Marina Gazzoni, Vinícius Neder
SÃO PAULO, RIO - A GraalBio, empresa fundada em maio do ano passado pelo empresário Bernardo Gradin, anunciou ontem que terá como sócio o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa vendeu uma participação de 15% para o BNDESPar, o braço de participações do banco, em troca de um aporte de R$ 600 milhões.
Os recursos serão usados para financiar o plano de investimentos da empresa, estimado em R$ 4 bilhões em sete anos. A GraalBio pretende ser a primeira produtora brasileira de etanol de segunda geração (feito com resíduos de cana, como o bagaço) em escala industrial.
A primeira fábrica está em construção em São Miguel dos Campos (AL) e deverá iniciar a produção no início de 2014. Para construir a unidade, a GraalBio recebeu um empréstimo de R$ 350 milhões do próprio BNDES, dentro do Programa de Apoio à Inovação dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (Paiss), que também liberou crédito a cerca de 35 empresas.
Meses após a entrada da GraalBio no programa, o BNDES convidou Gradin para uma conversa para avaliar de que forma o banco poderia participar mais do negócio, segundo o empresário. "A melhor forma de acelerar um projeto é a combinação inteligente entre capital de sócios e dívida", disse Gradin.
O plano de investimentos da empresa prevê um desembolso de R$ 1 bilhão dos sócios, R$ 2,5 bilhões em financiamentos captados por projetos e R$ 500 milhões em reinvestimento de dividendos. A GraalBio planeja construir até 2020 dez fábricas de etanol de segunda geração, duas de bioquímicos e duas flexíveis, que podem produzir tanto etanol quanto bioquímicos.
Em uma primeira fase, a GraalBio produzirá etanol usando bagaço de cana e palha de trigo como matéria-prima. A empresa também investe em desenvolvimento genético para produzir uma cana com mais fibras - consequentemente, mais eficiente. "Já existe viabilidade técnica e econômica para o negócio. Mas a produtividade evoluirá gradativamente", disse Gradin.
A empresa também está em contato com indústrias químicas para fechar joint ventures na produção de bioquímicos.
Parceria. O BNDES justificou o investimento por considerar que a GraalBio "será uma plataforma de inovação permanente". "Os projetos da empresa possuem vários méritos, que levaram o BNDESPar a ingressar como seu acionista. A GraalBio vai gerar tecnologias de ponta no aproveitamento da biomassa da cana, potencializando a vantagem competitiva natural do País no setor", disse o banco, em nota.
Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, o investimento do banco em participações de empresas não é um problema, desde que seu desenvolvimento seja estratégico para o País. "O que falta é transparência de quais são os critérios para a realização desses investimentos", disse.
O aporte para comprar 15% da GraalBio faz parte de um conjunto de três investimentos que o BNDES vislumbrava no fim de 2012 em empresas iniciantes. O banco estudava também apoiar uma empresa da cadeia do petróleo e uma fabricante de equipamentos para telecomunicações, disse ao Estado em novembro o superintendente da Área de Capital Empreendedor do BNDES, Luiz Souto. A perspectiva do banco era aplicar cerca de R$ 2 bilhões nesses segmentos.
Em 2012, até novembro, o BNDES investiu cerca de R$ 500 milhões em cinco operações envolvendo empresas iniciantes. O destaque foi o aporte de R$ 245 milhões para ter 33% na SIX Semicondutores, fabricante de chips do bilionário Eike Batista.
Biocombustíveis
Empresa, que fabricará etanol de segunda geração, usando bagaço de cana, por exemplo, prevê investir um total de R$ 4 bilhões ao longo de sete anos e já iniciou a construção de sua primeira fábrica, em São Miguel dos Campos (AL)
Fonte: O Estado de S. Paulo
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