De volta ao Senado após o recesso, Jarbas Vasconcelos (PMDB) segue para mais quatro anos na Casa em uma condição diferenciada: terá agora na bancada estadual dois adversários (Armando Monteiro e Humberto Costa). Porém, acredita em uma convivência “democrática e civilizada”. Jarbas vai priorizar a reforma política – “sem ela não saímos desse rame, rame” – e lamenta que o governo Dilma já esteja “querendo deixar o tema de lado”.
JC – Qual a sua expectativa para o retorno ao Senado? Já teria algum projeto em mente?
JARBAS VASCONCELOS – Eu vou dar ênfase à questão da reforma política, que a presidente Dilma está deixando de lado. O Michel Temer reitera isso hoje (ontem), em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Essa será a minha principal briga, porque sem a reforma não vamos para lugar nenhum. Sem isso, continuamos nesse rame-rame e essa coisa toda. Houve o recesso e o Senado está bastante renovado. Então, vou ver como ficam as coisas lá e a partir disso faço minhas observações. Mas pelo que eu sinto, o que é fundamental para o País é a reforma política e o governo está deixando de lado.
JC – O deputado Raul Henry divulgou na semana passada a criação de uma nova corrente no PMDB, chamada Afirmação Democrática. Como o senhor vê essa ação? Pretende participar?
JARBAS – Essa tem sido minha posição ao longo desses quatro anos. Vejo com bons olhos essa coisa muito altiva, essa iniciativa dos deputados de lutar de forma independente, corajosa e democrática. Coisa que não existe hoje dentro do PMDB. São peemedebistas que estão se reunindo (a ala dissidente) e isso é importante.
JC – Nos últimos quatro anos, o senhor teve como colegas no Senado dois aliados pernambucanos – Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB). Agora serão Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB). Que tipo de relação o senhor espera ter com eles?
JARBAS – Será uma experiência nova. Uma experiência de adversidade, mas que a gente vai ter que conviver. A convivência tem que ser, sobretudo, democrática e civilizada. O respeito será mútuo. É cedo para dizer como será a relação com os senadores (governistas). Eu tenho a minha linha e vou segui-la. Pelo que tenho lido a respeito dos dois, eles têm o mesmo procedimento (de seguir a linha deles). Vão defender o governo federal e estadual.
JC – Algum tipo de articulação será feita, de união em prol de projetos para Pernambuco, por exemplo?
JARBAS - É muito cedo. Eu vou pra Brasília amanhã (hoje), a posse é terça-feira (amanhã) e na quarta e quinta começamos a discutir as comissões. Então, deixa primeiro eu sentir os ares lá.
JC – A oposição deverá manter uma espécie de bandeira branca com relação ao governo Dilma nos primeiros seis meses? Até sentir a relação dela com o Congresso?
JARBAS – Oposição não tem complementação. Não tem esse negócio de oposição respeitosa, construtiva... Oposição é oposição. Se ela está fazendo um governo regular e se distanciando do estilo folclórico de Lula, ótimo. Isso é uma coisa positiva para o País. Mas temos que acompanhar essa partilha do governo, que não é uma coisa correta. Ainda tem a reforma política que ela se comprometeu em todos os debates da eleição. Só acho que é muito ruim a gente continuar com um Congresso que vem, não só desde o governo Lula (2003-2006 e 2007-2010), mas desde Itamar (1992-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002), um Congresso funcionando na base do fisiologismo, do toma lá, dá cá e da troca de cargos.
JC – E em um Senado que terá mais uma vez José Sarney (PMDB-AP) na presidência?
JARBAS – É. É um desânimo para qualquer pessoa ver a quarta investidura de Sarney no Poder. E ainda dizer que foi convocado... Que renovação pode se esperar? O que a classe política que tem se debatido, envolvida em um desgaste profundo, ganha com Sarney comandando do Senado pela quarta vez, depois de uma legislatura marcada por profundos desencontros nesses dois anos? Nada!
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Um comentário:
Apraz-nos ver o retorno do Senador Jarbas Vasconcelos, mesmo como voz minoritária, para atuar dentro de sua linha tradicional, oposição para valer, sem ser boazinha nem pragmática (flexível que nem geléia), como gostam os mineiros.
Suas menifestações sempre foram transparentes e, mantida a mesma linha de atuação, o tornarão liderança inquestionável no Congresso Nacional. Estamos torcendo por êle. Rodolpho Varella
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