Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Entre 13h15 e 15h20 da última quinta-feira não se passaram 10 minutos inteiros sem que o governador Aécio Neves fizesse alguma referência ao fato de ter sido posto no topo da lista dos derrotados dessas eleições municipais, porque seu candidato a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, não ganhou no primeiro turno.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Entre 13h15 e 15h20 da última quinta-feira não se passaram 10 minutos inteiros sem que o governador Aécio Neves fizesse alguma referência ao fato de ter sido posto no topo da lista dos derrotados dessas eleições municipais, porque seu candidato a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, não ganhou no primeiro turno.
Na residência oficial do bairro das Mangabeiras, que dá nome ao Palácio localizado no seu ponto mais alto, não se vê sinal de tempestade eleitoral. Nenhum entra e sai, nada de assessores, telefonemas, aflição.
Mas que houve algo de anormal, isso é inequívoco. As marcas estão lá, nítidas, no espírito do jovem governador, bem menos tolerante, mais sensível a críticas, que o habitual.
Sorridente, tenta de quando em vez fazer alguma graça com a situação, informa já ter na mente desenhado o mapa dos equívocos cometidos, só não desce a detalhes porque ainda mantém viva, senão uma certeza, uma esperança forte na vitória.
“Se não acontecer vou ser o primeiro a chamar a imprensa e assumir: fui derrotado. Minha tese sobre a possibilidade de aliança administrativa entre adversários partidários terá perdido agora, mas pode vir a ser politicamente vitoriosa amanhã.”
Uma tradução mais elaborada para o “bola para a frente” subjacente ao discurso que propositadamente exacerba as dimensões do acontecido antes que os outros o façam.
Analisando o cenário friamente, Aécio Neves não se sente derrotado coisa nenhuma. “Das três maiores capitais, Belo Horizonte foi onde o vencedor do primeiro turno ganhou com o maior percentual”, diz, referindo-se aos 43% de Márcio Lacerda contra os 31% de Eduardo Paes no Rio e os 33% de Gilberto Kassab em São Paulo.
“O adversário sobe nas pesquisas dizendo que é meu aliado e sou eu o derrotado?”, pergunta sem realmente indagar; constata de si para si.
Se vier a perder a eleição, manterá do PMDB representado pelo candidato Leonardo Quintão a devida distância política, avisa já frustrando expectativas de que possa de imediato estabelecer com ele a mesma relação construída ao longo de seis anos com o atual prefeito e parceiro de aliança, o petista Fernando Pimentel.
“Primeiro é preciso ver a equipe, examinar se não haverá um retrocesso de qualidade administrativa. Aliás, primeiro vamos esperar o resultado do próximo domingo.”
Seja qual for Aécio já está demarcando seu terreno. Não assume o ato como resultado de qualquer ensinamento, mas talvez o governador tenha revisto conceitos a respeito de unanimidades. Sobre transferência de votos, certamente reviu.
Ainda que seu candidato ganhe, não terá sido ungido no altar de sua popularidade, hoje na marca dos exatos 91,6%. Ruim para ele?
“Pior para o presidente Lula, pois quem perdeu com isso foi a construção do discurso para 2010.” A constatação de que capital eleitoral não é legado, na visão de Aécio Neves, fere o plano de sucessão do Planalto.
“Estanca o processo de beatificação dos candidatos de majestades e tira Dilma Rousseff da condição de ungida desde já pela mão de Lula.”
E, pelo visto, põe o governador de Minas em aberta oposição.
Assim é
Uma coisa é a repercussão eleitoral do conflito entre as polícias civil e militar de São Paulo, quinta-feira nas cercanias do Palácio dos Bandeirantes. Esta, se tiver de aparecer, será daqui a uma semana ou nas próximas pesquisas.
Outra é o uso político da greve que já dura um mês e virou assunto de campanha a partir do conflito. Criou-se um fato de geração obviamente não espontânea.
O governador José Serra aponta o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, como o responsável, que repudia a acusação, mas estava lá, microfone na mão, incitando policiais armados para pressionar “quem manda” a negociar na base da força bruta.
Este é também um fato. Ao qual acrescenta-se a ausência de qualquer reparo à atitude por parte da campanha de Marta Suplicy. Ao contrário: em função do caso, ela passou a comentar a greve que até então estava fora da sua agenda.
Portanto, deu margem à conclusão de que a batalha de polícias lhe foi circunstancialmente conveniente. Mais não seja, para mudar a pauta das insinuações pessoais sobre Gilberto Kassab para os ataques a Serra como administrador da crise.
Fica até parecendo que o PT, dando por perdido o embate municipal, resolveu se voltar contra o futuro adversário federal.
O presidente Lula comentou o assunto sem fazer referência à “turbinada” que pôs o tema na pauta política, o PT rejeita a mais leve suposição de que tenha tirado proveito do conflito, mas é de se perguntar como reagiria se porventura um sindicalista ligado ao PSDB fosse para as proximidades do Planalto fazer o papel de mestre-de-cerimônias de um hipotético levante entre a Polícia Federal, os arapongas da Abin e tropas do Exército subordinadas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim.
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