terça-feira, 29 de setembro de 2009

EUA condenam Zelaya e criticam 'os que o ajudaram'

Gustavo Chacra, Nova York
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O retorno de Manuel Zelaya a Honduras foi uma titude "irresponsável" e "idiota", segundo disse o representante dos EUA em reunião na Organização dos Estado Americanos, Lewis Anselem. "Ele deve parar de agir como se estivesse estrelando um filme antigo", acrescentou o diplomata, que também criticou "os que facilitaram sua volta" - a Venezuela ajudou Zelaya e o Brasil o abrigou em sua embaixada em Tegucigalpa. Para Washington, Zelaya só poderia ter voltado se houvesse acordo com o governo de facto, para evitar violência. Ontem, forças hondurenhas, baseadas no estado de sítio, invadiram e depredaram uma emissora de rádio e uma de TV pró-Zelaya, informa a enviada especial Denise Chrispim Marin.

EUA criticam "volta tola" de Zelaya

Embaixador na OEA qualifica retorno de líder deposto de "atitude irresponsável" e ataca "os que o ajudaram"

O retorno de Manuel Zelaya a Honduras foi uma atitude "irresponsável e tola", segundo afirmou o representante dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), Lewis Amselem, em uma das declarações mais duras de uma autoridade americana contra o presidente deposto desde o início da crise. Na reunião de emergência da entidade, em Washington, o diplomata ainda classificou como "deplorável" a decisão do governo de facto de proibir a entrada de uma missão mediadora no país.

"A volta de Zelaya sem um acordo é irresponsável e não serve aos interesses do seu povo e daqueles que defendem uma solução pacífica para o restabelecimento da ordem democrática em Honduras. Ele deve parar e desistir de fazer alegações inflamadas e de agir como se estivesse estrelando um filme antigo", disse Amselem. Ele acrescentou que "optando, com ajuda externa, por retornar por seus próprios meios, Zelaya e os que facilitaram sua volta, possuem uma responsabilidade especial pelas ações de seus simpatizantes".

Questionado pelo Estado se o diplomata se referia a países como a Venezuela (que ajudou Zelaya) e Brasil (que o abrigou em sua embaixada), Charles Luoma-Overstreet, responsável por América Latina do Departamento de Estado, disse que não. "Criticamos as ações de Zelaya e do governo de facto. Não mencionamos país algum", afirmou.

Em Brasília, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, criticou a declaração de Amselem dizendo que ela revela o "caráter ambíguo da diplomacia americana". "Foi uma declaração infeliz", disse Garcia.

O governo de Barack Obama sempre deixou claro ser contrário a um retorno não negociado de Zelaya a Honduras. As tentativas de entrar de avião e por terra receberam críticas de autoridades americanas. Na avaliação dos EUA, a única saída para o impasse seria um pacto negociado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, ou pela OEA.

Após o retorno de Zelaya, começaram a emergir alguns atritos entre brasileiros e americanos. Inicialmente, a embaixada dos EUA contribuiu com a do Brasil fornecendo ajuda emergencial. A secretária de Estado Hillary Clinton conversou várias vezes com o chanceler Celso Amorim e os dois países aparentavam agir de forma coordenada. Mas a decisão brasileira de enviar uma carta ao Conselho de Segurança da ONU para discutir a questão da segurança da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa não foi bem recebida pelos EUA.

A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, expressou a Amorim sua insatisfação com a ação brasileira, afirmando que o conselho não era o fórum apropriado. Mas Overstreet nega que as relações entre EUA e Brasil tenham se deteriorado.

Após dez horas de debate, o Conselho Permanente da OEA não chegou a um consenso de declaração sobre Honduras e limitou-se a pedir o diálogo e a reconciliação no país. Segundo fontes, um desacordo por causa de um parágrafo sobre as eleições previstas para novembro levou ao impasse entre os países-membros.

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