quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Uma agenda para os dois anos finais


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O governo Lula não vai se intimidar com a crise econômica mundial a ponto de restringir sua ação, mas não sairá por aí fazendo de conta que ela não existe. Isto significa, segundo traduziu um ministro afinado com o plano que vem sendo discutido para estes dois anos finais de mandato, que o trabalho maior agora será a busca do equilíbrio entre a plataforma de realizações e as condições para realizá-las. O governo federal concentrará seus esforços administrativos para minimizar os efeitos da crise sobre o Brasil.

Três caminhos são apontados, nos debates que se sucedem internamente, para se chegar a estes bons termos, no final dos oito anos da gestão, atropelada apenas neste final pelos percalços financeiros que determinam o redimensionamento dos planos. O primeiro é garantir o crescimento, ainda que não nos níveis antes imaginados, mas que ainda podem ser previstos com muita densidade para os próximos dois anos.

O segundo é controlar a inflação, meta de que o governo não pretende se desgarrar mesmo com os abalos da crise. E o terceiro, melhorar a gestão dos programas sociais, para que fiquem totalmente consolidados e deles não haja possibilidade de recuo. Estes programas, como já ficou evidente nos ensaios para a campanha presidencial, compõem a plataforma eleitoral do candidato a sucessor a ser abençoado por Lula. No momento, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Embora mantidos os objetivos e metas, a estratégia do governo tem que ser diferente. Um exemplo da forma de lidar com os novos tempos é a gestão do programa de aceleração do crescimento (PAC). Vai além de 2010, mas nestes dois anos, próximos o governo adotará uma maneira diferente de tratar a questão do investimento.

Nos planos federais incluíam-se, para este final do segundo mandato, ambiciosas novas metas dos programas sociais, sobretudo na área da Educação, um outro exemplo considerado nas discussões. Imaginava-se, por exemplo, determinar a obrigatoriedade da gratuidade e universalização da educação, da pré-escola ao fim do ensino médio. No exemplo citado pela autoridade do governo, este é o tipo de projeto a sofrer ajuste por causa da crise.

O objetivo não se altera, mas é preciso dedicar mais tempo à gestão para que seja alcançada a meta. No ensino superior, outro exemplo, o governo Lula contabiliza haver incrementado o número de vagas nas universidades federais de 113 mil, em 2003, para 227 mil, em 2009. Como os recursos não dobraram, é necessário buscar outra estratégia. Como, por exemplo, aumentar o número de alunos por professores, ampliar a oferta de cursos em períodos alternativos, os noturnos, entre outras soluções. Significa, afinal, reconhecer as dificuldades, e ter convicção de que não será na conversa que o governo conseguirá realizar suas intenções.

Da mesma maneira que não dá para, só no discurso, dizer que a crise não atingiu e não atingirá o Brasil, e que tudo será como antes. Ainda que o presidente adote o falso otimismo, por temperamento e método, executivos do governo têm trabalhado com dados da realidade. "Vamos buscar uma sintonia mais fina para garantir resultados", disse o ministro com acesso à formulação das prioridades, para quem "as pessoas estão pensando o Brasil com a cabeça de seis meses atrás, e isto não está certo".

Sete anos na defesa

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disputou prévias eleitorais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, foi muito criticado à época e até hoje, quando a oportunidade se apresenta, defende-se e se explica por ter feito tal desafio ao líder que tinha capacidade eleitoral e consenso no PT, em todas as épocas. Suplicy contesta análise aqui publicada, na última quarta-feira, que discute o instrumento das prévias, instância eleitoral, cujo caráter democrático é incontestável, que tem levado os partidos à divisão irreparável, à perda das disputas, além de ainda não haver provado sua eficiência. Em síntese, diz o senador:

"No dia 17 de março de 2002, pela primeira vez um partido político convida todos os seus filiados - 172 mil compareceram - para as prévias. Lula teve 84,4% dos votos, eu tive 15,6%, mais do que alguns afirmavam que eu iria ter. No início de 2001, a Marta (Suplicy) me disse que estavam dizendo que seria um desastre político eu querer ser pré-candidato, não iria ter nem 5% dos votos, e que seria muito difícil para mim depois. Não foi o que aconteceu.

Naquele dia, com o resultado, eu disse ao presidente que, a partir de então, eu o estaria apoiando com toda a força, e assim o fiz. A ponto de, na Executiva Nacional, após a eleição vitoriosa, o Silvinho, que no partido cuidava das ações de campanha, definindo onde cada um deveria ir, me cumprimentou porque de todos os parlamentares fui quem mais viajou para onde a direção pedia. Eu conclamei a todos os que me apoiaram para votar no Lula. Não ocorreu o fenômeno que seu artigo menciona (o candidato perdedor cruzar os braços na campanha).

Se analisarmos um balanço mais completo das prévias, inclusive quanto ao episódio de que participei, disputando com o presidente, aquele foi um episódio positivo, ainda que possa ter havido pessoas no partido que tenham ficado desagradadas de eu ter me colocado -, "imagine, disputar com o presidente Lula".

E também, naquele episódio, aquelas frases do presidente ("vamos ficar falando mal um do outro?"), não se deram com respeito à prévia, mas à realização de debates. Ele me disse que, como pensamos igual, tínhamos o mesmo programa, não havia porque realizar debates. Eu disse a ele que eu estaria apenas, como fiz, sempre falando positivamente dele.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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