Paola Moura
Rio - A oposição do Rio de Janeiro ganhou neste fim de semana o primeiro grande fato político que pode usar como arma para atacar Sérgio Cabral (PMDB), depois de um início de segundo mandato em que o governador navegou sobre os 66,08% de votos obtidos no primeiro turno da eleição. A invasão dos bombeiros a seu Quartel Geral, na Praça da República, no Centro do Rio, e a necessidade de utilizar o Batalhão de Choque da Polícia Militar para enfrentá-los, jogando gás lacrimogêneo, não só sobre os militares invasores, mas sobre as mulheres e crianças que os acompanhavam, trouxe de volta ao cenário local políticos com pretensões majoritárias que ultimamente só apareciam envoltos em temas nacionais: o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o senador Lindbergh Farias (PT).
Após autorizar a ação contra os bombeiros - que reivindicam aumento salarial de R$ 950 para R$ 2 mil -, o governador Cabral convocou uma entrevista coletiva e partiu para o ataque: classificou a invasão como "ação inaceitável de vândalos". "Não negocio com vândalos. Eles irão responder administrativa e criminalmente". O governador atacou os manifestantes e os chamou de minoria dizendo que o Corpo de Bombeiros possui cerca de 17 mil oficiais, e a imagem da instituição não será abalada por conta de "seis centenas de indivíduos que não deveriam nem estar na instituição", que em comportamento de "desequilíbrio completo" ainda levaram crianças e mulheres.
O deputado federal Anthony Garotinho, acompanhado de sua filha Clarissa Garotinho, esteve na sexta-feira no ato que os bombeiros realizaram nas escadarias da Assembleia Legislativa, de onde partiram para invadir o QG no Centro. Desde então vem divulgando em seu blog, o passo a passo das manifestações. Desde que os protestos começaram em abril, Garotinho e sua filha deram apoio aos manifestantes. Mas agora que o protesto tomou dimensões nacionais, intensificaram o apoio.
Também em seu blog, Garotinho acusou o governador: "Cabral está cheio de ódio e quer expulsar os bombeiros que participaram da ocupação do Quartel Central e pressiona para que sejam processados criminalmente, de forma a pegarem uma pena de 14 anos de prisão, como se fossem perigosos marginais, e não bravos guerreiros que salvam vidas. Quer destruir a vida e a carreira dos bombeiros". Além disso, tornou-se porta-voz da corporação divulgando notícias diretamente de dentro do Batalhão da PM de Niterói, para onde 439 bombeiros foram levados na noite de sábado.
Outro político que voltou à carga é o senador Lindbergh Farias (PT). Com pretensões de se tornar o apaziguador, se ofereceu para ser intermediador entre a corporação e o governador Sérgio Cabral, de quem já foi inimigo político e concorrente, e, desde a campanha presidencial, se diz aliado. Ontem de noite, após deixar o quartel da PM em Niterói, reclamou do governo estadual. "O posicionamento intransigente não ajuda na solução do problema". E reforçou: "Este é um movimento legítimo da categoria, e não uma politicagem de A ou B". Lindbergh ressaltou ainda que "neste momento, os pontos mais importantes são o início de uma negociação salarial e o combate à ideia de criminalizar as lutas sociais". "Esses homens são heróis, não podem ser tratados como bandidos", defendeu Lindbergh, que, pela manhã, esteve na manifestação realizada na Alerj.
Como o fato teve grande repercussão na mídia, ontem, no início da tarde, o governador divulgou nova nota, voltando a chamar os bombeiros de irresponsáveis. "(...) Um grupo de manifestantes da categoria conduziu um gesto de imensa irresponsabilidade ao invadir, na noite de 4/6, o quartel central dos bombeiros - um bem público e santuário da corporação. Esse grupo qualificou de "manifestação pacífica" a invasão para a qual levou crianças junto a marretas, utilizadas em agressões. Ninguém planeja levar marretas para "manifestações pacíficas (...)".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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