Jarbas de Holanda
jornalista
A persistência da crise econômica, ao mesmo que ameaça os planos e os objetivos político-eleitorais do Palácio do Planalto – em face do cenário previsto de recuo do PIB deste ano, de queda da receita federal e do estreitamento do mercado de trabalho, bem como da postura dos aliados, sobretudo o PMDB, de adiar definições sobre o embate maior de 2010 – essa persistência, concomitantemente, fortalece o presidente e potencializa o populismo lulista ao lhes fornecer bom pretexto para uma escalada de gastos em custeio e em investimento público sem o devido respeito aos limites orçamentários, e para ações arbitrárias como a intervenção praticada dias atrás no Banco do Brasil. Bom pretexto porque é legitimado, ao menos em parte, pelo extraordinário contexto macroeconômico internacional que temos hoje. O qual justifica, de fato, o exercício pelo Estado de papel excepcional nas respostas aos efeitos da crise – papel assumido como transitório, passageiro, nos países bem administrados, mas que é proposto como permanente, central na economia, pelas diversas variantes do populismo. Em maior grau pelas radicais, como o “bolivarianismo” de Hugo Chávez; em grau menor, pelo lulismo brasileiro.
Duas reportagens, do Globo de ontem e do Estadão de sábado último, resumem bem a estratégia anticrise do Palácio do Planalto. A primeira tem a chamada de capa “Lula abre o cofre para socorrer municípios”, e o título interno “Socorro de R$ 1 bi, de olho em 2010”. A segunda, do Estadão, é intitulada “Ordem é acelerar gastos nas estatais”. E no Globo de hoje, com o título “Gasto com pessoal cresce 27%”: “Num ano marcado pela crise global e pela queda na arrecadação, a execução do Orçamento no primeiro trimestre mostra que os gastos da União, com pessoal e custeio – as “despesas correntes” – cresceram 23,4% em relação ao mesmo período de 2008. O índice representa o dobro dos investimentos, que aumentaram 11,7%”.
Mas tal avaliação sobre os últimos projetos anticrise do governo Lula, predominante na imprensa, assim como as criticas dirigidas à vinculação do novo plano de habitação ao calendário eleitoral e ao andamento precário das obras do PAC, nada disso muda a realidade de que eles estão representando um forte instrumento político do presidente junto à população de baixa renda e a outros segmentos da sociedade. Atendendo também a necessidades importantes do empresariado. Dois deles – o PAC e o plano habitacional – correspondem a demandas econômicas (de infra-estrutura) e sociais de indiscutível prioridade. Por outro lado, a crise favorece Lula no plano internacional, o que se evidenciou no recente encontro do G-20, quando ele soube, competente e pertinentemente, reforçar a imagem de contraponto moderado e pragmático ao radicalismo chavista, afirmando-se como interlocutor qualificado dos governos dos EUA e da Comunidade Européia. O que foi igualmente útil para que os investidores externos comecem a retornar ao Brasil.
Esses elementos da conjuntura favoráveis ao presidente Lula e ao seu governo poderão manter-se ou sofrer substancial alteração na dependência da profundidade e extensão da crise – com uma progressiva recuperação da economia e do nível de emprego nos próximos meses, ou com o prolongamento dela ao longo de todo o ano e os seus efeitos desdobrando-se em 2010. Independentemente das contrapostas implicações políticas e eleitorais de um e de outro desses cenários, o Brasil pós-crise poderá ter que pagar um preço alto pela potencialização do populismo lulista que está sendo promovida por meio de temerária escalada de gatos, sobretudo com despesas de custeio – o preço da perda do equilíbrio econômico-financeiro (conquistado nos governos FHC e mantido com rigor no atual enquanto Antônio Palocci ocupou o ministério da Fazenda), com sério risco de uma recidiva da inflação e de novo avanço da sangria fiscal contra as atividades produtivas e o conjunto da sociedade.
jornalista
A persistência da crise econômica, ao mesmo que ameaça os planos e os objetivos político-eleitorais do Palácio do Planalto – em face do cenário previsto de recuo do PIB deste ano, de queda da receita federal e do estreitamento do mercado de trabalho, bem como da postura dos aliados, sobretudo o PMDB, de adiar definições sobre o embate maior de 2010 – essa persistência, concomitantemente, fortalece o presidente e potencializa o populismo lulista ao lhes fornecer bom pretexto para uma escalada de gastos em custeio e em investimento público sem o devido respeito aos limites orçamentários, e para ações arbitrárias como a intervenção praticada dias atrás no Banco do Brasil. Bom pretexto porque é legitimado, ao menos em parte, pelo extraordinário contexto macroeconômico internacional que temos hoje. O qual justifica, de fato, o exercício pelo Estado de papel excepcional nas respostas aos efeitos da crise – papel assumido como transitório, passageiro, nos países bem administrados, mas que é proposto como permanente, central na economia, pelas diversas variantes do populismo. Em maior grau pelas radicais, como o “bolivarianismo” de Hugo Chávez; em grau menor, pelo lulismo brasileiro.
Duas reportagens, do Globo de ontem e do Estadão de sábado último, resumem bem a estratégia anticrise do Palácio do Planalto. A primeira tem a chamada de capa “Lula abre o cofre para socorrer municípios”, e o título interno “Socorro de R$ 1 bi, de olho em 2010”. A segunda, do Estadão, é intitulada “Ordem é acelerar gastos nas estatais”. E no Globo de hoje, com o título “Gasto com pessoal cresce 27%”: “Num ano marcado pela crise global e pela queda na arrecadação, a execução do Orçamento no primeiro trimestre mostra que os gastos da União, com pessoal e custeio – as “despesas correntes” – cresceram 23,4% em relação ao mesmo período de 2008. O índice representa o dobro dos investimentos, que aumentaram 11,7%”.
Mas tal avaliação sobre os últimos projetos anticrise do governo Lula, predominante na imprensa, assim como as criticas dirigidas à vinculação do novo plano de habitação ao calendário eleitoral e ao andamento precário das obras do PAC, nada disso muda a realidade de que eles estão representando um forte instrumento político do presidente junto à população de baixa renda e a outros segmentos da sociedade. Atendendo também a necessidades importantes do empresariado. Dois deles – o PAC e o plano habitacional – correspondem a demandas econômicas (de infra-estrutura) e sociais de indiscutível prioridade. Por outro lado, a crise favorece Lula no plano internacional, o que se evidenciou no recente encontro do G-20, quando ele soube, competente e pertinentemente, reforçar a imagem de contraponto moderado e pragmático ao radicalismo chavista, afirmando-se como interlocutor qualificado dos governos dos EUA e da Comunidade Européia. O que foi igualmente útil para que os investidores externos comecem a retornar ao Brasil.
Esses elementos da conjuntura favoráveis ao presidente Lula e ao seu governo poderão manter-se ou sofrer substancial alteração na dependência da profundidade e extensão da crise – com uma progressiva recuperação da economia e do nível de emprego nos próximos meses, ou com o prolongamento dela ao longo de todo o ano e os seus efeitos desdobrando-se em 2010. Independentemente das contrapostas implicações políticas e eleitorais de um e de outro desses cenários, o Brasil pós-crise poderá ter que pagar um preço alto pela potencialização do populismo lulista que está sendo promovida por meio de temerária escalada de gatos, sobretudo com despesas de custeio – o preço da perda do equilíbrio econômico-financeiro (conquistado nos governos FHC e mantido com rigor no atual enquanto Antônio Palocci ocupou o ministério da Fazenda), com sério risco de uma recidiva da inflação e de novo avanço da sangria fiscal contra as atividades produtivas e o conjunto da sociedade.
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