

Em vez de demonizar o Congresso e qualquer diálogo político, o presidente deveria batalhar pelos projetos que seu próprio governo defende

A manifestação de 26 de maio não alterou em nada a situação política. Permanece a tensão entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Houve um discreto apoio oficial aos atos, mas sem a participação direta do presidente da República. Se o objetivo era o de emparedar o Congresso, acabou fracassando. As ruas não ficaram tomadas pelo povo, como nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff.

A questão central é a governabilidade. Algo que não será resolvido com os apoiadores de Jair Bolsonaro nas ruas. Se nada mudou, então o governo perdeu. Ficou demonstrado que o apoio popular está menor do que estimado. Pode ser que o presidente tenha caído na armadilha das redes sociais. O mundo virtual não é o melhor conselheiro político. E mais: robôs não fazem história.

O Palácio do Planalto padece de um déficit de democracia. As constantes diatribes de Bolsonaro contra o funcionamento do Congresso reforçam o seu desinteresse pela negociação política, essência da democracia. A demonização dos partidos e das principais lideranças políticas do Parlamento compõe o receituário. Nesses cinco meses de presidência, ele não deu nenhum sinal real de que pretende conviver com a independência dos poderes. É provável que até desconheça o funcionamento de cada poder consagrado na Constituição, apesar de ter permanecido 28 anos na Câmara dos Deputados.

*Demétrio Magnoli: Nossa Moncloa de mentira

- Folha de S. Paulo

Partidos podem firmar pactos, pois representam seus eleitores; Poderes, não

O "pacto dos três Poderes" ensaiado por Toffoli, Rodrigo Maia eBolsonaro foi descrito como uma reedição dos pactos assinados no governo Lula, em 2004 e 2009. A interpretação apega-se à forma para ignorar a substância. Os pactos lulistas circunscreviam-se à criação do Conselho Nacional de Justiça e à reforma do Judiciário. Já o "Pacto pelo Brasil", nome cunhado no forno da novilíngua orwelliana, pretende reinventar a sociedade (reformas previdenciária e tributária) e o Estado (pacto federativo, administração pública e segurança pública). Seria a nossa versão da Moncloa: uma Moncloa ao avesso.

O Pacto da Moncloa —um acordo político e outro econômico, assinados em outubro de 1977— traçou o rumo da transição espanhola do franquismo à democracia parlamentar. Na foto histórica, estão os líderes dos partidos de direita (Manuel Fraga, da AP), centro-direita (Adolfo Suárez e Calvo-Sotelo, da UCD), centro-esquerda (Felipe González e outros), esquerda (Santiago Carrillo, do PCE) e dos autonomistas bascos e catalães. A reinvenção da Espanha, obra quase milagrosa, foi um pacto entre partidos, não entre Poderes. Sugiro aos três "pactuadores do Brasil" que estudem o evento do Palácio da Moncloa, uma aula magna sobre a arte da construção de consensos democráticos.

Os espanhóis fizeram uma grande transação. A economia herdada do franquismo, um capitalismo de Estado erguido sobre oligopólios, desfazia-se sob os golpes da inflação e do déficit público. As reformas modernizantes nas esferas fiscal e previdenciária envolveram a contenção temporária de aumentos salariais. Os social-democratas e comunistas aceitaram a pílula amarga em troca de reformas políticas que consagraram as liberdades de imprensa, associação e manifestação, além da criminalização da tortura e da despenalização do adultério. Na encruzilhada da reforma previdenciária, o Brasil teria transações significativas a realizar, se escolhesse inspirar-se na experiência da Espanha.

Hélio Schwartsman: O poder da inteligência

- Folha de S. Paulo

Segurança aeronáutica é exemplo de que o anti-intelectualismo não se justifica

Um dos ingredientes da onda de populismo de direita que afeta vários países é a perda de confiança na figura do especialista. Não é uma coincidência que o anti-intelectualismo marque o discurso de figuras tão distintas como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Não vou discutir hoje as origens dessa descrença, mas apenas tentar mostrar que ela não se justifica (ao menos não de forma generalizada).

Um bom exemplo do poder da inteligência é a segurança aeronáutica. Em meados dos anos 70, a taxa de óbitos por milhão de voos comerciais era um pouco superior a quatro. Hoje, é inferior a 0,5. A razão principal para a diminuição são melhorias tecnológicas e de procedimentos concebidas por especialistas.

O que tornou os avanços na aviação tão perceptíveis é uma rara conjunção de fatores. Para começar, a maior parte dos problemas a resolver é de física (clássica), e a física, ao contrário de seres humanos, responde de modo sempre igual às intervenções.

Julianna Sofia: Sim para Michelle

- Folha de S. Paulo

Presidente acatou pedido da primeira-dama para mudar Previdência. Há outros 277 na fila

A primeira-dama Michelle Bolsonaro pediu ao marido que exclua da reforma da Previdência dispositivo que poderia reduzir os direitos de deficientes físicos e intelectuais (grau leve e moderado) a pensões do INSS. Jair Bolsonaro atendeu. Mandou seus auxiliares revisarem a medida, pois se trata de demanda irrecusável, vindo de quem vem.

Deputados apresentaram 277 pedidos para alterar a PEC previdenciária—volume 70% maior que o registrado na reforma das aposentadorias de Michel Temer, que naufragou na Câmara em 2017. Em sua maioria, as emendas propostas pelos parlamentares buscam rever o endurecimento de normas para as aposentadorias de policiais e professores, além dos benefícios de idosos carentes e trabalhadores rurais.

Também querem estabelecer uma regra de transição para a idade mínima de servidores públicos e barrar o aumento das alíquotas previdenciárias para o funcionalismo.

Ricardo Noblat: A João Doria o que é dele

- Blog do Noblat / Veja

Troca de gerações
Menos à esquerda para em 2022 disputar o voto conservador com o presidente Jair Bolsonaro caso ele tente se reeleger, ou com o candidato apoiado por ele.

Mas não muito à direita para evitar que o eleitor de Bolsonaro acabe pensando assim: ora, se é para trocar seis por meia dúzia, ficarei então com o que já conheço.

Essa é a pretensão do PSDB que emergiu, ontem, da convenção que elegeu seu novo presidente, o ex-deputado federal por Pernambuco Bruno Araújo, apoiado pelo governador João Doria, de São Paulo.

Foi uma eleição de um só candidato. Bem que os velhos caciques do partido tentaram formar uma chapa para enfrentá-lo, mas não conseguiram. A convenção marcou uma troca de gerações.

Saíram de cena nomes tradicionais do PSDB – o ex-presidente Fernando Henrique que nem apareceu por lá, o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) e o senador José Serra (SP) que apareceram.

Entraram Dória e os seus garotos. O deputado federal Aécio Neves ainda conseguiu emplacar alguém da sua turma na primeira vice-presidência. Mas foi também Dória que emplacou o tesoureiro.

O sonho do governador de São Paulo é atrair para suas bandas o DEM do deputado Rodrigo Maia e do prefeito de Salvador ACM Neto, assim como o PSD do ex-ministro Gilberto Kassab.

Tentará atrair também algumas siglas que hoje fazem parte do chamado Centrão, como o PP do senador Ciro Nogueira (PI). “O PSDB é um partido de centro”, reafirmou seu novo presidente.

Como tal, não se alinhará ao governo Bolsonaro. Mas poderá compartilhar com ele ideias comuns, tais como a reforma da Previdência e a privatização de mais empresas estatais.

Coube a Alckmin bater em Bolsonaro. E ele surpreendeu pela contundência. Chamou Bolsonaro de “oportunista” e disse que o bolsonarismo não passa de uma “grande mentira”.

Dória foi mais ameno nas críticas a Bolsonaro. “Continuo entendendo que o PSDB não deve fazer este alinhamento [com o governo], mas deve apoiar as boas iniciativas para o país”, disse.

A próxima sucessão presidencial ensaia seus primeiros passos.

Toffoli x Toffoli

Juiz não pode ter vontade
Em palestra, ontem, na Federação da Indústria do Estado de São Paulo, o ministro José Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, ensinou o que ele parece ter esquecido.

O novo tucano-mor: Editorial / Folha de S. Paulo

Convenção do PSDB consolida ascensão de Doria, que articula visando à Presidência

Em convenção nacional realizada nesta sexta (31), o PSDB elegeu novo presidente e formalizou as mudanças por que vem passando desde as eleições do ano passado.

A derrota acaçapante da candidatura presidencial do ex-governador Geraldo Alckmin e o triunfo do ex-prefeito da capital João Doria na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes selaram uma nova fase na vida do partido —que foi punido pelo eleitorado e saiu das urnas menor do que entrou.

Colhida pela onda bolsonarista, a sigla, que se apresentava como opção mais ao centro do espectro político, perdeu força e viu crescer o apelo de posições mais à direita, em particular no pleito paulista.

Ao perceber para onde os ventos sopravam, Doria, que já prometia linha-dura na segurança e mostrava-se fervoroso crítico do PT, não hesitou em dar novos passos para associar sua imagem à do então presidenciável Jair Bolsonaro.

Chegou, nesses esforços, a ver-se repelido numa incursão ao Rio de Janeiro com objetivo de encontrar-se com o candidato do PSL.

Ao final da disputa, a guinada à direita foi recompensada e o novo governador tornou-se a figura de proa de seu partido. De olho na próxima etapa, a corrida presidencial de 2022, Doria sabe que desta vez Bolsonaro estará do outro lado.

Tratou, portanto, nos últimos meses, de ajustar rumos e lançar as bases para uma possível aliança eleitoral de centro-direita.

Convidou integrantes do governo de Michel Temer (MDB) para suas secretarias, passou a marcar posições em contraste com algumas medidas anunciadas por Bolsonaro e tem mantido boa relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A quem interessa a polarização?: Editorial / O Estado de S. Paulo

Do mesmo modo como as manifestações da semana passada em favor da reforma da Previdência e de outras propostas do governo não podem ser confundidas com o golpismo explícito de uma minoria estridente, os protestos da quinta-feira passada contra os cortes na Educação não podem ser vistos como um movimento capitaneado pelos petistas que ali estiveram. Em ambos os casos, pessoas comuns, sem vinculação partidária ou sindical, exerceram seu legítimo direito de manifestação, sem incidentes e vandalismo, sintoma de uma democracia saudável.

Contudo, os irresponsáveis não se dão por vencidos. Na passeata dos estudantes contra o governo, havia carros de som da Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do PT, além da presença dos conhecidos oportunistas dos movimentos de sem-terra e de sem-teto. Em Brasília, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, subiu num carro de som, prometeu mobilização permanente nas ruas e desafiou o presidente Jair Bolsonaro: “Nós não temos medo de você”.

Já o líder petista Rui Falcão celebrou a manifestação dos estudantes dizendo que “hoje é dia de Lula”, sem explicar exatamente o que os cortes na área de Educação têm a ver com o presidiário petista. Por fim, mas não menos significativo, o PT pegou carona nos protestos para lançar suas palavras de ordem contra a reforma da Previdência, numa descarada tentativa de sequestrar, para seus propósitos deletérios, o legítimo movimento dos estudantes e professores.

Enquanto isso, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, exercia aquela que parece ser sua principal habilidade — provocar protestos contra sua pasta e contra o governo. Depois de ter sido o responsável direto pelas expressivas manifestações do dia 15 passado, por ter dito que cortaria verbas de universidades que, em sua opinião, se dedicavam à “balbúrdia”, Weintraub advertiu os estudantes e professores que o Ministério da Educação (MEC) está atento àqueles que, segundo ele, estavam “coagindo os alunos” a participarem dos protestos contra o governo. E o titular da Educação foi além: em nota oficial, mandou dizer que “professores, servidores, funcionários, alunos, pais e responsáveis não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar” e que essa atitude deve ser denunciada ao MEC. Ou seja, o ministro da Educação acha que pode exigir que até mesmo os pais de alunos sejam proibidos de externar suas opiniões políticas, sob o argumento de que atrapalham a aula.

Não há saída sem reforma adequada da Previdência: Editorial / O Globo

Ensina a experiência que medidas voluntaristas de nada adiantam, vide o que aconteceu com Dilma

A conjugação da tramitação do projeto de reforma da Previdência com a informação do IBGE de que o PIB se retraiu 0,2% no primeiro trimestre, o que aproxima o país de mais uma recessão, serve bem para ilustrar este momento em que política e economia se misturam. Há uma subordinação da postura dos agentes econômicos ao que acontecerá no front desta reforma. E enquanto pairar a incerteza sobre a aceitação do projeto no Congresso, não funcionarão engrenagens vitais para o sistema produtivo voltar se mover.

Como as dos investimentos, que recuaram 1,7%, pelo segundo trimestre consecutivo. Significa que a capacidade produtiva não se expande. Indicador indiscutível da falta de confiança. Há algum tempo reivindicam-se do governo ações de curto prazo destinadas a reaquecer a produção. O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, acaba de acenar com mais uma rodada de liberação do FGTS, medida já tomada no governo Temer. Mais dinheiro no bolso da população aquece o consumo das famílias, o que, por sinal, evitou que a retração fosse maior — o consumo da população, que representa 64% da formação do PIB, cresceu 0,3%.

Permitir saque no FGTS ajuda, em tese, a manter esta tendência. O ministro, porém, condiciona a medida à aprovação da reforma, que precisa no mínimo gerar uma economia em dez anos de R$ 1 trilhão. Não é errado dizer que a Previdência tem de ser complementada por outras ações. Mas, sem esta reforma, imprescindível para que saia do horizonte a perspectiva da insolvência do Estado, investimentos continuarão nas gavetas.

Bolsonaro quer evangélico no STF

Ao participar de convenção evangélica realizada em Goiânia, o presidente Jair Bolsonaro criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por estar “legislando” na questão da criminalização da homofobia. Ele sugeriu, ainda, que cogita nomear um evangélico para a Corte. Para juristas, preferência religiosa não pode ser fator determinante na escolha.

Após propor pacto, Bolsonaro critica STF e defende um religioso para a Corte

Marco Grillo e Carolina Brígido / O Globo

BRASÍLIA - Na mesma semana em que propôs um pacto entre Executivo, Legislativo e Judiciário e elogiou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, o presidente Jair Bolsonaro acusou ontem a Corte de legislar. Ele também defendeu que pelo menos um dos 11 ministros do tribunal seja evangélico.

As declarações de Bolsonaro foram dadas ao participar da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira, em Goiânia. O agrado ao público evangélico ocorre no momento em que parlamentares ligados ao segmento fazem oposição à proposta do governo de ampliar a concessão de porte de armas no país.

Bolsonaro falou do tema ao criticar a possibilidade de o Supremo enquadrar a homofobia como crime de racismo. Já há maioria no STF a favor da criminalização da homofobia, mas o julgamento foi interrompido e deverá ser retomado na semana que vem.

—O Supremo Tribunal Federal agora está discutindo se homofobia pode ser tipificada como racismo. Desculpem, ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem eu respeito, e jamais atacaria um outro Poder. Mas, ao que parece, estão legislando. O Estado é laico, mas eu sou cristão.

Como todo respeito ao Supremo Tribunal Federal, existe algum, entre os 11 ministros, evangélico, cristão assumido? Não me venha a imprensa dizer que quero misturar Justiça com religião. Será que não está na hora de termos um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico? —disse Bolsonaro, sendo aplaudido.

A primeira cadeira a ser preenchida por Bolsonaro no STF será, provavelmente, a do atual decano, Celso de Mello. Ele vai se aposentar em novembro do ano que vem, quando completa 75 anos. No início do mês, Bolsonaro havia dito que o ministro da Justiça, Sergio Moro, preencheria a vaga em 2020, mas depois recuou dizendo que não há nenhum acordo fechado para a nomeação. Moro é católico.

Bolsonaro questiona STF 'legislando' e cobra ministro evangélico na corte

Presidente tratou do tema ao mencionar julgamento sobre criminalização da homofobia

Talita Fernandes / Folha de S. Paulo

GOIÂNIA - Em evento nesta sexta-feira (31) na igreja Assembleia de Deus, em Goiânia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cobrou um ministro evangélico no STF (Supremo Tribunal Federal).

“Será que não está na hora de termos um ministro do STF evangélico?”, perguntou o presidente, ao falar para um público da igreja Assembleia de Deus Ministério Madureira. À noite, Bolsonaro ainda compartilhou a mensagem com vídeo em sua conta em redes sociais.

O presidente também questionou se a corte não estaria “legislando”, ao julgar uma ação que trata da criminalização da homofobia.

Sua fala foi seguida de uma forte salva de palmas, e os presentes chegaram a levantar em sinal de aprovação às palavras do presidente.
A indicação de ministros do Supremo é uma atribuição do presidente da República, que depois precisa ser aprovada pelo Senado. Até o final de seu mandato, Bolsonaro poderá indicar ao menos dois deles.

O primeiro ministro do Supremo que deve deixar a corte é o decano Celso de Mello, que completa 75 anos —a idade de aposentadoria obrigatória— em novembro de 2020. A segunda vaga no STF deve ficar disponível com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.

Bolsonaro já disse que a primeira vaga está reservada ao ministro Sergio Moro (Justiça), ex-juiz da Lava Jato. Questionada, assessoria da Justiça disse desconhecer a religião do ministro.

Bolsonaro participou nesta sexta-feira, em Goiânia, da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM).

O assunto STF foi abordado por Bolsonaro quando ele mencionou o julgamento sobre a criminalização da homofobia. “Existe algum entre os 11 ministros do STF evangélico, cristão?”, indagou.

Ao tratar do tema, Bolsonaro disse que a imprensa que estava presente no evento “vai ter que desvirtuar algo” da sua fala.

Pedindo desculpas ao STF, a quem disse que não pretendia atacar, disse: “Desculpa o Supremo. Eu jamais atacaria um outro Poder, mas não estão legislando?”

Bolsonaro disse que o Estado é laico, mas ele, cristão. “Se me permitem plagiar a ministra Damares, eu também sou terrivelmente cristão”, falou.

Em nova crítica à imprensa, disse: “Não me venha a imprensa dizer que quero misturar a Justiça com religião”.

Bolsonaro defende agenda conservadora e critica o STF

Em Goiás, presidente sugere que pode indicar magistrado evangélico ao Supremo e almoça com caminhoneiros

Rafael Moraes Moura Teo Cury Vera Rosa / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em discurso na Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, em Goiânia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou a atuação do STF ao enquadrar a homofobia como racismo, sem aguardar decisão do Congresso sobre o tema. O presidente sinalizou que pode indicar para a Corte um magistrado evangélico. “Será que não está na hora de termos um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico?”, perguntou, sob aplausos da plateia. 

A crítica à atuação do STF ocorreu três dias depois de articular um “pacto pelo Brasil” com o Judiciário e o Legislativo. Ainda em Goiás, e em mais um encontro com sua base eleitoral, Bolsonaro desceu de helicóptero em posto de gasolina de beira de estrada em Anápolis e almoçou com cerca de 30 caminhoneiros. Ele disse que seu governo não vai lotear cargos e só mudará sua postura “se alguém cassar” o seu mandato.

Três dias depois de articular um “pacto pelo Brasil” em parceria com o Judiciário, o presidente Jair Bolsonaro criticou ontem a atuação legislativa do Supremo Tribunal Federal (STF) por enquadrar a homofobia como racismo, antes mesmo de o Congresso decidir sobre o tema. O presidente indicou que pretende escolher para o tribunal um magistrado evangélico, alinhado com sua ideologia e parte expressiva de sua base eleitoral.

“Não me venha a imprensa dizer que eu quero misturar a Justiça com a religião. Todos nós temos uma religião ou não temos. Respeitamos e tem que respeitar. Será que não está na hora de termos um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico?”, perguntou o presidente, aplaudido de pé por fiéis que participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, em Goiânia.

A sinalização de Bolsonaro de que pode indicar um ministro de perfil conservador para o Supremo ocorre em um momento em que a Corte é cobrada para decidir sobre a chamada “pauta de costumes”, que contraria o seu “eleitorado raiz”. Além do julgamento da homofobia, que deve ser concluído em 13 de junho, tramitam no Supremo processos sobre a descriminalização da maconha e do aborto, o uso de banheiro por transexuais e as restrições para a doação de sangue por homens homossexuais. Todos esses assuntos são tema de projetos emperrados no Congresso.

Relator de uma das ações sobre homofobia, o decano do STF, ministro Celso de Mello, rebateu o presidente ao afirmar que é “absolutamente irrelevante a fé religiosa que um juiz da Suprema Corte possa ter”. “Nesse domínio, há de prevalecer, sempre, um comportamento de absoluta neutralidade dos magistrados em assuntos de ordem confessional”, disse.

Um outro ministro, no entanto, afirmou em caráter reservado que a escolha de um evangélico para a Corte pode ser uma boa opção. O magistrado disse, ainda, que muita gente concorda com o pensamento de Bolsonaro sobre a criminalização da homofobia.

Na prática, o comentário do presidente reanimou a bolsa de apostas sobre as indicações que ele fará ao STF. O juiz federal Marcelo Bretas, que atua no braço da Operação Lava Jato no Rio, por exemplo, é evangélico. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, é católico.

Sob tensão, PSDB elege Bruno Araújo, aliado de Doria, para presidir partido

Ex-deputado sucede Alckmin no comando da sigla ao ser eleito em chapa única

Carolina Linhares, Daniel Carvalho / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo (PE), 47, foi eleito presidente nacional do PSDB nesta sexta-feira (31) em Brasília com o objetivo de colocar em prática as diretrizes do novo PSDB, engendrado pelo governador João Doria (SP), hoje principal líder do partido na ativa.

Doria, que constrói a sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2022, foi recebido pela militância tucana aos gritos de “Brasil pra frente, Doria presidente”. Em um espaço de eventos, o governador paulista chegou acompanhado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), de quem se tornou aliado na articulação para aprovação da reforma da Previdência.

Bruno Araújo sucede o ex-governador Geraldo Alckmin no comando do PSDB. Ele foi eleito em chapa única não porque todos os tucanos concordem com os rumos ditados por Doria, que prega renovação, mas porque caciques fundadores da sigla não conseguiram viabilizar um nome competitivo.

O novo presidente do PSDB, assim como Doria, afirma que o partido será de centro –rejeitando o que consideram extrema esquerda e extrema direita. Ambos, no entanto, colaram suas campanhas no ano passado a Jair Bolsonaro (PSL), para surfar na onda conservadora que elegeu o presidente da República.

Em Pernambuco, Araújo é conhecido como um político tradicional, pragmático e habilidoso nos bastidores. No ano passado, chegou a elogiar o ex-presidente Lula (PT) classificando o petista, cuja popularidade é alta no Nordeste, de “presidente excepcional”.

Em 2015, ganhou holofote nacional ao proferir o voto que sacramentou, na Câmara, a admissibilidade do impeachment da ex-presidente Dilma (PT). Araújo é advogado e filho do ex-deputado estadual Eduardo Araújo. Em 1998, aos 26 anos, foi eleito pelo PSDB o deputado estadual mais jovem de Pernambuco.

Nesta sexta, logo após sua eleição ao comando do partido, Araújo disse que o PSDB terá uma postura de independência em relação ao governo Bolsonaro e fará oposição quando achar necessário.

"[Teremos] uma posição de absoluta independência. Se for necessário, oposição nos momentos em que haja discordância, e há", afirmou o tucano.

"Primeiro em relação à compreensão que democracia se constrói num processo de diálogo com as instituições, de forma firme. Não é só chamando para assinar algumas folhas de um pacto. É com interlocução direta, tratando com os representantes da sociedade civil organizada", completou.

O novo presidente tucano defendeu que o partido feche questão a favor da reforma da Previdência e afirmou que vai trabalhar para tirar do partido a característica de não ter posicionamento claro sobre os principais temas do país, como, por exemplo, o decreto sobre porte de armas.

Representantes de DEM, MDB, PP, PL (ex-PR) e PRB participaram da convenção, mas Araújo disse acreditar ser muito cedo para se falar sobre se refazer a aliança para as eleições de 2022.

Na convenção desta sexta-feira, a tensão entre a velha guarda tucana e aliados de Doria ficou evidente, por meio de discursos e de uma briga. Dois grupos da juventude do partido, um ligado ao governador paulista e outro ligado e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, trocaram agressões físicas.

Alckmin: ‘Bolsonarismo é uma mentira: onde está a agenda desse governo?’

Presidenciável tucano derrotado em 2018, ex-governador compara Bolsonaro ao PT e nega que PSDB é pressionado para dar guinada à direita

Daniel Weterman / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Após uma série de discursos em que o presidente Jair Bolsonaro foi poupado, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin encerrou a convenção nacional do partido atacando o governo e classificando o bolsonarismo como uma “mentira”, comparando o posicionamento de Bolsonaro ao PT. Ele manifestou solidariedade ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por ter sido criticado pelo presidente da República.

“Esses oportunistas políticos por 30 anos, numa deslealdade, vêm atacar a vida dos homens públicos jogando a sociedade contra suas instituições. Não temos duas verdades, a extrema-direita e a extrema-esquerda. Temos duas grandes mentiras, o petismo e o bolsonarismo”, discursou o tucano, que entregou a presidência do partido ao ex-deputado Bruno Araújo. “Onde está a agenda de competitividade desse governo? Vamos ter coragem de criticar, pôr o dedo na ferida.”

Após a convenção, em coletiva de imprensa, Alckmin disse que “está faltando governo” no País. Para ele, o governo não tem propostas para criação de empregos e, na reforma tributária, está querendo recriar a CPMF. Também criticou o que apontou como falta de política para combater o tráfico de armas e drogas. “Liberar arma é tudo que nós não precisamos. Vejo uma grande dificuldade na agenda do governo e uma criação de crises, uma agenda radical totalmente ultrapassada em um mundo onde as ideologias estão diminuindo as distâncias.”

O ex-governador negou que o PSDB esteja sendo pressionado a dar uma guinada à direita e disse não acreditar que a nova direção do partido se alinhe à pauta de costumes do governo Bolsonaro.

O novo presidente da legenda, Bruno Araújo, e o governo de São Paulo, João Doria, afastaram a tentativa de Alckmin de atacar o governo afirmando que esse não é um posicionamento partidário. “São opiniões próprias do governador que eu respeito, não são as opiniões do PSDB como um todo. Não temos esse alinhamento crítico, temos uma alinhamento de buscar as melhores alternativas para o País no plano econômico e no plano social e foco na aprovação da reforma da Previdência”, disse Doria.

Já Bruno Araújo declarou que o PSDB vai ter uma “posição contributiva de independência e sempre, quando houver, de discordância, se opondo aos temas do governo.”

Presente na convenção, Maia faz aceno ao PSDB para 2022
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez um forte aceno ao PSDB para as eleições presidenciais de 2022. Durante convenção nacional do PSDB, o deputado fluminense afirmou que deseja que as duas siglas estejam “fortes em um projeto único de geração de emprego e renda” daqui a três anos.

Divisão entre ‘novo partido’ e volta às origens marca convenção do PSDB

Nem a ala da juventude do PSDB fica fora da disputa entre os grupos antigo e novo da legenda; aliado de João Doria, Bruno Araújo é confirmado presidente da sigla

Daniel Weterman / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O PSDB elegeu, nesta sexta-feira, 31, a nova direção do partido e formalizou o ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo como presidente nacional da sigla. Em um evento realizado no auditório do subsolo de um centro de convenções em Brasília, a convenção foi marcada por discursos defendendo a construção de um “novo PSDB”. Por outro lado, a ala antiga, que perdeu poder na legenda, deixou recados de que o partido precisa voltar às origens.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), conseguiu emplacar Bruno Araújo como presidente do partido. Foi ao evento vestindo uma camiseta amarela com a inscrição “Novo PSDB”, replicada no traje de aliados. “As raízes devem ser mantidas e preservadas, não precisamos apagar nossa história, mas precisamos também construir a nossa história. É isso que o povo brasileiro espera do PSDB, que tenha raízes, respeita a sua história, mas que seja protagonista da história”, discursou o paulista.

Antes de falar, Doria ouviu do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, que colocar um aliado na direção da sigla não significaria que agora pudesse mandar na legenda. “O governador Doria, pelo fato de ser governador de São Paulo, não passa a ter o direito de ser dono do PSDB. O PSDB não pode ter dono”, declarou Arthur Virgílio, que ainda fez um discurso de conciliação com o ex-governador Geraldo Alckmin, agora ex-presidente do partido. Na última eleição presidencial, o prefeito foi contra o partido colocar o paulista como candidato ao Planalto. “Tudo o que passou para trás passou, eu quero olhar para frente. Que nunca mais se realize uma eleição para presidente da República sem prévias duras, debatidas e disputadas democraticamente.”

Nem a ala da juventude do PSDB ficou fora da disputa entre os grupos antigo e novo da legenda. A Ação Popular, que conseguiu eleger Julia Jereissati para a Juventude Nacional do PSDB, trocou provocações com a ala Conexão, ligada ao governador Doria. Julia, sobrinha do senador Tasso Jereisasti (PSDB-CE), foi vaiada pela ala alinhada ao paulista e gerou reações do outro grupo. O presidente do PSDB do São Paulo, Marco Vinholi, chegou a entrar no embate e foi aconselhado por aliados a se retirar.

A ala que assumiu a direção do PSDB defende posicionamentos claros sobre assuntos polêmicos e nacionais. O novo presidente, Bruno Araújo, prometeu afastar o partido das “hesitações”. “Vamos nos transformar em um partido de posições. Vamos derrubar o muro. Vamos errar, mas vamos errar de um jeito novo. Não há chance de acertar sem coragem e o PSDB tem coração para acertar para o destino do País”, discursou.

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso não veio e alegou motivos pessoais. FHC enviou um vídeo defendendo que o partido não se perca nos princípios ao tentar encontrar uma nova roupagem. “Pode mudar de nome, pode fazer coligação, mas no princípio não pode mudar. Tem que ser democrático e tem que ter lado, esse lado é do povo brasileiro”, afirmou o ex-presidente na gravação.

Alckmin chama Bolsonaro de 'oportunista' e 'desleal' por ataques a Maia

Ex-governador destacou que presidente está há 30 anos na política e o criticou por jogar a sociedade contra instituições

Daniel Gullino e Natália Portinari / O Globo

BRASÍLIA — O ex-governadorGeraldo Alckmin criticou nesta sexta-feira o presidente Jair Bolsonaro. O tucano chamou Bolsonaro de "oportunista" e "desleal" por atacar o presidente da Câmara, Rodrigo Mai a (DEM-RJ), e as instituições mesmo há 30 anos na política. Alckmin discursou durante a convenção nacional do PSDB, onde transmitiu a presidência do partido para o ex-ministro Bruno Araújo. Maia estava presente no evento.

Na semana passada, Maia foi um dos principais alvos de manifestações convocadas por apoiadores de Bolsonaro, que tiveram críticas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro apoiou as manifestações, dizendo que elas eram um "recado àqueles que teimam com velhas práticas", mas ressaltou não concordar com pedidos de fechamento do Congresso e do STF. O presidente não criticou Maia, mas a relação entre os dois já passou por diversos atritos desde o início do governo.

— Tem a minha solidariedade, Rodrigo Maia, desses oportunistas, políticos por 30 anos, ele e a família inteira, e em uma deslealdade vem atacar a vida dos homens públicos, jogando a sociedade contra as suas instituições — afirmou Alckmin, no encerramento da convenção.
O tucano também criticou o PT, dizendo que o petismo e o bolsonarismo são "mentiras que precisam ser enfrentadas":

— Nós não temos duas verdades, a extrema-direita e a extrema-esquerda. Temos duas grande mentiras, o petismo e o bolsonarismo. Duas mentiras que precisam ser enfrentadas.
Alckmin também criticou a política de flexibilização do posse e porte de armas que tem sido adotada por Bolsonaro, afirmando que "querer aumentar a distribuição de armas é uma irresponsabilidade".

Depois do evento, o governador de São Paulo, João Doria, disse que as opiniões de Alckmin sobre Bolsonaro não refletem a posição do partido. Doria, que é o principal fiador de Bruno Araújo, se aproximou de Bolsonaro na campanha, mas agora tem tentado não deixar sua imagem colada na do presidente.

— São opiniões próprias do governador Geraldo Alckmin, que eu respeito. Não são as opiniões do PSDB como um todo. Nós não temos esse alinhamento crítico, temos um alinhamento de buscar as melhores alternativas para o país, no plano econômico e social, e foco na aprovação da reforma da Previdência.

Presidente da Câmara defende partidos
Antes, Maia havia defendido os partidos e as instituições. Sem fazer referência aos protestos, ele criticou quem afirma que é possível governar sem as legendas partidárias.

— Não adianta atacarmos instituições, falar que a gente consegue governar o Brasil sem os partidos políticos. Eles são importantes e o PSDB mostra aqui hoje.

PSDB se reunirá em 3 semanas para fechar questão sobre Previdência

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Eleito nesta sexta-feira presidente nacional do PSDB, o ex-deputado Bruno Araújo (PE) afirmou que o partido terá posição de “absoluta independência” em relação ao governo Jair Bolsonaro e que mostrará sua discordância quando houver necessidade.

A primeira discordância, afirmou Araújo, é “em relação à compreensão de que democracia se constrói num processo de diálogo com as instituições de forma firme”. “Não é só chamar para assinar algumas folhas de um pacto. É com interlocução direta”, disse.

Quanto à proposta de reforma da Previdência do governo Bolsonaro, Araújo disse que convocará uma reunião da Executiva do partido em três semanas para decidir sobre o fechamento de questão em torno do projeto.

“A tendência é o fechamento de questão, votarmos com o texto principal da reforma da Previdência. Pode haver discussões pontuais, mas os temas que são o tronco votaremos a favor”, disse. O fechamento de questão pressupõe punições aos parlamentares que descumprirem a orientação do partido.

Segundo Araújo, o PSDB defenderá temas impopulares. “Ouço muito que o impeachment da ex-presidente Dilma não foi bom para a bancada do PSDB. Não fizemos pensando no partido, fizemos porque foi bom para o país”, afirmou.

Doria acena à velha guarda do PSDB, mas prega renovação

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), defendeu a renovação do partido na convenção nacional do PSDB nesta sexta-feira em Brasília, mas fez acenos à velha guarda da sigla e tentou nacionalizar seu discurso. “Amo São Paulo, mas antes de amar São Paulo, amo meu país”, disse. Ele finalizou o discurso segurando uma bandeira do Brasil.

Doria evitou entrar em atritos com a velha guarda do PSDB e fez elogios a caciques como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – “um orgulho para o PSDB”, o ex-governador Gerado Alckmin – “homem honesto, decente” – e o senador José Serra – “que revolucionou a saúde”. “Esse novo PSDB, que não apaga a sua história, é o PSDB do emprego e do trabalho”, afirmou.

O tucano criticou o PT, dizendo que o partido governou olhando só para si e, por isso, deixou 13 milhões de desempregados no país. Buscou se diferenciar também do presidente Jair Bolsonaro, afirmando que está atuando em São Paulo para “proteger empregos na indústria, comércio, tecnologia” e exaltando a participação feminina na vida partidária.

“O PSDB precisa abrir mais espaço para as mulheres brasileiras dentro do PSDB, proteger as mulheres, dar espaço”, disse.

Ele foi recebido aos gritos de “Doria presidente” pelo grupo Conexão 45 – o mesmo que, minutos antes, trocou empurrões com a juventude do PSDB.

Em vídeo gravado para a convenção, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o partido pode mudar de nome, mas não de propósito. "O PSDB pode mudar de nome, fazer coligação, mas o propósito não pode mudar. O partido tem que ter lado e seu lado é ao lado do povo brasileiro", disse.

Maia: Partidos liberais caminham para fechar questão sobre Previdência

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta sexta-feira, após participar da convenção nacional do PSDB, que os partidos com linha mais liberal na economia estão avançando no caminho de fechar questão a favor da reforma da Previdência e que a posição do PSDB, “talvez, seja decisiva” para votar a proposta.

“Os partidos estão todos caminhando nessa linha. Todos que eu converso, todos que têm uma linha mais liberal na economia. Essa sinalização do PSDB é muito forte e, talvez, decisiva para que a gente coloque essa reforma nos trilhos logo, vote na comissão e tenha os votos necessários para aprová-la no plenário até o final do primeiro semestre”, disse.

Maia afirmou confiar que o PSDB vai voltar a ser um partido forte e que o DEM tem muitas convergências com a sigla. “Precisamos, do meu ponto de vista, estar juntos, primeiro, na reconstrução do Estado brasileiro. Depois disso, com agendas convergentes. É fácil olhar para o futuro e para um projeto onde tem espaço não apenas para o DEM e o PSDB, mas também para outros partidos que pensam como a gente”, disse.

Tucanos elegem presidente, mas veteranos permanecem

Bruno Araújo, aliado de Doria, assume comando do PSDB, mas governador de SP não evita antigos nomes na Executiva

Daniel Gullino e Natália Portinari / O Globo

A convenção nacional do PSDB conclamou, ontem, como novo presidente da sigla Bruno Araújo (PE), ex-ministro de Michel Temer (MDB) e ex-deputado federal. Aliado de João Doria, Araújo é peça chave na futura candidatura do governador de São Paulo à Presidência da República em 2022. Ele substitui o ex-governador e ex-candidato a presidente Geraldo Alckmin.

A nova vice-presidente do partido é a senadora Mara Gabrilli( SP ). Apesar deter emplacado seu aliado, porém, Doria não conseguiu tirar os ex-presidentes do partido da composição da Executiva, como planejava. Dessa forma, Alckmin, o deputado Aécio Neves (MG), o senador Tasso Jereissati (CE), o ex-governador Teotonio Vilela Filho (AL) e o ex-senador José Anibal continuarão participando da cúpula da sigla. Em seu discurso, Araújo mencionou que é o primeiro presidente que se formou politicamente dentro do PSDB, desde quando participava da Juventude da sigla.

Ele manifestou apoio à reforma da Previdência e citou João Doria como pré-candidato à Presidência, exaltando sua gestão no governo de São Paulo. —Quando o governador João Doria, naturalmente, é lembrado como pré-candidato a presidente da República, não é só pela importância do estado. Mas é sobretudo pelas sequências dos resultados que a administração de São Paulo já dá com tão pouco tempo de governo.

Joaquim Cardoso: Imagens do Nordeste

Sobre o capim orvalhado
Por baixo das mangabeiras
Há rastros de luz macia:
Por aqui passaram luas,
Pousaram aves bravias.

Idílio de amor perdido,
Encanto de moça nua
Na água triste da camboa;
Em junhos do meu Nordeste
Fantasma que me povoa.

Asa e flor do azul profundo,
Primazia do mar alto,
Vela branca predileta;
Na transparência do dia
És a flâmula discreta.

És a lâmina ligeira
Cortando a lã dos cordeiros,
Ferindo os ramos dourados;
– Chama intrépida e minguante
nos ares maravilhados.

E enquanto o sol vai descendo
O vento recolhe as nuvens
E o vento desfaz a lã;
Vela branca desvairada,
Mariposa da manhã.

Velho calor de Dezembro,
Chuva das águas primeiras
Feliz batendo nas telhas;
Verão de frutas maduras,
Verão de mangas vermelhas.

A minha casa amarela
Tinha seis janelas verdes
Do lado do sol nascente;
Janelas sobre a esperança
Paisagem, profundamente.

Abri as leves comportas
E as águas duras fundiram;
Num sopro de maresia
Viveiros se derramaram
Em noites de pescaria.

Camarupim, Mamanguape,
Persinunga, Pirapama,
Serinhaém, Jaboatão;
Cruzando barras de rios
Me perdi na solidão.

Me afastei sobre a planície
Das várzeas crepusculares;
Vi nuvens em torvelinho,
Estrelas de encruzilhadas
Nos rumos do meu caminho.
............................................................
Salinas de Santo Amaro,
Ondas de terra salgada,
Revoltas, na escuridão,
De silêncio e de naufrágio
Cobrindo a tantos no chão.

Terra crescida, plantada
De muita recordação.

Elba Ramalho: Qui nem giló