Se a conta de luz ficar
mais barata para o consumidor, estados perderão R$ 5,5 bi em arrecadação.
Ninguém
quer pagar a conta
Governadores reclamam de perda de arrecadação com pacote para reduzir tarifa
elétrica
Danilo Fariello
BRASÍLIA - As empresas de energia elétrica contrárias às condições para
renovar seus contratos de concessão no âmbito da medida provisória (MP) 579 -
que prevê novas regras para o setor com o objetivo de reduzir as tarifas -
ganharam ontem o apoio dos governadores. Eles reclamam da queda de arrecadação
de ICMS nos estados e o consequente menor repasse para os municípios devido à
redução no valor das tarifas. Como o governo quer cortar as tarifas de
eletricidade em 20%, em média, e os estados têm arrecadação de R$ 27,5 bilhões
prevista com os tributos sobre a energia, eles estimam perda anual de R$ 5,5
bilhões na arrecadação. Minas Gerais, Paraná e São Paulo também são acionistas
de companhias energéticas, o que reforça a reclamação desses estados.
Em audiência pública para debater a MP no Congresso, os governantes
reconheceram os benefícios para o país com a queda das tarifas de energia, mas
pediram compensações da União ao rombo que a medida imporá aos estados e
municípios, decorrente da queda na arrecadação do ICMS. A ideia é retomar a discussão
sobre a revisão das condições das dívidas mantidas pelos estados junto à União.
O vice-governador do Rio, Luis Fernando Pezão, disse que o governo do estado
perderá R$ 468 milhões ao ano em arrecadação do ICMS com as medidas.
- Perder R$ 500 milhões é uma tragédia para qualquer estado brasileiro,
porque tem de fazer esforços na segurança, saúde e educação. Acrescida com a
perda dos royalties do petróleo, é a falência total do estado - disse Pezão.
O secretário de energia de São Paulo, José Aníbal, que preside o Fórum
Nacional dos Secretários de Estado para Assuntos de Energia, disse ter a
esperança de que emendas apresentadas no Congresso façam com que a medida tenha
maior convergência em relação aos pleitos dos estados. Eles querem que a maior
parte dessa queda seja sustentada por reduções de encargos ou compensada pelo
governo federal.
Segundo Antonio Anastasia, governador de Minas Gerais, 10% da arrecadação do
estado em ICMS provêm das contas de luz, o que significa um valor anual de R$ 2,5
bilhões. Com a mudança, o estado perderia arrecadação de cerca de R$ 500
milhões. Lindolfo Zimmer, presidente da Copel, estatal paranaense de energia,
disse que a perda de receita com ICMS do estado ficaria em R$ 452 milhões.
Aníbal disse que São Paulo perderia cerca de R$ 1,2 bilhão:
- Há quase uma intimidação, e não se fala disso. É preciso que a gente abra
esse diálogo.
Estados pedem revisão de dívida com a União
Pezão enfatizou a possibilidade de se compensar a perda de arrecadação com
compensações nas discussões sobre a revisão das dívidas dos estados com a
União:
- Temos uma taxa hoje no estoque da nossa dívida que está fora de qualquer
padrão concebível para os números que o Brasil pratica.
Para o vice-governador do Rio, além de discutir o alongamento da dívida dos
estados e a redução das taxas de correção desses valores, o governo tem de
pensar em compensações à perda de arrecadação do ICMS, o que poderia ser feito
com maiores repasses da Cofins.
- Não dá mais para se discutir redução de receitas ou aumento de despesas
dos estados sem que eles participem dessa discussão - disse Simão Jatene,
governador do Pará.
Os governadores também defenderam que as empresas tenham um prazo além do
dia 4 de dezembro para decidir se renovam suas concessões pelas novas regras.
Uma emenda apresentada dá o prazo de 30 dias para decisão após a sanção do
texto.
Anastasia ainda defendeu o direito da Cemig à renovação automática do
contrato de três usinas que enfrentam o primeiro vencimento, uma vez que todas
as anteriores foram renovadas. Aníbal tem o mesmo pleito para a usina de Três
Irmãos, da Cesp e, como aventado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), considerou
a hipótese de reclamação do direito da Cesp na Justiça.
- Se não chegarmos ao entendimento, vamos fazer também recursos na área
jurídica - disse Aníbal.
Fonte: O Globo
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