Dirigentes petistas protestam contra apoio do prefeito de SP à candidatura de Haddad; Lula é a favor do acordo
Tatiana Farah
SÃO PAULO. O aceno de apoio do prefeito Gilberto Kassab (PSD) à candidatura do ex-ministro petista Fernando Haddad na campanha paulistana tem causado fissuras no PT. A aliança é defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por nomes nacionais do partido, como o líder do PT na Câmara, Candido Vaccarezza, mas rejeitada pela base. O racha ficou evidente com a vaia a Kassab na sexta-feira e foi agravado por protestos petistas anteontem.
"Ê, Haddad, não queremos o Kassab", entoavam dirigentes locais do partido, na noite de anteontem, na festa que marcou os 32 anos do partido em São Paulo.
Entre os cerca de 300 participantes, todos com voto na convenção municipal que decidirá sobre a aliança no dia 2 de junho, dezenas usavam adesivos com o "veto" ao prefeito do PSD. A manifestação ocorreu um dia depois de Kassab ser vaiado na festa do PT em Brasília.
Para os dirigentes do PT, o protesto em São Paulo é mais grave que a vaia em Brasília porque partiu de lideranças locais.
À plateia de sábado, Haddad afirmou que a militância havia mandado "um recado de preocupação, mas ao mesmo tempo de esperança". E reafirmou em discurso o que havia conversado privadamente com Kassab em Brasília, que o patrimônio petista era sua própria unidade. Unidade agora ameaçada pela proposta de apoio do prefeito.
— Eu disse a ele (Kassab) que o patrimônio que tenho pra disputar essa eleição é o PT unido e com vontade de ganhar as eleições.
Ele compreende. Se nós não preservarmos nossa unidade, não temos chance de vitória — disse Haddad, afirmando que a unidade é "um patrimônio que precisa ser preservado antes de qualquer outro".
Kassab não foi à festa paulistana, mas era o nome mais citado, e criticado, entre os participantes.
O resultado foi o constrangimento de Haddad, que, a cada cumprimento, era questionado sobre o prefeito.
— O prefeito fez um gesto que, na minha opinião, não foi bem compreendido. Ele hierarquizou prioridades de maneira muito transparente. Ele não disse ao PT que estava pronto pra uma aliança neste momento — disse Haddad, lembrando que o partido é a terceira opção de Kassab e sua prioridade é o apoio a eventual candidatura do tucano José Serra, seu padrinho político.
As manifestações públicas da senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, que disse não subir em palanque com Kassab, acirraram os ânimos petistas, embora Haddad tenha feito questão de dizer que tem "120% de certeza" de que a senadora se engajará em sua campanha. Por outro lado, a pressão forte feita por Lula, Vaccarezza, o presidente do PT estadual, deputado Edinho Silva, e o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, tem deixado dirigentes municipais incomodados.
— Kassab está causando um constrangimento ao PT. Saímos unidos de um processo que caminhava para as prévias e isso vai causar tumulto — disse o deputado Carlos Zarattini, que desistiu da prévia, a pedido de Lula, para fortalecer a candidatura de Haddad.
Tanto os que defendem Kassab quanto seus opositores acreditam que, ao encerrar o tratamento contra o câncer na laringe, Lula vá fazer manifestações públicas de apoio à aliança.
Já a presidente Dilma Rousseff não se posicionou. A expectativa é que ela atue pouco na campanha municipal.
— Se Lula entrar de cabeça, ele vira o jogo. Mas a vaia e esse protesto sinalizam que a situação não está fácil — disse um alto dirigente municipal.
Defensor da aliança, o deputado Vicente Candido afirmou: — Achei a vaia deselegante, mas era de se esperar. Estamos construindo uma aproximação.
O governo Kassab não é marcado pela corrupção. É conservador, mas tem boas práticas.
Em entrevista sábado, Kassab minimizou a vaia e o protesto de Marta, que sequer participou da festa em Brasília.
Ele disse ter sido bem recebido pelos dirigentes e por parte expressiva da militância, não se sentindo constrangido: — É natural que alguns entendam que seja difícil essa aliança.
Em nada abala o respeito que temos pelo PT, as alianças que temos no plano nacional e a continuidade do diálogo.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário