O fim da greve dos PMs da Bahia e o início claudicante, porque sufocado, do levante no Rio podem dar a falsa impressão de que o problema está resolvido.
O vazamento das escutas telefônicas, que desnudaram tramas e crimes cometidos para dar visibilidade ao protesto, causou indignação no telespectador, não na tropa. Os sindicalistas perderam qualquer possibilidade de sensibilizar o público para suas reivindicações, mas não o respaldo da categoria.
Isso porque a questão salarial segue pendente. A disparidade chega a quase 200%: um soldado da PM ganha R$ 1.600 no Rio Grande do Sul, contra R$ 4.600 no Distrito Federal. A emenda constitucional (PEC 300) que cria um piso nacional não é apenas peça de chantagem. Trata-se de proposta legítima e fundamentada na realidade.
Também o calendário continua a favor dos sindicatos. Rio+20, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíada, os grandes eventos internacionais renovarão as chances de emparedar União e Estados.
Mais: os PMs não estão sozinhos no funcionalismo. Muitas categorias torcem para que eles façam um primeiro rombo no casco das finanças de Dilma. Policiais federais e agentes penitenciários, por exemplo, acompanham o caso com atenção.
E há as Forças Armadas. Por muito tempo, elas resistiram à ideia de patrulhar ruas. Hoje, muitos militares constatam que o combate à violência nas cidades pode representar uma oportunidade de sair da irrelevância e conquistar espaço orçamentário. Os PMs rebelados são bois de piranha nesse roteiro.
O Palácio do Planalto, que de início se meteu na crise apenas para tirar do sufoco um governador do partido da presidente, parece ter, com o passar dos dias, percebido os riscos potenciais. Não faz mais sentido se esconder na Constituição e tratar da segurança pública como problema exclusivo dos Estados.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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