Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Na versão oficial, trata-se de um ato isolado de efeito meramente regional. Exposto ao escrutínio da lógica, contudo, o gesto do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, de “devolver” ao petista Jaques Wagner os cargos ocupados pelo PMDB no governo da Bahia assume um caráter simbólico de inevitável repercussão nacional.
Mostra, no mínimo, que nas disputas eleitorais de 2010 para os governos dos Estados a banda não tocará ao ritmo imposto pelas conveniências do partido do presidente Luiz Inácio da Silva, que não terá o poder futuro para oferecer como aval da aliança.
Não há como considerar corriqueiro o fato de um ministro de Estado publicar uma carta aberta dizendo-se disposto a “entregar imediatamente quaisquer cargos, ou todos eles”, em repúdio à atitude de “setores” do PT que, por “ambição nua e crua”, romperam os princípios da aliança entre as duas legendas na eleição municipal e agora “esgarçam a relação com o PMDB”.
Agora o governador Jaques Wagner terá de resolver se amacia ou se revida; se demite os secretários pemedebistas ou se aceita os termos que irão “embalar as nossas futuras atitudes”, conforme escreveu o ministro.
No artigo, Geddel Vieira Lima aproveita o ensejo para informar aos navegantes que não será candidato a deputado federal em 2010. Não adianta o seu destino, mas deixa em aberto a possibilidade de concorrer ao Senado ou ao governo do Estado. Nesta hipótese, seria um obstáculo à reeleição de Jaques Wagner.
Logo depois da derrota do PT para o PMDB em Salvador, o governador reagiu com irritação aos rumores de que o ministro, vitorioso patrono da reeleição do prefeito João Henrique, seria candidato a governador. Disse que se o projeto fosse esse, o PMDB teria de romper a parceria e sair do governo da Bahia.
Antes de o desafio completar um mês, o ministro da Integração devolveu a bola ao governador. Não falou em rompimento, ao contrário: pontuou o interesse de preservar a aliança, deixando a Jaques Wagner a escolha de “proceder como lhe convier”.
Ao governador, ao PT e, principalmente, ao presidente Lula convém manter as melhores e mais respeitosas relações com o PMDB. Para isso, o ministro impõe no artigo as condições: não aceita que seu partido seja chamado de fisiológico e alerta sobre a urgência de o PT compreender que o PMDB não é um apêndice, é um aliado ocasional e pode deixar de ser.
Inclusive porque, ao lançar candidato próprio depois de quase três anos ocupando cargos na Prefeitura de Salvador, o PT estabeleceu o paradigma segundo o qual é aceitável um partido participar de um governo e ter uma posição diferente na eleição.
Claro, tudo isso diz respeito a um ato isolado de efeito meramente regional.
Mal comparado
O relatório do Conselho Nacional de Justiça apontando a existência de 11.846 escutas telefônicas no País não desqualifica necessariamente os números da CPI dos Grampos que trabalha com um universo de 400 mil interceptações.
São dois levantamentos diferentes. O do CNJ leva em conta as escutas em curso, é referente apenas àquelas comunicadas pelos tribunais de justiça de todo o País e não inclui os Estados que não atenderam ao pedido de informações do conselho.
O levantamento da CPI engloba escutas feitas desde 1996, usa como fonte as 17 companhias telefônicas e obviamente não se refere apenas às interceptações legais.
A CPI pode até trabalhar com dados superestimados ou mesmo errados. Mas o cotejo com o relatório do CNJ não serve como prova. Compará-los equivale a somar banana com laranja e esperar que a conta resulte em pêra.
Baixa rotatividade
Desde 2001 na liderança do DEM (então PFL) no Senado, Agripino Maia acabou de ser escolhido líder de novo para 2009 e já garantiu o lugar em 2010, por meio de um abaixo-assinado apresentado pelo senador Antônio Carlos Magalhães Júnior.
No Congresso há vários exemplos de líderes longevos: Inocêncio Oliveira foi líder do PFL na Câmara por sete anos, por igual período o hoje ministro Geddel Vieira Lima ficou na liderança do PMDB na Câmara, marca perto de ser alcançada pelo atual líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, no posto desde 2003.
Na estrutura dos partidos, o rodízio tampouco é prática habitual. Michel Temer, por exemplo, está na presidência do PMDB desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Uma incongruência frente à adesão dos políticos em geral à tese da alternância no exercício do poder. Quando se trata de democracia interna, contudo, raramente as oportunidades são ampliadas.
Mesmo no PT, um praticante da rotatividade no Parlamento, pioneiro na eleição direta para a presidência do partido, há resistência à abertura de espaços. Atualmente expressa na ausência de candidatos competitivos para a sucessão de Lula.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Na versão oficial, trata-se de um ato isolado de efeito meramente regional. Exposto ao escrutínio da lógica, contudo, o gesto do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, de “devolver” ao petista Jaques Wagner os cargos ocupados pelo PMDB no governo da Bahia assume um caráter simbólico de inevitável repercussão nacional.
Mostra, no mínimo, que nas disputas eleitorais de 2010 para os governos dos Estados a banda não tocará ao ritmo imposto pelas conveniências do partido do presidente Luiz Inácio da Silva, que não terá o poder futuro para oferecer como aval da aliança.
Não há como considerar corriqueiro o fato de um ministro de Estado publicar uma carta aberta dizendo-se disposto a “entregar imediatamente quaisquer cargos, ou todos eles”, em repúdio à atitude de “setores” do PT que, por “ambição nua e crua”, romperam os princípios da aliança entre as duas legendas na eleição municipal e agora “esgarçam a relação com o PMDB”.
Agora o governador Jaques Wagner terá de resolver se amacia ou se revida; se demite os secretários pemedebistas ou se aceita os termos que irão “embalar as nossas futuras atitudes”, conforme escreveu o ministro.
No artigo, Geddel Vieira Lima aproveita o ensejo para informar aos navegantes que não será candidato a deputado federal em 2010. Não adianta o seu destino, mas deixa em aberto a possibilidade de concorrer ao Senado ou ao governo do Estado. Nesta hipótese, seria um obstáculo à reeleição de Jaques Wagner.
Logo depois da derrota do PT para o PMDB em Salvador, o governador reagiu com irritação aos rumores de que o ministro, vitorioso patrono da reeleição do prefeito João Henrique, seria candidato a governador. Disse que se o projeto fosse esse, o PMDB teria de romper a parceria e sair do governo da Bahia.
Antes de o desafio completar um mês, o ministro da Integração devolveu a bola ao governador. Não falou em rompimento, ao contrário: pontuou o interesse de preservar a aliança, deixando a Jaques Wagner a escolha de “proceder como lhe convier”.
Ao governador, ao PT e, principalmente, ao presidente Lula convém manter as melhores e mais respeitosas relações com o PMDB. Para isso, o ministro impõe no artigo as condições: não aceita que seu partido seja chamado de fisiológico e alerta sobre a urgência de o PT compreender que o PMDB não é um apêndice, é um aliado ocasional e pode deixar de ser.
Inclusive porque, ao lançar candidato próprio depois de quase três anos ocupando cargos na Prefeitura de Salvador, o PT estabeleceu o paradigma segundo o qual é aceitável um partido participar de um governo e ter uma posição diferente na eleição.
Claro, tudo isso diz respeito a um ato isolado de efeito meramente regional.
Mal comparado
O relatório do Conselho Nacional de Justiça apontando a existência de 11.846 escutas telefônicas no País não desqualifica necessariamente os números da CPI dos Grampos que trabalha com um universo de 400 mil interceptações.
São dois levantamentos diferentes. O do CNJ leva em conta as escutas em curso, é referente apenas àquelas comunicadas pelos tribunais de justiça de todo o País e não inclui os Estados que não atenderam ao pedido de informações do conselho.
O levantamento da CPI engloba escutas feitas desde 1996, usa como fonte as 17 companhias telefônicas e obviamente não se refere apenas às interceptações legais.
A CPI pode até trabalhar com dados superestimados ou mesmo errados. Mas o cotejo com o relatório do CNJ não serve como prova. Compará-los equivale a somar banana com laranja e esperar que a conta resulte em pêra.
Baixa rotatividade
Desde 2001 na liderança do DEM (então PFL) no Senado, Agripino Maia acabou de ser escolhido líder de novo para 2009 e já garantiu o lugar em 2010, por meio de um abaixo-assinado apresentado pelo senador Antônio Carlos Magalhães Júnior.
No Congresso há vários exemplos de líderes longevos: Inocêncio Oliveira foi líder do PFL na Câmara por sete anos, por igual período o hoje ministro Geddel Vieira Lima ficou na liderança do PMDB na Câmara, marca perto de ser alcançada pelo atual líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, no posto desde 2003.
Na estrutura dos partidos, o rodízio tampouco é prática habitual. Michel Temer, por exemplo, está na presidência do PMDB desde o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Uma incongruência frente à adesão dos políticos em geral à tese da alternância no exercício do poder. Quando se trata de democracia interna, contudo, raramente as oportunidades são ampliadas.
Mesmo no PT, um praticante da rotatividade no Parlamento, pioneiro na eleição direta para a presidência do partido, há resistência à abertura de espaços. Atualmente expressa na ausência de candidatos competitivos para a sucessão de Lula.
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