Terminado o ciclo de prosperidade da economia mundial que se estendeu de 2002 a 2008, o Brasil buscou uma trajetória de crescimento econômico ancorada no fortalecimento do mercado interno e na persistência da vigorosa demanda externa por produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais (minérios, metais, bioenergia, alimentos, etc.). E, de certa forma, foi possível prolongar aquele ciclo por alguns trimestres com relativo sucesso no nosso país.
Contudo, a experiência histórica mostra que, quando a economia global sofre um processo recessivo que não é transitório, mas é durável e se aprofunda, é muito improvável que possa haver, em escala mundial, alguma economia nacional de maior expressão que venha a se constituir numa ilha de prosperidade. Ou seja, é muito difícil blindar qualquer país ou região de um colapso econômico global.
Iniciamos o ano de 2012 com a atual crise financeira nos Estados Unidos e na Europa se caracterizando como a mais dramática crise depois dos anos 30. É ilusório pensar que uma crise nas economias dominantes intensa, longa e profunda possa não atingir significativamente as economias periféricas ou emergentes. Os mecanismos de transmissão se manifestam inexoravelmente por meio da queda nos fluxos de comércio internacional de bens e serviços e nos fluxos de financiamento nos mercados de capitais globalizados.
Por outro lado, são limitados os graus de liberdade de que as nossas autoridades econômicas dispõem para conceber e executar políticas de demanda expansionistas. Há um processo de inflação rastejante ou furtiva em andamento que constrange novas e significativas quedas nas taxas de juros. E o orçamento do setor público consolidado se encontra enrijecido por vinculações constitucionais e por comprometimentos políticos com crescentes despesas correntes - em que se destacam as políticas sociais compensatórias, que se tornarão crescentemente indispensáveis se a atual desaceleração econômica se aprofundar.
É evidente que o Brasil ainda se destaca no cenário mundial como uma economia que dispõe de imensas potencialidades de crescimento econômico por causa, principalmente, da exuberância competitiva de sua base de recursos naturais renováveis e não renováveis. Assim, mesmo num quadro de economia mundial convalescente, sempre haverá muitos grandes projetos de investimento sendo concebidos, estruturados e implementados na economia brasileira.
Como tenho destacado em artigos no Estadão, são grandes projetos de investimento que se orientam pelo comportamento dos mercados no médio e no longo prazos, em que novos patamares de demanda foram alavancados de forma sustentada pela China e por outros países emergentes como megaconsumidores de produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais. Nisso esses investimentos se posicionam competitivamente em nível global, independentemente das turbulências financeiras de curto prazo. Sua implementação tem como fatores limitantes os riscos jurisdicionais e a lentidão das burocracias governamentais que prevalecem hoje no País. O seu financiamento tem como origem principal investimentos liderados pelo setor privado nacional ou internacional, com ou sem suporte do BNDES, seduzidos pela suas elevadas taxas internas de retorno financeiro, capazes de atrair capitais estrangeiros diretamente produtivos.
Esses investimentos certamente poderão garantir alguma taxa de crescimento de nossa economia em 2012, mas nada que possa caracterizar um ciclo de expansão sustentada. É evidente que é muito difícil fazer prognósticos sobre uma economia quando esta passa pela inflexão de um ciclo de prosperidade para um ciclo recessivo. As políticas econômicas ficam a descoberto de redundâncias protetoras, tornando-se menos resistentes a choques exógenos, a efeitos inesperados e às falhas comuns nas predições condicionais dos economistas.
Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento, da Fazenda do governo Itamar Franco
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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