segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BNDES e fundos se unem na privatização

Ação busca garantir investimentos nas concessões promovidas pelo governo Dilma

Alexandre Rodrigues, Monica Ciarelli

RIO - O papel decisivo dos três maiores fundos de pensão do País e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no sucesso do leilão das concessões dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília reforçou a intenção do governo de usá-los cada vez mais como instrumento para viabilizar investimentos em infraestrutura com a participação da iniciativa privada.

A exemplo do modelo de privatizações do governo Fernando Henrique, a gestão de Dilma Rousseff aposta na dobradinha entre os fundos e o banco de fomento para acelerar projetos nas áreas de energia, transportes e logística como forma de sustentar o crescimento da economia brasileira em meio à recuperação lenta do cenário internacional. E trabalha para aproximá-los cada vez mais.

Juntos, Funcef (dos funcionários da Caixa), Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobrás) administram um patrimônio de mais de R$ 240 bilhões.

Com a tendência de queda dos juros, eles precisam de investimentos mais atraentes do que títulos públicos para sustentar o pagamento de benefícios futuros. Do outro lado, uma das principais deficiências do País é falta capital de longo prazo para financiar projetos como ferrovias, rodovias, portos, usinas hidrelétricas, que hoje se equilibram nos ombros do BNDES.

Evidência da atuação conjunta e orquestrada foi a nomeação, na semana passada, do ex-presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, para a diretoria de Inclusão Social do BNDES. Ele ficará à frente dos financiamentos para projetos para a Copa do Mundo de 2014, como estádios, hotéis e projetos de mobilidade urbana, que já somam mais de R$ 4 bilhões na carteira do banco. Também responderá pelo crédito a projetos de Estados e municípios em áreas críticas como saneamento básico.

Segundo fontes do governo, Lacerda foi uma indicação do PT apresentada pelo Planalto ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, não só por seu currículo, apreciado pela presidente Dilma Rousseff, mas por sua experiência na Funcef e trânsito livre nas demais fundações, o que interessa ao banco. A chegada dele vai intensificar um relacionamento que já é muito próximo.

Ação do BNDES. O BNDES mapeou uma demanda de quase R$ 400 bilhões para projetos de infraestrutura no País nos próximos quatro anos. Em 2011, o banco emprestou R$ 140 bilhões, 40% para infraestrutura, mas sabe que não poderá seguir crescendo mesmo com a política de empréstimos do Tesouro.

O plano do governo é conter o BNDES para usá-lo como formulador de modelos de concessão e fator de redução de risco no financiamento de grandes projetos. Por outro lado, quer usar as fundações para engordar consórcios e fundos de investimentos, atraindo mais investidores privados para os leilões ou para o mercado de títulos para infraestrutura, como as emissões de debêntures que o BNDES já estimula.

O leilão dos aeroportos se tornou o exemplo mais bem-sucedido desse modelo. Ele nasceu na área de projetos do BNDES quando o ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, ainda era diretor de infraestrutura do banco. Analistas e técnicos que participaram dos estudos ouvidos pelo Estado apontaram o crédito barato do BNDES para até 80% dos investimentos nos terminais como um fator decisivo nas contas dos consórcios que resultaram num ágio médio de 347% e arrecadação de R$ 24,7 bilhões.

Também contribuiu para a competitividade do pregão a ação da Invepar, companhia de transportes que reúne os três fundos de pensão e a construtora OAS. Em parceria com a sul-africana ACSA, a empresa acabou ficando com o terminal mais cobiçado, o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, num lance de R$ 16,2 bilhões. A performance não foi uma surpresa no governo.

Uma fonte que acompanha as conversas frequentes entre os fundos e o BNDES revelou que o banco chegou a duvidar da capacidade da Invepar, mas tranquilizou o governo depois de verificar os números da empresa.

Modelo petista se assemelha ao do governo tucano

Fundos começaram a entrar em ex-estatais no governo FHC; agora, Dilma pretende levá-los para a infraestrutura

Embora o sucesso do leilão tenha provocado um tiroteio político entre tucanos e petistas sobre diferenças e semelhanças no jeito de cada um privatizar, a atração dos fundos de pensão e do BNDES para os processos de concessão de projetos de infraestrutura para a iniciativa privada no governo Dilma se beneficia de um modelo reforçado no governo de Fernando Henrique Cardoso.

É a musculatura que adquiriram no governo tucano como sócios de ex-estatais como a Vale que os fundos de pensão colocam agora a serviço da administração petista, que pretende canalizá-la agora para a área de infraestrutura. Maior fundação de previdência das estatais, a Previ tem hoje participações em mais de 50 empresas e um patrimônio superior a R$ 142 bilhões.

Os fundos já têm uma forte presença na área de transportes, energia, telefonia e logística como sócios influentes de companhias como Neoenergia, CPFL, Oi, Login, ALL, Cemig. Nesses negócios, aprofundam relações com grupos privados, estatais e governos que abrem possibilidades infinitas de associações e permitem ao governo influenciar cada vez mais o meio empresarial.

Além disso, as fundações investem em fundos de private equity que colecionam participações em empreendimentos que vão de termelétricas a estacionamentos. Em entrevista ao Estado pouco depois do leilão dos aeroportos, o diretor de Participações da Previ, Marco Geovanne Tobias da Silva, disse que a infraestrutura é cada vez mais atraente pelo retorno crescente de longo prazo.
Símbolo. De acordo com Silva, a conquista do aeroporto de Guarulhos pela Invepar, no qual a Previ é sócia de Petros e Funcef, alimentou o apetite de ampliação do portfólio, que já inclui o metrô do Rio e rodovias. 

"A empresa mudou de patamar, dobra de tamanho em 2013", comemorou, recusando a suspeita de que o lance vencedor de R$ 16,2 milhões pode ter sido alto demais

"Não foi nenhum tiroteio ou um valor impensado. Nesse setor há um potencial muito grande. Se déssemos um lance para levar barato, correríamos o risco de ficar fora da disputa", disse Silva.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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