DEU NO BLOG PITACOS
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria dos Direitos Humanos, tem razão em um ponto. O termo “terrorista” foi usado e abusado pela ditadura, para qualificar todos os que se opuseram a ela, mesmo os que não pegaram em armas e optaram pela resistência democrática.
O Secretário dos Direitos Humanos erra, porém, ao tentar comparar a ação da esquerda militarista brasileira com a resistência armada dos maquis franceses contra a invasão nazista e com os partisans que combateram, de armas nas mãos, o fascismo de Mussolini.
Com esta comparação, o secretário mais do que justifica o apelo às armas feito por parte da esquerda brasileira, bem como todos os seus atos, porque eles ocorreram em função da causa nobre do combate ao “terrorismo de estado”, patrocinado pela ditadura.
Nestes termos, Carlos Marighella, Lamarca e tantos outros seriam tão heróis como o Jean Moulin, chefe da resistência francesa durante a ocupação nazista. Claro que não há como compará-los, assim como não dá para colocar no mesmo nível a luta armada ocorrida na França e na Itália durante a segunda guerra com o que aconteceu no Brasil, no período do regime militar.
Na Europa ocupada pelos nazistas – assim como na Itália dominada pelos fascistas – o único caminho que restou aos povos que lutavam pela sua liberdade foi o das armas. Havia um sentimento nacional por uma França Livre ou por uma Itália democrática.
É este sentimento que vai dar um caráter amplíssimo à resistência dos maquis e dos partisans. Dela participam diversas correntes políticas: democratas-cristãos, socialistas, comunistas e até mesmo forças situadas num espectro mais à direita, mas que eram contrárias ao nazismo e ao fascismo. Formaram-se amplas frentes, de união nacional.
No caso da França e da Itália, a resistência armada não se limitava apenas a ser expressão de um segmento radicalizado da classe média e tinha respaldo e apoio em todas as classes sociais, do operariado a setores da burguesia.
No Brasil da ditadura militar, a situação foi inteiramente distinta. Ao contrário do que enxergaram os agrupamentos esquerdistas, a luta armada não era a única forma possível de se fazer a resistência.
A luta armada provou ser a mais inapropriada e a mais desastrosa. Os grupos que a praticavam foram dizimados, sem exceção. A ditadura obteve argumentos para atacar as formações de esquerda que não trilharam o caminho das armas.
Ao final, a ditadura foi superada não pelo apelo às armas, mas pela resistência democrática e pela pressão das massas. O principal instrumento para isso foi o MDB, que os grupos militaristas ou esquerdistas entendiam como o partido do “sim senhor”, farinha do mesmo saco que a Arena.
A luta armada brasileira limitou-se a correntes de esquerda, sem expressão, grande parte delas de formação marxista, desprovidas de enraizamento social. Basicamente expressou a radicalização de uma parcela minoritária das camadas médias.
A resistência armada nem foi um movimento amplo, nem necessário. Descolado das massas, ele foi derrotado política e militarmente.
Se é simplismo considerar toda a prática da esquerda militarista como terrorismo, também não há porque deificá-la ou colocá-la no mesmo patamar da heróica resistência francesa e italiana, da época da segunda guerra.
Até hoje os remanescentes de nossa esquerda armada resistem a fazer uma autocrítica profunda. O PC do B, por exemplo, considera que o Araguaia foi o maior exemplo da justa resistência do povo brasileiro. Na mesma linha, os que participaram de seqüestro de embaixadores até hoje justificam estas ações sob o pretexto de que seu fim era nobre: libertar quem estava nas masmorras da ditadura ou sob torturas.
O acerto com a história exige não apenas a condenação da ditadura e da prática execrável da tortura. Mas também que a esquerda armada reconheça o quanto contribuiu negativamente em um dado período histórico do país.
No caso brasileiro, não há como considerar como justa a opção armada. O mínimo que se pode dizer dela é que foi uma tremenda estupidez.
Existe mais uma questão de fundo. A esquerda armada brasileira, em praticamente sua totalidade, não tinha objetivos democráticos. Sua meta era a instauração de uma sociedade tipo a cubana (ou a albanesa, no caso do PC do B), sob a égide do partido único. A proposta era a derrubada da ditadura militar e sua substituição por algum tipo de governo de transição que em seguida marchasse para a “ditadura do proletariado”.
Não dá, sob nenhum aspecto, para se comparar os objetivos e formas de luta da esquerda armada brasileira com a luta antinazista e antifascista dos combatentes franceses e italianos.
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria dos Direitos Humanos, tem razão em um ponto. O termo “terrorista” foi usado e abusado pela ditadura, para qualificar todos os que se opuseram a ela, mesmo os que não pegaram em armas e optaram pela resistência democrática.
O Secretário dos Direitos Humanos erra, porém, ao tentar comparar a ação da esquerda militarista brasileira com a resistência armada dos maquis franceses contra a invasão nazista e com os partisans que combateram, de armas nas mãos, o fascismo de Mussolini.
Com esta comparação, o secretário mais do que justifica o apelo às armas feito por parte da esquerda brasileira, bem como todos os seus atos, porque eles ocorreram em função da causa nobre do combate ao “terrorismo de estado”, patrocinado pela ditadura.
Nestes termos, Carlos Marighella, Lamarca e tantos outros seriam tão heróis como o Jean Moulin, chefe da resistência francesa durante a ocupação nazista. Claro que não há como compará-los, assim como não dá para colocar no mesmo nível a luta armada ocorrida na França e na Itália durante a segunda guerra com o que aconteceu no Brasil, no período do regime militar.
Na Europa ocupada pelos nazistas – assim como na Itália dominada pelos fascistas – o único caminho que restou aos povos que lutavam pela sua liberdade foi o das armas. Havia um sentimento nacional por uma França Livre ou por uma Itália democrática.
É este sentimento que vai dar um caráter amplíssimo à resistência dos maquis e dos partisans. Dela participam diversas correntes políticas: democratas-cristãos, socialistas, comunistas e até mesmo forças situadas num espectro mais à direita, mas que eram contrárias ao nazismo e ao fascismo. Formaram-se amplas frentes, de união nacional.
No caso da França e da Itália, a resistência armada não se limitava apenas a ser expressão de um segmento radicalizado da classe média e tinha respaldo e apoio em todas as classes sociais, do operariado a setores da burguesia.
No Brasil da ditadura militar, a situação foi inteiramente distinta. Ao contrário do que enxergaram os agrupamentos esquerdistas, a luta armada não era a única forma possível de se fazer a resistência.
A luta armada provou ser a mais inapropriada e a mais desastrosa. Os grupos que a praticavam foram dizimados, sem exceção. A ditadura obteve argumentos para atacar as formações de esquerda que não trilharam o caminho das armas.
Ao final, a ditadura foi superada não pelo apelo às armas, mas pela resistência democrática e pela pressão das massas. O principal instrumento para isso foi o MDB, que os grupos militaristas ou esquerdistas entendiam como o partido do “sim senhor”, farinha do mesmo saco que a Arena.
A luta armada brasileira limitou-se a correntes de esquerda, sem expressão, grande parte delas de formação marxista, desprovidas de enraizamento social. Basicamente expressou a radicalização de uma parcela minoritária das camadas médias.
A resistência armada nem foi um movimento amplo, nem necessário. Descolado das massas, ele foi derrotado política e militarmente.
Se é simplismo considerar toda a prática da esquerda militarista como terrorismo, também não há porque deificá-la ou colocá-la no mesmo patamar da heróica resistência francesa e italiana, da época da segunda guerra.
Até hoje os remanescentes de nossa esquerda armada resistem a fazer uma autocrítica profunda. O PC do B, por exemplo, considera que o Araguaia foi o maior exemplo da justa resistência do povo brasileiro. Na mesma linha, os que participaram de seqüestro de embaixadores até hoje justificam estas ações sob o pretexto de que seu fim era nobre: libertar quem estava nas masmorras da ditadura ou sob torturas.
O acerto com a história exige não apenas a condenação da ditadura e da prática execrável da tortura. Mas também que a esquerda armada reconheça o quanto contribuiu negativamente em um dado período histórico do país.
No caso brasileiro, não há como considerar como justa a opção armada. O mínimo que se pode dizer dela é que foi uma tremenda estupidez.
Existe mais uma questão de fundo. A esquerda armada brasileira, em praticamente sua totalidade, não tinha objetivos democráticos. Sua meta era a instauração de uma sociedade tipo a cubana (ou a albanesa, no caso do PC do B), sob a égide do partido único. A proposta era a derrubada da ditadura militar e sua substituição por algum tipo de governo de transição que em seguida marchasse para a “ditadura do proletariado”.
Não dá, sob nenhum aspecto, para se comparar os objetivos e formas de luta da esquerda armada brasileira com a luta antinazista e antifascista dos combatentes franceses e italianos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário