Em várias capitais brasileiras, pelo menos 30 mil pessoas participaram de manifestações contra a corrupção convocadas através das redes sociais. O maior ato foi em Brasília, onde a Marcha contra a Corrupção levou 25 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios. Com vassouras, narizes de palhaço e faixas, os manifestantes cobraram do governo, do Congresso e do Judiciário punição para os envolvidos nos últimos escândalos – como os mensaleiros e a deputada Jaqueline Roriz, flagrada recebendo propina e absolvida pela Câmara. Na outra metade da Esplanada dos Ministérios, a presidente Dilma assistiu ao desfile cívico-militar, acompanhado por 40 mil pessoas. Não ouviu os protestos.
Faxina verde-amarela
Pelo menos 30 mil pessoas vão às ruas nas capitais no Sete de Setembro contra a corrupção
Isabel Braga, Gabriela Valente, Fábio Fabrini e Evandro Éboli
Convocadas pelas redes sociais, manifestações contra a corrupção atraíram pelo menos 30 mil pessoas em várias cidades do país, como Brasília, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O maior ato foi em Brasília, onde a Marcha Contra a Corrupção surpreendeu e reuniu na Esplanada dos Ministérios cerca de 25 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, durante o desfile cívico-militar em comemoração ao Dia da Pátria. Os manifestantes apareceram com faixas, cartazes, vassouras representando a faxina na política, nariz de palhaço e roupa preta.
Entre os alvos do protesto, o Congresso Nacional, criticado pela absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada recebendo propina. O movimento cobrou punição dos envolvidos no mensalão do PT. O ato, pacífico e apartidário, ocorreu na pista paralela à do desfile oficial do Sete de Setembro e poupou a presidente Dilma Rousseff. Faixas e gritos de guerra cobravam a continuidade da faxina nos ministérios, com a demissão dos envolvidos em escândalos.
A presidente, ministros e autoridades não viram nem ouviram os protestos. Eles ficaram na outra metade da Esplanada - onde cerca de 40 mil pessoas assistiram ao desfile oficial, segundo estimativa da Polícia Militar, e onde o esquema foi montado para impedir manifestações antigovernistas.
O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, discursou em cima do caminhão de som e parodiou o bordão que marcou a passagem do senador José Sarney (PMDB-AP) pelo Planalto:
- Brasileiros e brasileiras, sem parodiar qualquer político (Sarney), do que este país precisa é de vergonha na cara. O povo tem que ir para as ruas, como nas Diretas Já e no impeachment de (Fernando) Collor. Ladrão tem que ir para a cadeia.
A OAB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em carta intitulada "O Brasil em movimento contra a corrupção", divulgada ontem, cobraram ações dos três poderes. Pediram que Executivo, Judiciário e Legislativo elejam prioridades: transparência das despesas e aplicação da Lei da Ficha Limpa, além de agilidade no julgamento de casos de corrupção. A major Ana Luiza Azevedo, uma das responsáveis pelo policiamento, afirmou que aderiu ao movimento no Facebook e defendeu:
- Sem estardalhaço, o povo mostrou o que está acontecendo. Eu estou indignada com os juros altos, os impostos, a corrupção, a gasolina cara.
Os manifestantes mostraram pouca paciência com políticos. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi hostilizado. Manifestantes vaiaram e pediram o afastamento de militantes com bandeiras de partidos. Os organizadores se incomodaram com a presença de movimentos sindicais. No carro de som, ouvia-se o refrão do samba de Bezerra da Silva: "Se gritar "pega ladrão", não fica um, meu irmão".
Num grupo equipado com baldes e vassouras, Charles Guerreiro, de 42 anos, esfregava o asfalto da Esplanada e a fachada do Ministério da Agricultura, alvo de denúncias de corrupção, em nome da "limpeza ética":
- Esta vassoura não é do Jânio (Quadros, ex-presidente) nem da Dilma. É de todos nós. O Brasil pode se organizar e mudar desde que não fique em casa, alienado! - bradava.
Em São Paulo, o ato contra a corrupção reuniu, segundo a Polícia Militar, 500 pessoas. Os manifestantes se concentraram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e saíram em caminhada pelas calçadas da Avenida Paulista. A maioria dos manifestantes era de jovens e estudantes, mas apareceram pais com filhos, idosos e até moradores do interior paulista.
E-mails e páginas de relacionamento na internet serviram para a organização do evento. Um dos participantes, Saulo Vieira Justo Resende, de 28 anos, disse que não conhecia ninguém:
- É uma iniciativa espontânea. Não tem organizador nem líderes. E queremos que continue assim.
FONTE: O GLOBO
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