A conversa que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pretende ter com o presidente Lula antes de decidir seu destino político tem como pano de fundo o futuro da economia brasileira e pode se realizar, por falta de agenda do presidente, até em Copenhague, onde os dois estarão na defesa do Rio para sediar a Olimpíada de 2016. Mesmo que o presidente Lula já tenha se pronunciado contra a saída de Meirelles do Banco Central para participar da política partidária, o presidente do BC está tendendo a “comprar uma opção” partidária e aguardar até março para tomar uma decisão definitiva com o passaporte que lhe permitirá continuar nesse jogo político. Mas não quer tomar nenhuma decisão sem falar com o dono da bola.
Ele não se interessa em continuar no mercado financeiro na iniciativa privada, onde fez sua carreira. Mas também não pretende entrar na política em oposição ao presidente Lula e, portanto, não está levando em conta a oferta do PTB para que saia candidato à Presidência da República.
O partido, embora ainda da base governamental, tem apresentado na televisão programas bastante agressivos contra o governo, aparentemente desembarcando do apoio. A não ser, o que parece improvável, que o próprio Lula o aconselhe a isso, situação em que terá mudado de opinião quanto às vantagens de ter apenas um candidato da base do governo.
Se se filiar a algum partido, p r o v a v e l m e n t e s e r á a o PMDB, mas a disputa do governo de Goiás está praticamente descartada, por uma questão de timing. Meirelles considera arriscado sair imediatamente do Banco Central, despertando as especulações e incertezas naturais para uma substituição desse nível num momento em que, na sua visão, a recuperação da economia ainda está frágil.
Ao contrário do otimismo exagerado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Meirelles vê risco de retomada de inflação com o desequilíbrio das contas públicas. A própria agência de avaliação de risco Moody’s, que acaba de dar o grau de investimento ao Brasil depois da crise, chamou a atenção para o desequilíbrio fiscal, embora não o considere grande o suficiente para ser controlado pelo governo.
O mercado financeiro, de maneira geral, aceita que o governo atual não controle o gasto público, certo de que um futuro governo vai fazer as “maldades” necessárias.
Embora os gastos tenham sido atribuídos na sua totalidade a políticas anticíclicas do governo para combater a crise, não há dúvidas de que parte do descontrole fiscal teve motivação eleitoral, a crise tendo sido um pretexto a posteriori para o descontrole que já havia sido contratado.
De olho nessa situação ainda incerta, Meirelles não pretende deixar o BC pelo menos antes de março, mas os peemedebistas de Goiás lhe dizem que, para disputar o governo, teria que sair agora, para começar as negociações políticas regionais.
Os políticos necessitam de uma sinalização segura para formar as alianças que organizarão o palanque estadual para apoiar a chapa de presidente, e o partido precisa montar sua chapa de senadores e deputados federais e estaduais desde já, não querem esperar por março, último prazo para a desincompatibilização de quem está em governos.
Nesse caso, Meirelles desistiria do projeto e resumiria suas opções a uma das duas vagas do Senado ou a vicepresidente na chapa oficial, desde que o PMDB oficialize sua adesão à candidatura de Dilma Rousseff. Como essa decisão só será sacramentada pela convenção partidária, a ser realizada em junho do próximo ano, e não há nenhuma garantia de que ela seja realmente tomada, o projeto político de Meirelles parece reduzido à disputa pelo Senado.
Além do mais, o presidente da Câmara, Michel Temer, é candidato declarado à vaga de vice pelo PMDB. Somente com uma intervenção, no devido tempo, do próprio presidente Lula, seria possível reverter essa situação que parece consolidada.
Na conversa com Lula, certamente entrará no jogo a possibilidade de Meirelles vir a ser convidado para a equipe da candidata Dilma Rousseff, mesmo que não seja para a Vice-Presidência.
Um acordo implícito, que sinalize a possibilidade de Meirelles ser o próximo ministro da Fazenda em caso de vitória, seria também um recado para o mercado de que o equilíbrio fiscal continuaria a ser uma prioridade.
Assim como a presença de Antonio Palocci na coordenação da campanha.
Em ambos os casos, porém, a ministra teria que mudar seu pensamento econômico, pois, em fins de 2005, pouco antes de ter que sair do governo devido à acusação de violação do sigilo do caseiro, Palocci entrou em rota de colisão com Dilma sobre uma proposta de ajuste fiscal de longo prazo apresentada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o seu apoio.
A chefe da Casa Civil classificou publicamente a proposta de “rudimentar”, explicitando um racha dentro do governo com relação ao gasto público.
Ele continua defendendo sua “proposta rudimentar” de reduzir os gastos gradativamente para que, num período de dez anos, fiquem abaixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que daria uma sinalização de equilíbrio de longo prazo para a economia.
Mas o descontrole pode ser tal que o futuro governo não conseguirá contê-lo tão facilmente. Quanto mais tempo durar o descontrole, e estamos ainda a 15 meses do novo governo, maior será a “maldade” a ser feita, e a oposição não aceitará. É possível ver o próprio PT fazendo oposição a Dilma Rousseff, e ainda mais se o presidente for do PSDB.
Na questão fiscal, o governador de São Paulo, José Serra, tem um histórico mais favorável que Dilma, é reconhecido como bom gestor e cortador de custos. Suas desavenças com o governo federal e com os próprios parceiros tucanos têm mais a ver com a autonomia do Banco Central e a política cambial, o que torna o presidente do Banco Central um alvo preferencial.
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