O título desse artigo é uma paráfrase à tese do escritor Ariano
Suassuna sobre a Cultura Popular do Nordeste. Como o escritor paraibano (de
Taperoá) é muito prestigiado pelo governador Eduardo de Acioly Campos e aliado
da presidente Dilma Rousseff, achei apropriado iniciar este comentário sobre o
modelo de inclusão social do PT (do novo PT?), com essa paráfrase.
Em
primeiro lugar, é possível falar em novo PT a partir de uma nova forma de
gestão no Brasil, iniciada pela atual presidenta da República, de que seria a mais nova manifestação a eleição
do ex-ministro Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo? – É preciso
considerar, antes de responder essa questão, os pilares em que se assenta tanto
o modelo econômico (virtuoso?), como a natureza (republicana?) das alianças e
coligações que sustentam e permitem a eleição de tais candidatos petistas.
Vejamos quais são as características desse modelo “redistributivo” do PT
posto em prática a partir das sucessivas reduções de IPI e do abundante crédito
subsidiado para o consumidor (a nova classe média?). Como considerar virtuoso um modelo de
“lesa-federação”, que faz cortesia com o chapéu alheio, ao renunciar unilateralmente a cobrança de
impostos, que teriam de ser
obrigatoriamente compartilhado com estados e municípios, num contexto de
imensas necessidades sociais e de crescentes expectativas dos cidadãos pela
prestação pública-estatal de bens juridicamente tutelados pelo Estado
(educação, saúde, segurança, esgotamento sanitário, habitação popular,
transporte público etc.)? Só se fôr uma redistribuição de cabeça para baixo:
tirar de quem não tem, para dar a quem tem muito. Neste sentido, não compreende
como o banco de fomento e empréstimo a logo prazo, como o BNDES, empresta
30.000.000,00, e o governo do estado isenta por 7 anos a cobrança de ICMS um
grupo econômico privado, cujas atividades se destinam a uma clientela de alto
poder aquisitivo? Mais problemático é a torrente de crédito ao consumidor para
a aquisição de produtos da chamada
“linha branca”, imóveis e automóveis, ajudando às “pobres” empresas montadoras
multinacionais a “desovar” seus estoques. Disse um analista. Comentando os
milagres dessa política econômica, que se trata de uma modalidade de
capitalismo de Estado (com semelhança ao da China), destinado a usar o fundo
público para alavancar a economia do pais (?), enquanto a crise internacional
não passa. De quebra, teriamos uma nova classe média (53 milhões de pessoas)
disposta a comprar tudo e a votar no governo. E que o resto, seria preconceito
da “velha classe média” contra esse fabuloso modelo de inclusão social, via
crédito, renúncia fiscal e acesso a bens de consumo duráveis.
Faltou dizer que a qualidade dos serviços públicos (e o financiamento
das políticas públicas) como forma republicana de inclusão social foi deixada de lado por este autêntico “American way life”. Daí essa
caótica e infernal urbanização _ paraíso da especulação imobiliária - vertical, que vem transformando as nossas
cidades em reservatório de lixo, calor, barulho e incivilidade. Modelo que
celebra festivamente o casamento dos
gestores públicos com agentes e promotores do tal “desenvolvimento econômico”
sustentável. Seria isso a que chamam “choque de gestão”: privatizar serviços
públicos e vender o estado e a cidade a empresários, investidores, turistas e
outros?
Por essas e por outras, se é para falar do novo PT, do novo modo de
governar e de um novo modelo econômico-social no Brasil, só se fôr através
do malogro – mais uma vez – de uma
verdadeira épica popular.
Michel Zaidan Filho,sociólogo, historiador é professor da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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