Na despedida do CNJ, ministro se queixa da remuneração
Evandro Éboli
Entre lágrimas. Emocionado, Ayres Britto faz o seu discurso de despedida
BRASÍLIA - Na sua despedida da presidência do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto,
chorou e, num desabafo, discursou em defesa da corporação. Ele afirmou ontem
que o Poder Judiciário é o mais exigido e o menos perdoado. E disse que os
integrantes desse setor não são bem remunerados e sofrem privações por não
poder fazer greve, nem ter cargos de confiança a seu dispor:
- O Poder Judiciário é o mais cobrado, o mais exigido e o menos perdoado. E
o mais sacrificado em vedações. Não pode fazer greve. Não pode se sindicalizar.
Não tem hora extraordinária. Não tem cargo de confiança e não tem autonomia
financeira. É o único que se aposenta obrigatoriamente aos 70 anos - disse: - O
Judiciário é o fiador da Constituição. Quando o Poder Judiciário não se faz
confiável, a autoestima coletiva desaba. Há desmando e desgoverno em outros
Poderes. Mas no Judiciário é inconcebível. E não é tratado remunerativamente no
superlativo de seu papel.
Ele ainda criticou a situação do Judiciário brasileiro frente ao de outros
países:
- Sempre nos comparam com outros países. Mas (no exterior) o sistema de
saúde é pago, o sistema de educação é pago. O valor de um carro lá é um terço a
menos que no Brasil. Com salário de US$ 10 mil (no exterior) se tem alta
qualidade de vida - afirmou Britto, que citou Brasília como uma cidade com alto
custo de vida.
No balanço de sua passagem pelo Judiciário, Britto, que completa 70 anos no
domingo e se aposentará compulsoriamente, afirmou que a Justiça brasileira é de
vanguarda. Sem citar o julgamento do mensalão, disse que o STF vem mudando a
cultura do Brasil:
- Estamos inaugurando eras, quebrando paradigmas e acabando com ideias
mortas - afirmou, citando aprovação de casos envolvendo células-tronco,
nepotismo, liberdade de imprensa, direito do aborto de anencéfalo e da
liberação da Marcha da Maconha: - É um novo Poder Judiciário, de vanguarda.
Britto comentou sua saída do STF:
- Não digo que sinto saudade. Não é bem isso. A sensação é que não perdi a
viagem. Fiz tudo com devoção. Saio sem nostalgia e tristeza.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário