"Com a sucessão aberta, os tucanos precisam montar o jogo. E Dilma, com o jogo quase feito, precisa montar o portofolio de realizações que irá apresenta"
Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff envergou pela primeira vez a fantasia de candidata à reeleição. Tanto no discurso como na indumentária nordestina. Ontem, o PT seguiu abrindo o jogo para a eleição presidencial de 2014. Durante o encontro de intelectuais latino-americanos com o ex-presidente Lula, no instituto que leva seu nome, dois anúncios foram feitos por arqueiros de sua confiança. O primeiro, por Paulo Okamoto: “Nossa candidata para 2014 chama-se Dilma Rousseff”. O ex-ministro Paulo Vanucchi acrescentou depois que Lula não será candidato a presidente nem a governador de São Paulo, duas cogitações recorrentes desde que ele voltou à cena política.
Da equipe de Lula vem também a informação de que a prioridade dele, este ano, são as viagens pelo Brasil, embora não devam ter nem o nome nem o formato das antigas caravanas que ele fazia. Tudo combinado, a leitura é simples. Dilma será candidata e cuidará mais e diretamente da campanha, mas Lula estará livre e solto para atuar como grande eleitor, agora sem as limitações do cargo e da liturgia, como em 2010, quando era presidente de dia e cabo eleitoral à noite.
A coalizão governista largou na frente, enquanto o maior partido de oposição ainda busca agulha e linha para a costura interna em torno de Aécio Neves, que, na semana que vem, deve encontrar-se com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com o ex-governador José Serra. Vai colocar guizos nos gatos paulistas. Alckmin será chamado a sair do muro, deixando o discurso de que é cedo para lançar candidato a presidente. Aécio deve dizer-lhe que, se ele quer ser candidato, terá o apoio de Minas, vale dizer, o dele. Mas que, se vai disputar a reeleição, que se posicione logo. Afinal, Dilma, já tão favorecida por disputar no cargo — receita que o PT herdou dos tucanos com a emenda da reeleição —, já está na estrada. Com Serra, a conversa deve ser mais complicada. Ele não desistiu de disputar a Presidência e não aceita ser excluído apenas porque já perdeu duas vezes. Lula não ganhou na quarta tentativa? Deixa circular os rumores de que poderia deixar o PSDB porque sabe o quanto isso seria letal para a candidatura de Aécio ou de qualquer outro.
Outras candidaturas surgirão, talvez a de Marina Silva, talvez a de Fernando Gabeira. Só uma, a de Eduardo Campos, do PSB, pode realmente afetar a polarização PT-PSDB. Mas, este ano, ninguém saberá se ele concorrerá ou não contra Dilma.
Assim, quem tem desafios imediatos são os dois partidos polares. O PSDB precisa montar logo seu jogo. Dilma terá um cabo eleitoral forte e lidera uma grande coalizão, mas precisa montar o portofolio de realizações. Por ora, o crescimento econômico foi tímido e as grandes obras físicas em execução são originárias da era Lula. Por isso, o sucesso dos próximos leilões na área de infraestrutura são decisivos para ela. Na política social, embora ela tenha agregado iniciativas como a do Brasil Carinhoso, a marca forte ainda é de Lula. A melhor agenda de Dilma, até agora, é a democrática, na qual se destacam a Comissão da Verdade e a Lei de Acesso à Informação. Uma agenda relevante, mas que não dá votos.
Realismo
O deputado Sandro Mabel, um dos três candidatos ao posto de líder do PMDB na Câmara, esteve ontem com o vice-presidente Michel Temer. Disse o mesmo que seu rival Eduardo Cunha: que já tem a maioria dos votos e vencerá a disputa.
Veremos depois da apuração, no próximo dia 3, mas um velho cardeal peemedebista traz uma lição de realismo político: deputado não vota em líder que poderá ter dificuldade para liberar suas emendas orçamentárias. Deputados vivem disso, de prestar favores aos eleitores. E quem encaminha o pedido de liberação dos recursos é o líder. Dilma não gosta de Cunha. Logo, Mabel pode estar certo. É uma leitura, embora ela já dito um “nada contra” sobre Cunha na conversa da semana passada com seu vice. Candidata à reeleição, Dilma deve mesmo é seguir a máxima de Nelson Rodrigues, aceitando a política como ela é. Jogará com quem ganhar.
Tira-prova
Quem não desconfia de que seu provedor de internet banda larga não entrega o serviço com a velocidade contratada? A Anatel, finalmente, resolveu fiscalizar a qualidade do serviço, implantando medidores nas conexões dos usuários que se oferecerem como voluntários para a pesquisa. Os dados coletados indicarão as medidas a serem tomadas. A participação dos consumidores, portanto, é decisiva para o sucesso da iniciativa. Os voluntários devem se cadastrar em www.brasilbandalarga.com.br. Vamos lá.
De cara com o crack
Começou a ser executada ontem a politica de internação compulsória de dependentes de crack adotada apelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Como nada no Brasil é pacífico, entraram em campo Organizações não-governamentais e movimentos de direitos humanos falando em “assepsia social” e “higienização”, palavreado que remete a experiências dolorosas de limpeza étnica e segregação. Mas os que conhecem a tragédia do crack, os terapeutas e os familiares, apoiam a iniciativa do Estado, de evitar que os “noiados” continuem se matando a céu aberto, diante de um mundo indiferente. A doutora Esther Jiraldi é uma pioneira no assunto em Brasília. Depois de muito aprender lá for a, a que fundou e dirige a clínica Mansão Vida, onde cobra de quem pode e acolhe quem não pode. Diz ela: “Aquelas pessoas já perderam qualquer consciência de si. Delas não se pode esperar qualquer iniciativa para a auto-salvação. A chance de recuperação que elas têm é zero. A internação compulsória nem sempre dará resultados. Dará com uns, com outros não. Fatores diversos entram nesta equação. Mas o Estado tem a obrigação de oferecer alguma chance de salvação a estas pessoas.”
Fonte: Correio Braziliense
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