O presidente Lula e o PT têm razão quando afirmam que não há Plano B, apenas o Plano D de Dilma presidente para 2010. Mas não faltam candidatos ao posto. Depois de Ciro Gomes, as especulações agora giram em torno do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Enquanto D não consolida posição nas pesquisas, haverá sempre uma letra do abecedário pronta para assumir seu lugar.
O que não faltará para Dilma, até o fim do ano, é oportunidade para voltar a crescer nas pesquisas e ocupar o lugar que Lula e o PT esperam que ela ocupe. Sozinha ou a tiracolo de Lula, está nas cadeias nacionais de tevê três vezes mais que os adversários. Nas comemorações pela escolha do Rio para sediar os jogos olímpicos de 2016, lá estava ela em rede nacional - vestia uma camisa amarela.
Em dezembro, o programa nacional do PT, no rádio e na televisão, deve catapultar o nome de Dilma nas pesquisas, assim como os programas do PSB e do PV serviram para engordar os índices do deputado Ciro Gomes e da senadora verde Marina Silva, respectivamente.
Nesse aspecto, Dilma leva uma vantagem a mais sobre o adversário: o programa do PSDB será em novembro, quando os tucanos provavelmente ainda não terão decidido entre as candidaturas dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Dilma, ao contrário, é a candidata de Lula e tem tudo para deslanchar: retomada do crescimento econômico, pré-sal, Copa do Mundo de 2014 e os jogos olímpicos de 2016. São os índices atuais da ministra nas pesquisas, abaixo daqueles esperados por Lula e o PT, que estimulam a especulação sobre o "candidato oculto" no colete ou manga da camisa do presidente.
O desempenho de Dilma, sempre abaixo ou tecnicamente empatada com Ciro Gomes, também estimula fantasias sobre o "gênio estratégico" de Lula movendo peças num tabuleiro de xadrez imaginário. Numa jogada - de mestre, é claro - move o domicílio eleitoral de Ciro Gomes para São Paulo. Em outra, posiciona Henrique Meirelles como um cavalo, no jogo de xadrez, que se move em "L" seja para um lado ou outro.
Para desabrochar como flor da pré-campanha, bastou a Meirelles ocupar lugar de destaque na delegação de Lula que celebrou a vitória do projeto olímpico Rio 2016, em Copenhague. O caminho mais simples para o presidente do BC é a disputa por uma das duas vagas que caberá a Goiás, no Senado. Ciro bem que quer ser o Plano B, o que não é plano de Lula, e se duvidar, muito menos do PSB, partido controlado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Antes de virar mito, Lula errou mais que acertou na articulação política. O pior desses erros foi subestimar o Plano Real na eleição de 1994. Sua virtude tem sido a de aprender com os próprios erros, desde os tempos de sindicalista no ABC. O presidente e seus conselheiros políticos sabem que quem tem três candidatos na verdade não tem nenhum. Para todos os efeitos, portanto, o nome é Dilma Rousseff.
Deve-se ainda ao desempenho atual da ministra Dilma nas pesquisas a queima de rojões, pelo PT, para celebrar as últimas pesquisas. Os petistas comemoram o fato de a soma dos demais pré-candidatos, nas últimas pesquisas, ter ultrapassado o total do governador de São Paulo, o tucano José Serra, o primeiro colocado em todas sondagens, com ampla margem.
O ex-deputado e ex-ministro Delfim Netto costuma dizer, com o humor rascante característico, que os números, sob tortura, confessam qualquer coisa. O PT festejou, mas não tem muito o que comemorar com a pesquisa publicada pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no domingo passado.
É bem verdade que a soma dos índices de Ciro (20%) e Dilma (19%) supera os 34% de José Serra (em quarto lugar, neste cenário, aparece Marina Silva, com 8%), no Rio Grande do Sul. Mas também é verdadeiro que, se a eleição fosse hoje, os gaúchos mandariam Serra e Ciro para o segundo turno.
O que o ex-ministro José Dirceu, em seu site na internet, considera um "quadro preocupante" para José Serra e todos os tucanos, pode também ter outra leitura: o mais provável candidato do PSDB segura o primeiro lugar, com vantagem, num Estado, o Rio Grande do Sul, onde uma filiada ao partido, a governadora Yeda Crusius, bate recorde de impopularidade.
Yeda é uma espécie de Lula às avessas, desaprovada por 74% da população, segundo pesquisa Ibope. E nem por isso tem a reeleição inteiramente descartada, nos cálculos dos políticos gaúchos. Se Yeda é recuperável, imagine-se a candidata da máquina.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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