segunda-feira, 6 de junho de 2011

Aliados cobram de Dilma a solução sobre Palocci

Aliados do PMDB e do PT cobraram da presidente Dilma Rousseff um desfecho para a situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, até quarta-feira, quando o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deve dar seu parecer sobre o caso. A avaliação dos interlocutores do Palácio do Planalto é que a situação de Palocci é insustentável, sob pena de aprofundar a crise e os problemas na relação com o Congresso. Dilma conversou ontem sobre o assunto, por telefone, com o ex-presidente Lula, que é esperado amanhã em Brasília. Uma das alternativas discutidas é a de que Palocci peça licença até o esclarecimento do caso. Deputados admitem que há um grande problema em mexer na composição do governo e criar novas dificuldades com a escolha mal feita do substituto. Dilma teria preferência por uma pessoa com perfil mais técnico, como Graça Foster, diretora da Petrobras, ou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Mas isso criaria um problema na articulação política

Aliados dão ultimato a Dilma

CRISE NO GOVERNO

Presidente consulta Lula sobre destino de Palocci após base cobrar decisão até quarta-feira

Cristiane Jungblut, Flávia Barbosa, Geralda Doca e Isabel Braga

Acabou o prazo para um desfecho político na crise provocada pela revelação da rápida evolução do patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. O PMDB e o PT, os dois maiores partidos da base aliada, passaram a cobrar da presidente Dilma Rousseff uma definição pública da situação de Palocci até quarta-feira, sob pena de se aprofundarem a crise e os problemas na relação com o Congresso Nacional. Há a expectativa de que, quarta-feira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, dê seu parecer sobre o caso. A avaliação dos interlocutores do Palácio do Planalto é que a situação de Palocci é insustentável, mas todos admitem que há um grande risco de mexer na composição do governo e criar novas dificuldades a partir da escolha mal feita de um substituto.

O recado foi transmitido ontem por políticos aliados a Dilma. A presidente decidiu conversar sobre o assunto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem. A gravidade da crise levará a encontros hoje entre caciques do PT em São Paulo e Brasília. Lula é esperado amanhã na capital federal.

Para o PT e o PMDB, a presidente precisa tomar uma posição pública sob o risco de agravar ainda mais o momento e aumentar a sangria do ministro da Casa Civil, que não conseguiu reverter sua situação com as explicações dadas na entrevista à TV Globo e depois viu surgirem novas denúncias com a reportagem da revista "Veja" mostrando que ele aluga um apartamento em São Paulo de uma empresa de propriedade de laranjas.

Os deputados querem evitar um desgaste ainda maior na Câmara, já que o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), terá que anunciar esta semana a anulação do pedido de convocação de Palocci pela Comissão de Agricultura. No Palácio, uma das alternativas discutidas é Palocci pedir licença até o esclarecimento do caso. A solução lembra o caso de Henrique Hargreaves, ministro da Casa Civil de Itamar Franco, que, alvo de denúncias, deixou o cargo e depois voltou.

Já Palocci disse a interlocutores do PMDB que tinha a esperança de que Gurgel decida até quarta-feira sobre o assunto. O procurador viaja na quinta-feira para o exterior.

Temor de substituto sem expressão

Um dos dilemas de Dilma ontem era encontrar um substituto para Palocci. O temor é que um nome sem expressão política ou alvo de denúncias só aumentasse a crise. O próprio Palocci confidenciou a interlocutores que já tinha feito o que podia, dado as explicações e que a decisão era da chefe.

- A solução agora é da presidente, a partir da dimensão que ela avalia ter o problema. Se vai dizer que (o impacto negativo) já está precificado e vamos em frente com Palocci ou se a crise começará a contaminar o governo, esse custo é inaceitável e vamos trocar - afirmou um político que conversou ontem com o ministro.

O temor é que a crise acabe afetando o andamento do governo. Ministros já reclamam que há falta de diretrizes devido às indefinições.

- A semana é decisiva para Dilma, ela tem que tomar decisão, se fica ou dá tchau ao Palocci. Ela não pode permitir que dúvidas pairem sobre o seu ministro mais importante, que comanda a Casa Civil. Ela tem que encerrar esse debate para não deixar que a crise tenha mais impacto sobre ela. Caso contrário, dará incentivo ao bombardeio - disse um cacique do PT.

Dilma, segundo interlocutores, não gostou do desempenho de Palocci nas entrevistas, no sentido de que não trouxeram novos esclarecimentos sobre o faturamento de R$20 milhões de sua empresa de consultoria, a Projeto. Mas a informação sobre problemas no aluguel do apartamento onde mora serviu para aumentar o desgaste.

O PMDB mantém a estratégia de defender Palocci. Mas os líderes enfatizam que embora reconheçam a importância do ministro para o governo e para a própria presidente, desde a campanha eleitoral, o ministro é do PT e o PMDB não teve qualquer influência em sua indicação, uma escolha de Dilma.

Ela analisava ontem vários rituais para sair da crise. Caciques do PMDB apostavam num tempo até quarta. Já membros do governo e petistas apostavam na saída de Palocci por ser insustentável sua permanência.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que as explicações legais e jurídicas dadas por Palocci foram "suficientes", mas reconheceu o desgaste diário:

- Não é uma posição confortável, a imprensa publicando matérias todos os dias, a oposição fazendo disso um cavalo de batalha. Só a presidente pode decidir o que fazer com ele. Da parte do PMDB, daremos apoio ao ministro, pela importância dele no governo. É decisão exclusiva da presidente, que contará com o respeito e o apoio do PMDB, qualquer que seja ela.

- Quem tem o poder de decisão é a presidente. Houve a fala de Palocci, surgiu um novo agravante, mas pode ser explicado. Se ela não quiser contaminar o governo, tem que tomar uma decisão: ou ele fica e ela banca, ou não fica. Acho que ela deve anunciar (a decisão) e, se decidir que ele não fica, deve anunciar o sucessor no ato - disse o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

FONTE: O GLOBO

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