A demanda interna forte e a alta de preços de matérias-primas puxaram em 2010 os lucros das empresas, que cresceram 32,2% sobre o ano anterior. Numa amostra de 59 companhias com ações em bolsa, as petroquímicas, os bancos e as construtoras lucraram como nunca.
Lucro Bilionário S/A
No ano passado, 59 empresas do Ibovespa tiveram ganho de R$167 bi, alta de 32%
Ronaldo D"Ercole
O vigor da demanda interna e a recuperação de preços internacionais das commodities impulsionaram os lucros das empresas brasileiras em 2010. Levantamento da Austin Rating, com base nos balanços das companhias de capital aberto que compõem o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas na bolsa de valores), mostra que, juntas, essas empresas acumularam lucro líquido de R$167,4 bilhões no ano passado, um salto de 32,2% sobre os ganhos do ano anterior, que somaram R$126,6 bilhões. A rentabilidade dos negócios variou menos: subiu de 13,3%, em 2009, para 14,2%.
Os dados compilados pela Austin referem-se aos resultados apresentados por 59 empresas, que atuam em 20 diferentes setores. Uma amostra, portanto, do universo de 647 companhias listadas em bolsa no país.
- É uma fotografia apenas dos setores reunidos no Ibovespa, e mostra que as empresas aproveitaram muito bem os estímulos concedidos pelo governo durante 2009, que se estenderam até o primeiro semestre, potencializando os negócios - diz o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. - A evolução dos ganhos prova também que as medidas foram acertadas, apesar do ônus da inflação maior que temos agora.
Dos dez setores cujos lucros mais cresceram no ano passado, somente o de mineração - cuja amostra analisada tem basicamente a Vale, grande exportadora, pois a MMX ainda inicia suas operações - não tem atuação voltada para o mercado interno. No petroquímico, representado pela Braskem, que incorporou as operações da Quattor, o lucro avançou 374,2%.
O lucro das seis empresas do setor da construção civil cresceu 59,7%, embalado pela combinação de incentivos aos materiais com farta oferta de crédito e o programa "Minha Casa, Minha Vida". Na esteira da construção, o lucro da Duratex, única representante do segmento de madeira e papel analisada, subiu de 187,4%.
Câmbio desfavorável atrapalha siderurgia
O setor de telecomunicações, representado por cinco grandes operadoras (Oi, Vivo, Telesp, BrT e TIM), aproveitou-se da ascensão da renda das classes C, D e E, que fez explodir as receitas dos serviços móveis pré-pagos, e viram seus lucros avançarem 36,4% sobre 2009. O destaque fica com a TIM, que elevou de R$341 milhões para R$2,2 bilhões seu lucro no país.
- A TIM destacou-se justamente por uma estratégia muito agressiva no segmento do pré-pago - observa Pedro Galdi, estrategista-chefe da SLW Corretora.
A forte expansão das indústrias automobilística, de petróleo e gás e da construção civil no país também ajudou a alavancar os ganhos das siderúrgicas, que cresceram 34% sobre 2009: as três empresas analisadas do setor (Usiminas, CSN e Gerdau) lucraram juntas R$6,5 bilhões no ano passado. Apesar disso, ressalta Galdi, essas empresas penaram com o câmbio favorável às importações e com a existência de excedentes de aço no exterior. Sem poder elevar os seus preços sob o risco de perder espaço para o aço importado, o setor não conseguiu recuperar, na mesma proporção do lucro, a sua rentabilidade, que subiu de 11%, em 2009, para 14%.
As seis empresas de varejo (comércio, na nomenclatura de setores da Bovespa) analisadas viram seus lucros avançarem 14,3%, em linha com a alta do consumo no país. Mas o câmbio e a concorrência dos importados lhes tiraram rentabilidade, que recuou de 16,5%, em 2009, para 13,3%.
Galdi, da SLW, destaca que grande parte do crescimento dos lucros das empresas em 2010 deveu-se a uma base de comparação muito fraca, de 2009, quando o desempenho era muito afetado pelos efeitos da crise global:
- O primeiro semestre de 2009 foi terrível para a grande maioria dos setores, não se vendia nada. E grande parte do aumento dos lucros em 2010 vem daí.
Junto com a Vale, que teve lucro recorde de R$30,4 bilhões em 2010, a Petrobras, com ganho de R$35 bilhões, encabeça o ranking de ganhos em 2010. O lucro da Petrobras cresceu 7,7%, puxado pelo aumento dos preços do petróleo no último trimestre, na esteira da crise no Egito, e pelo aumento da produção. A megacaptação na bolsa em setembro, que resultou na entrada de R$50 bilhões no caixa da empresa, derrubou a rentabilidade, de 20% para 11%.
Ganho da Vale disparou 189%
Já a Vale se aproveitou da forte recuperação dos preços não só do minério de ferro, mas também do níquel e cobre, e viu seu lucro disparar 189,6%. E, diferentemente de 2009, beneficiou-se ainda da retomada forte da demanda chinesa por minério.
O desempenho do setor bancário (representado pelas quatro maiores instituições do país: Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) também merece destaque. Puxado pela expansão do crédito, teve R$39,4 bilhões em lucro, 257% maior que em 2009, com aumento de rentabilidade, de 14,9% para 16,3% no período.
Chama a atenção no levantamento da Austin Rating, porém, as taxas de rentabilidade (medidas pela relação do lucro líquido sobre o patrimônio líquido) registradas pelas credenciadoras de cartões. Os índices de Cielo e Redecard, as duas representantes do setor "financeiro", destoam, com índice médio de 124,5%, enquanto a média dos 20 setores foi de 14,2%.
- Com a baixa competitividade (garantida pela exclusividade que as empresas tinham sobre as bandeiras e que só acabou no fim do ano), os custos vão para os preços, mas com novas regras e a entrada da Elo o setor tende a se ajustar - diz Agostini.
FONTE: O GLOBO
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