quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Papel contradiz ex-chefe da Casa da Moeda

Em notificação, ele cobra pagamento a empresa do exterior que não teria tido movimentação financeira, segundo sua versão

Procurador do ex-dirigente, que assina o documento, nega que tenha havido transações financeiras substanciais

José Ernesto Credendio, Andreza Matais e Natuza Nery

BRASÍLIA - O ex-presidente da Casa da Moeda cobrou, por meio de um procurador, pagamentos para uma empresa no exterior que é acusada de ser ligada a esquema de corrupção na estatal.

A cobrança, à qual a Folha teve acesso, contraria versão de Luiz Felipe Denucci de que nunca movimentou dinheiro por meio dessa empresa, embora admita a sua existência.

Denucci foi exonerado da Casa da Moeda após avisar ao Ministério da Fazenda que a Folha publicaria reportagem sobre supostas irregularidades na estatal.

O caso jogou no centro de uma crise o ministro Guido Mantega (Fazenda). Ele admitiu que manteve Denucci no cargo mesmo informado das denúncias.

O papel obtido pela Folha mostra que Denucci cobra por um dinheiro que ele diz ser devido a uma empresa no nome de sua filha.

A cobrança é feita à administradora de recursos WIT, de Londres, e data de setembro do ano passado.

O texto leva a assinatura de Jorge Gavíria, procurador de Denucci em Miami. Pede o "reembolso de fundos devidos" à Rhodes International Ventures e à filha de Denucci, administradora da "offshore", com sede nas Ilhas Virgens Britânicas.

"Confio que o senhor irá fazer contato comigo o mais breve possível para acertar os pagamentos", diz o texto.

A reportagem enviou cópia do documento a Gaviria para que ele o comentasse, mas ele não quis se manifestar.

A WIT respondeu a ele, em novembro, com um documento no qual detalha todos os valores que diz ter movimentado para Denucci entre 2009 e 2011 e que somariam US$ 25 milhões.

Os valores, afirma a empresa, são oriundos de "comissões" de fornecedoras da Casa da Moeda.

"Informo que seus clientes não possuem mais saldo positivo nos fundos sob nossa custódia, já que todos os valores por eles recebidos que se encontravam sob nossa administração foram transferidos para contas externas ou foram entregues em dinheiro por ordem do senhor Luiz Felipe Denucci Martins", responde a WIT.

A empresa cobra ainda o "reembolso imediato" de US$ 14 mil, referente a suposto saldo negativo "das contas".

A "offshore" em nome de Ana Gabriela Denucci foi aberta em 2010, quando o pai já estava no comando da Casa da Moeda. Denucci disse em à Folha que sua filha não trabalha atualmente.

Gabriela é sócia do pai numa empresa no Brasil e também administra a "offshore" Helmond Commercial LLC, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal, em nome de Denucci.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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