quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Criação de empregos perde fôlego

Com a desaceleração da economia, a abertura de vagas com carteira assinada já ocorre em ritmo mais lento do que a média histórica na maioria dos setores da indústria. Até dezembro, a criação de postos de trabalho deve cair 40% frente ao início do ano

Sem fôlego nos empregos

Freio na economia já reduz abertura de vagas com carteira. Impacto é maior na indústria

Geralda Doca

A desaceleração da economia no segundo trimestre do ano atingiu em cheio os empregos formais, sobretudo na indústria. No parque industrial, mais da metade dos subsetores pesquisados - sete dos 13 - já abre vagas em ritmo abaixo da média histórica mensal de criação de postos de trabalho. Também estão sofrendo os impactos o comércio varejista, a construção civil e até o setor de serviços, que vinha apresentando saldos bastantes elevados, nas atividades relacionadas ao comércio e à administração de imóveis e aos serviços técnicos profissionais. Estados e prefeituras também estão empregando menos funcionários com carteira assinada.

A conclusão é do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, já descontados os fatores sazonais (por exemplo, épocas de maior contratação como Páscoa, carnaval e fim de ano). O resultado foi obtido a partir da comparação entre a média de criação de empregos de cada setor nos três meses encerrados em julho e a média mensal de geração de postos dos segmentos desde 1998, quando o banco iniciou a sua série histórica.

Queda de 40% entre agosto e dezembro

De acordo com o relatório do Bradesco, o país saiu de uma média mensal de 166 mil empregos com carteira criados no primeiro trimestre deste ano para 159 mil postos no segundo, caindo para 129 mil, conforme os dados iniciais, neste terceiro trimestre. A projeção do Depec aponta para uma geração média mensal de 100 mil entre agosto e dezembro - uma queda de 40% sobre o início de 2011.

- O PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do segundo trimestre mais fraco reflete a acomodação da indústria, com acúmulo de estoques, depois de um primeiro trimestre forte. Isso faz os empresários olharem mais à frente, reduzirem os negócios e as contratações - afirmou o economista Leandro Câmara Negrão, do Bradesco.

- O mercado de trabalho está reagindo à desaceleração na demanda por produtos industriais, a economia brasileira este ano está crescendo menos. Há também forte interferência dos importados, com a valorização do câmbio e a sobra de produtos manufaturados do mundo - acrescentou o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, lembrando que as pesquisas da entidade mostram recuos consecutivos na confiança dos empresários.

O PIB do segundo trimestre cresceu apenas 0,8% sobre o primeiro, prejudicado pelo desempenho fraco da indústria, que ficou praticamente estagnada, com expansão de 0,2%. A construção civil expandiu-se somente 0,5%, segundo o IBGE.

O levantamento do Bradesco mostrou que o ramo da indústria que mais sofreu este ano foi o têxtil e vestuário, que registraram demissão entre maio e julho. Isso porque houve, em média, a eliminação de 4.853 vagas, abaixo da média histórica, que é de criação de 2.543 postos formais.

Aparecem em seguida serviços de comércio e administração de imóveis e serviços técnicos profissionais (-3.597); comércio varejista (-2.122); indústria de calçados (-1.990); de material de transporte (- 957); de alimentos e bebidas (-306); mecânica (-202); construção civil (-128) e indústria metalúrgica (-110).

No Sul, índice abaixo da média histórica

Além disso, dos 25 subsetores pesquisados, apenas três estão contratando acima da sua média histórica: as indústrias de material elétrico e comunicações, e de borracha, fumo e couros, e a agropecuária.

A desaceleração do emprego formal também começa a ser observada entre as regiões. No Sul, o resultado global já é a contratação abaixo da média histórica. Já o Nordeste mantém-se ligeiramente acima. O único destaque é o Centro-Oeste, onde todos os estados estão em ritmo forte na criação de postos de trabalho.

No Sudeste, por exemplo, os empregos foram puxados por Espírito Santo (1.307 acima da média) e Rio (1.266). O estado de São Paulo, que responde pela maior parte das contratações na região e tem o maior parque industrial do Brasil, ficou com desempenho negativo (-471).

Quando se compara a geração de empregos por região entre o primeiro e o segundo trimestres do ano, com exceção do Centro-Oeste, todas as demais tiveram queda. A maior ocorreu no Norte, com redução de 33,7% no ritmo de contratações. Em seguida, estão o Sul, com recuo de 23,2%; o Nordeste (queda de 17,3%) e o Sudeste (redução de 13,9%).

O Centro-Oeste, a região mais próspera do país em termos de geração de empregos, contratou em julho 5.595 trabalhadores acima da média mensal histórica da região.

Segundo Negrão, do Bradesco, com peso grande na agricultura brasileira, a região é beneficiada pela alta cotação das commodities:

- Aumenta a renda agrícola e isso gera mais gastos e movimenta a economia local, com impacto positivo nos empregos.

FONTE: O GLOBO

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