Depois de fracassada a tentativa de negociação e de o comandante da operação do cerco aos grevistas ter sido fotografado ganhando um bolo de aniversário de grevistas, o Exército endureceu ontem: reforçou a tropa que cerca a Assembleia, onde os PMs estão amotinados, suspendeu a entrega de comida e manteve cortadas a energia e a água. O clima ficou tenso durante todo o dia, com helicópteros dando rasantes sobre o prédio, e grevistas provocando os soldados, além de ameaçarem fechar uma das principais avenidas de Salvador. Gravações mostradas pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo, mostram que, de dentro da Assembleia, onde está amotinado, um dos líderes do movimento, Marco Prisco, ordena atos de vandalismo, como o fechamento de uma estrada. Também revelaram um movimento articulado para espalhar o pânico e tentar forçar a aprovação da PEC-300, que cria piso nacional para policiais e bombeiros. As ruas da capital e pontos turísticos estão vazios. Mas a organização do carnaval e o governador Jaques Wagner garantiram que a festa será realizada no estado
Cerco se fecha a PMs amotinados
Exército reforça tropa e proíbe comida e remédios, além de cortar água e luz na Assembleia
Chico Otavio
O Exército endureceu com os PMs grevistas que têm provocado cenas de vandalismo e estão entrincheirados, armados, dentro da Assembleia Legislativa da Bahia desde o começo da greve. No nono dia de paralisação, as Forças Armadas ampliaram de 1.030 para 1.400 o número de soldados na operação de cerco à Assembleia, proibiram a entrada de alimentos e remédios no prédio ocupado pelos grevistas, que também teve a água e a luz cortadas, além de ampliar a área isolada com a proibição de acesso de pessoas ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde fica a Assembleia, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público estadual e algumas secretarias estaduais.
O tenente-coronel Márcio Cunha, porta-voz do Exército, explicou que as medidas foram decididas pelo Estado- Maior da operação, para facilitar o processo de negociação, mas se negou a fornecer detalhes. Sem que os jornalistas perguntassem, ele anunciou que o general Gonçalves Dias — que comandava a tropa, mas ontem, um dia depois de chorar e ganhar um bolo de aniversário dos grevistas, desapareceu — continuava à frente do cerco. Horas antes, manifestantes espalharam que o comandante fora destituído.
Ocupada desde o dia 31, a Assembleia é o foco da greve. De lá, o ex-bombeiro Marco Prisco, presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares da Bahia (Aspra), comanda o movimento e até atos de vandalismo na cidade. Ele é um dos dez dirigentes sindicais com mandado de prisão que ainda estão soltos. Na terçafeira, após duas rodadas de negociação, representantes de outras associações de classe da PM rejeitaram a contraproposta do governo estadual.
Em nota, o governo estadual conclamou os policiais a voltarem ao trabalho.
Em troca, reafirmou a disposição de oferecer o pagamento escalonado da Gratificação de Atividade Policial 4 (GAP-4), de novembro deste ano até o ano que vem, e a GAP-5 entre 2013 e 2014. De acordo com a nota, a concessão do benefício, somada ao reajuste de 6,5% concedido em janeiro a todo o funcionalismo, representa aumento de 38% nos vencimentos da PM. O governo assegurou que os militares que aderiram ao movimento de forma pacífica não serão punidos.
Grevistas queriam bloquear via
lCom o endurecimento do cerco aos grevistas, a tensão aumentou na área em torno da Assembleia. Helicópteros davam voos rasantes sobre o prédio. A soldada da PM Andréa Xavier, uma das 300 pessoas no gramado em frente ao prédio, disse que os grevistas pretendiam bloquear a Via Paralela, próxima do Centro Administrativo, em protesto contra as medidas que restringiram o acesso do público.
O porta-voz da operação, tenente-coronel Cunha, disse que os manifestantes não estão impedidos de receber atendimento médico, mas terão de se dirigir a uma das ambulâncias militares estacionadas no local, sem poder voltar. Manifestantes fizeram provocações dentro do prédio sitiado e no gramado externo. Eles gritavam que "a PM parou" e "o carnaval acabou". Um dos carros dos manifestantes reproduzia em som alto um suposto pronunciamento do governador Jaques Wagner (PT) em 2001, quando era deputado federal, no qual manifestava solidariedade aos PMs em greve na ocasião.
O PM Lenildo Santos Costa, de 37 anos, foi morto a tiros na noite de terça-feira, em uma pizzaria na periferia de Salvador. A polícia investiga se foi assalto ou vingança. Desde o começo da greve, já são mais de 135 mortos no estado, número bem maior que a média.
FONTE: O GLOBO
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